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CNBB nega que papa Francisco tenha sido conivente com ditadura argentina

Renata Giraldi

Da Agência Brasil, no Vaticano

14/03/2013 13h31

O presidente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e arcebispo de Aparecida, dom Raymundo Damasceno, negou nesta quinta-feira (14) que o papa Francisco tenha sido omisso ou conivente com a ditadura na Argentina, entre 1966 e 1973. O arcebispo disse ter convivido com o papa Francisco em vários eventos, como por exemplo uma reunião de bispos latino-americanos em Aparecida do Norte (SP).

Segundo dom Damasceno, durante a ditadura, Jorge Mario Bergoglio era sacerdote jesuíta e as suspeitas sobre sua posição em favor da ditadura não correspondem ao temperamento dele. “Essa versão certamente não se coaduna com a verdade”, disse ele. “ele é um verdadeiro pastor, um homem de solidariedade.”

Na Argentina, no entanto, organizações de direitos humanos divulgaram ontem (13) informações de que o papa Francisco invocou o direito que há na legislação argentina de se recusar a aparecer em tribunais que julgavam torturas e assassinatos cometidos pelo governo ditatorial argentino.

Já o jornal argentino Clarín informou que o papa, ao contrário do que afirmam as organizações de direitos humanos, assumiu riscos para salvar os que lutavam contra a ditadura. Uma biografia autorizada sobre o atual papa foi escrita e chama-se O Jesuíta.

O arcebispo brasileiro ressaltou que o momento é para olhar o papa “daqui para a frente”. Dom Damasceno disse não conhecer em detalhes os aspectos da ditadura argentina. Mas que o fundamental é observar os atos do papa a partir de sua eleição.

Já o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, apelou para que seja feita uma distinção entre as denúncias de escândalos sexuais, desvio de recursos e de divisão interna da Igreja Católica Apostólica Romana. Para o arcebispo, é necessário punir os responsáveis. Dom Odilo, no entanto, evitou opinar sobre se as investigações estão entre as prioridades do papa Francisco.

O arcebispo defendeu que os responsáveis pelos desvios de comportamento sejam punidos e pediu que não se confundam indivíduos com a instituição da Igreja. “As pessoas devem ser responsabilizadas, não a instituição”, destacou.

Ao ser perguntado se as investigações serão levadas adiante pelo papa Francisco, dom Odilo evitou entrar em detalhes, mas foi incisivo: “A Igreja não aprova escândalos, nem os incentiva”. Para ele, apurar escândalos “é missão permanente dos papas. O papa Bento 16 deu a vida por isso. Tenho certeza que o papa Francisco vai continuar a fazer isso”, ressaltou.

Dom Odilo lembrou que a eleição do papa foi guiada pela inspiração do Espírito Santo, portanto Francisco saberá como agir. “A Patagônia tem muitos ventos”, disse o cardeal, lembrando da região que fica no Sul da Argentina em uma alusão ao país natal do novo papa. “O Espírito Santo sopra de onde quer e como quer.”

Disputa Brasil x Argentina

Bem-humorados, cardeais brasileiros rebateram também os boatos de que a escolha de um papa argentino vai acirrar a disputa existente entre os dois países. Dom Damasceno disse que o clima de concorrência entre Brasil e Argentina é mais folclórico do que real. De acordo com ele, o papa Francisco conhece o Brasil e gosta do país.

“Eu tenho as melhores recordações de Aparecida [do Norte, cidade no interior de São Paulo, onde ocorre peregrinação de fiéis]”, disse dom Damasceno, reproduzindo o que ouviu do papa Francisco. “No campo religioso, não há essa disputa. É uma disputa mais no futebol, no folclore do que na realidade.”

Quando era o cardeal Jorge Mario Bergoglio, de Buenos Aires (Argentina), o papa Francisco esteve em Aparecida do Norte (SP) para participar de uma reunião dos bispos sul-americanos. Dom Damasceno disse que ele “trabalhou intensamente e sempre em silêncio”.

Na tentativa de desfazer qualquer tentativa de mal-estar, o arcebispo de São Paulo, dom Odilo Scherer, brincou com a forma como brasileiros e argentinos se tratam. “Nos chamamos de hermanos [irmãos], não é? Então, é isso que somos: todos irmãos”, disse.

Alegria e esperança

Já o arcebispo de Brasília, dom Sergio da Rocha, disse que a Igreja tem um sentimento de alegria e esperança diante da escolha do argentino.

“A importância da figura do papa ultrapassa a pessoa que ocupa o cargo, mas nos alegramos como Igreja na América Latina e reconhecemos nesse gesto a contribuição da Igreja na América Latina para o mundo todo.”

Durante coletiva de imprensa na Cúria Metropolitana de Brasília, ele lembrou que o nome adotado por Bergoglio, Francisco, dá dimensão da simplicidade de vida e da questão missionária a serem adotadas durante o novo papado.