Topo

Novos confrontos deixam 31 mortos no Egito após sentença de morte

Manifestantes protestam ao redor de ambulância que carregava o corpo de uma pessoa que morreu em confrontos com a polícia, em Suez, no Egito - Reuters
Manifestantes protestam ao redor de ambulância que carregava o corpo de uma pessoa que morreu em confrontos com a polícia, em Suez, no Egito Imagem: Reuters

Do UOL, em São Paulo

26/01/2013 13h41

Ao menos 31 pessoas morreram e mais de 250 ficaram feridas neste sábado (26) nos confrontos em Port Said desencadeados depois que 21 pessoas foram condenadas à pena de morte pelos atos de violência que deixaram 74 mortos há um ano em um estádio de futebol desta cidade do nordeste do Egito.

Estes confrontos ocorreram um dia após o segundo aniversário da revolução que depôs o então presidente Hosni Mubarak, cuja celebração também foi marcada pela violência entre manifestantes e policiais, com nove mortos e 530 feridos, segundo fontes médicas.

O diretor do departamento de hospitais na delegação do Ministério da Saúde em Port Said, Abderrahman Farah, explicou que o número de feridos passa de 300 e que estão sendo levados a todos os hospitais da cidade.


"Ainda estamos recebendo feridos, mas de uma maneira menos intensa que durante a manhã", disse Farah, que acrescentou que a maioria foi atingida por tiros.

Entre os mortos se encontram o jogador Mohammed al Dadui, que joga em um clube local da segunda divisão egípcia, e o ex-goleiro da equipe Al Masry, Tamer al Fahla, que conquistou a Copa do Egito de 1998, segundo a agência oficial "Mena".

Muitos feridos já chegaram mortos aos centros médicos, assinalou Farah, que acrescentou que as vítimas apresentavam "além de marcas de balas, fraturas e cortes".

Confronto

As mortes ocorreram nos confrontos registrados depois que parentes dos condenados à morte tentaram invadir a prisão na qual eles se encontravam. Várias pessoas dispararam contra a polícia, que respondeu com o lançamento de bombas de gás lacrimogêneo, segundo testemunhas.

Duas delegacias de polícia foram atacadas e foram ouvidos diversos disparos, indicou um correspondente da AFP no local.

Há confrontos violentos e sangrentos em Port Said, onde a prisão e o tribunal eram alvos de disparos com armas automáticas, indicou o ministério do Interior.

Um general do exército anunciou a mobilização dos militares na cidade para restabelecer a calma e proteger as instalações públicas, segundo a agência Mena.

No Cairo, os familiares das vítimas que se encontravam na sala de audiências receberam o veredicto com gritos de alegria. Um homem que perdeu seu filho chorava de alegria. "Estou satisfeito com o veredicto", disse à AFP.

Mais acusados

No dia 9 de março, o presidente do tribunal divulgará a sentença para os outros 52 acusados, entre eles nove policiais, julgados desde abril de 2012 por sua suposta responsabilidade nestes anos.

Em fevereiro de 2012, 74 pessoas morreram em Port Said após uma partida de futebol entre o grande clube do Cairo, o Al-Ahly, e uma equipe local, o Al-Masry.

Esta tragédia, a maior do futebol egípcio, ocorreu no estádio de Port Said, depois que o Al-Ahly sofreu sua primeira derrota da temporada para o Al-Masry (3-1). Centenas de seguidores do Al-Masry invadiram o campo e lançaram pedras e garrafas contra os torcedores do Al-Ahly.

Os acusados negaram as acusações de homicídio doloso e de porte ilegal de armas que pesavam sobre eles.

A torcida organizada do Al-Ahly, que afirma que a maioria das vítimas procediam de suas fileiras, ameaçou as autoridades dizendo que iria provocar o caos se o veredicto não fosse severo.

A torcida do Al-Ahly é conhecida por seu apoio ativo à revolta popular, que, no início de 2011, provocou a queda do então presidente Hosni Mubarak.

Boicote às eleições presidenciais

Após os confrontos mortais que ocorreram na sexta-feira durante a celebração do segundo aniversário da revolução, o exército mobilizou homens e tanques leves para proteger os edifícios da polícia e do governo em Suez, onde oito pessoas morreram.

O canal de Suez, via estratégica de água que une o Mar Mediterrâneo ao Mar Vermelho, não foi afetado por estes confrontos, indicou o organismo encarregado deste importante eixo do tráfego marítimo mundial.

Um porta-voz da Autoridade do canal de Suez declarou à AFP que "o canal não está afetado" por estes acontecimentos e acrescentou que 44 navios o atravessaram neste sábado ao meio-dia.

Em outros locais do país, especialmente nos arredores da praça Tahrir do Cairo e em Alexandria (norte), também ocorreram manifestações e confrontos durante a celebração do segundo aniversário.

Em Ismailiya (nordeste), os manifestantes incendiaram a sede local do Partido da Liberdade e Justiça (PLJ), o grupo político da Irmandade Muçulmana, e invadiram a sede do governo.

A oposição egípcia ameaçou neste sábado boicotar as próximas eleições legislativas se os islamitas no poder não aplicarem uma solução global para a crise que o país sofre, sobretudo a formação de um governo de "salvação nacional".

Em um comunicado, a Frente de Salvação Nacional (FSN), principal coalizão opositora, também atribui ao presidente Mohamed Mursi "toda a responsabilidade pela força excessiva empregada pelos serviços de segurança contra os manifestantes".

Mursi, por sua vez, convocou seus compatriotas a rejeitarem a violência e prometeu que os responsáveis por estes confrontos mortais serão levados à justiça, em mensagens publicadas durante a noite em suas contas do Twitter e Facebook.

A ira dos manifestantes está dirigida contra Mursi e a Irmandade Muçulmana, grupo do qual o presidente faz parte, acusado de ter fracassado na revolução que lhe permitiu chegar ao poder pela primeira vez através de eleições presidenciais democráticas.