Cidade de dom Odilo vive clima que mistura decepção e alívio
Um misto de decepção e alívio. A prefeitura e os comerciantes de Cerro Largo (515 km de Porto Alegre), no noroeste gaúcho, esperavam que, com a eleição de dom Odilo Scherer, a cidade saltasse 50 anos no tempo em seu desenvolvimento. Já para os familiares do arcebispo de São Paulo, embora tristes com a notícia de que Odilo não foi escolhido papa, isso significa que agora suas vidas podem voltar à calma rotina de trabalho, sem repórteres, fotógrafos e equipes de TV espalhadas pela cidade.
"Como bons católicos, continuamos rezando e sendo praticantes. Torcemos muito por dom Odilo, que é um cardeal jovem e, quem sabe, pode concorrer novamente e até ser escolhido", disse a prima de dom Odilo, a agricultora Rosane Scherer.
Assim que o nome do novo papa foi anunciado, os olhares até então fixos na televisão foram baixando. Conforme um morador da região, é difícil entender o que um alemão está sentindo. E foi com um semblante sem emoção que os famílias de dom Odilo deixaram o salão paroquial.
"A gente tinha expectativa, mas sempre pensando que eram muitos nomes que podiam ser escolhidos. Ao menos o nome do novo papa, Francisco 1º, remete à terra Natal de dom Odilo, linha São Francisco. Ficamos felizes e torcemos para que esse papa reúna a Igreja", afirmou Egon Scherer, primo de segundo grau do cardeal brasileiro.
O prefeito de Cerro Largo, René José Neder, preferiu o mesmo discurso. "Como católico, digo que foi uma boa escolha e estamos torcendo para que o novo papa conduza bem a Igreja."
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Por volta das 15h05 desta quarta-feira a programação da TV foi interrompida para uma transmissão direto do Vaticano. No salão paroquial da igreja Sagrada Família de Nazaré, em Cerro Largo, doze familiares de dom Odilo Scherer que acompanhavam as imagens a partir de um telão pareciam não respirar.
Os homens permaneciam impassíveis em frente à TV, enquanto algumas mulheres se abraçavam. Enquanto a notícia que a fumaça branca havia saído pela chaminé da capela Cistina, as pessoas da cidade foram rumando para o salão. Da escola ao lado da igreja, professoras traziam em fila turmas de crianças que engrossavam a plateia.
Em menos de 15 minutos, o silêncio dos parentes de dom Odilo que olhavam o telão foi transformado em um murmurinho incessante de cerca de 500 pessoas.
Descrença
Desde a manhã desta quarta-feira, a vigília constava com menos participantes do que no dia anterior. Parece que a indecisão dos cardeais no Vaticano tinham desencorajado a comunidade de origem alemã a interromper suas lidas diárias. Até porque o sol voltou a brilhar nesta quarta-feira e havia lavouras e animais par tomar conta.
Egon Scherer é proprietário de um pequeno bar na localidade de vila São Francisco, onde o cardeal brasileiro nasceu. Talvez seguindo os conselhos do próprio primo ilustre ele preferia um posicionamento mais neutro.
"Na última vez que o vi pessoalmente, em um encontro da família em 20 de janeiro, no Paraná, ele disse que seria no conclave apenas mais um participante. Fazia questão de não comentar essas sondagens de candidato a papa", afirma.
O carro de som que circulava pelas ruas de Cerro Largo na tarde de ontem, convidando todos para a vigília no salão paroquial à espera do anúncio do novo pontífice já não o fez mais nesta quarta. Um religioso da região, que pediu para não ter o nome revelado, já avaliava durante a missa de ontem ser difícil a escolha de dom Odilo. "Creio que eles vão acabar escolhendo um cardeal mais reformista."
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