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Padre assassinado na ditadura argentina pode ser primeiro beatificado pelo papa

Do UOL, em São Paulo

19/03/2013 17h43

Após Jorge Mario Bergoglio, o papa Francisco, ser acusado de ter sido "omisso" ou "cúmplice" das violações de direitos humanos durante a repressão da ditadura argentina (1976 - 1983), acusações que foram chamadas de "difamatórias" pelo Vaticano, o pontífice pode beatificar um padre executado durante o regime no país, segundo o jornal argentino Clarín.

A beatificação é o primeiro passo no processo de canonização de um indivíduo.

O padre Carlos de Dios Murias foi sequestrado junto ao sacerdote francês Gabriel Longueville, em 18 de julho de 1976, na casa paroquial da cidade de Chamical, a 140 km de Buenos Aires. Ele nasceu em Córdoba, em 1945, e depois de uma passagem pela Academia Militar, abraçou a religião e foi ordenado sacerdote pelo bispo Enrique Angelelli.

No meio da noite, militares foram à procura de Murias, dizendo que deveriam interrogá-lo. Longueville interdeceu, dizendo que se levassem Murias, ele também tinha que ir. Ambos foram levados para um lugar chamado Bajo de Luca, localizado a cerca de 9 km ao sul de Chamical, onde foram espancados e torturados e, finalmente, assassinados.

Ainda quando era arcebispo de Buenos Aires, em 2011, Bergoglio deu os os primeiros passos do processo de canonização de Murias e de outros cinco clérigos assassinados na ditadura, segundo informou nesta terça-feira (19) o porta-voz do Vaticano, Frederico Lombardi.

Além de apoiar a beatificação de Murias, o agora papa Francisco apoiou a investigação para eventual canonização de um padre e quatro seminaristas assassinados na Igreja de São Patrício, em Buenos Aires. Os cinco foram mortos a tiros por um esquadrão da morte, em vingança por um atentado a bomba a guerrilheiros de esquerda.

Pedido de interrogatório sobre Longueville foi rejeitado

Uma juíza francesa pediu em 2011 uma audiência com o então cardeal Bergoglio, no âmbito da investigação sobre o homicídio do padre francês Gabriel Longueville, mas Buenos Aires nunca respondeu favoravelmente, segundo afirmou a advogada da família do sacerdote à AFP.

Sylvia Caillard, magistrada do Tribunal de Grande Instância de Paris, enviou uma comissão rogatória internacional a Buenos Aires para que o cardeal depusesse como testemunha na investigação sobre a morte do sacerdote francês Longueville.

"As autoridades argentinas não responderam positivamente à comissão rogatória em relação a Bergoglio", afirmou.

Na época, Sophie Thonon, advogada da família considerou essa audiência necessária a fim de que o arcebispo de Buenos Aires fornecesse esclarecimentos à juíza sobre a eventual existência de arquivos sobre o caso.