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"DOI-Codi é tão distante da Embaixada brasileira como céu é do inferno", afirma Dilma

A presidente Dilma Rousseff participou de sessão solene no Congresso Nacional Imagem: Pedro Ladeira/Folhapress

Camila Campanerut e Guilherme Balza

Do UOL, em Brasília

27/08/2013 13h14Atualizada em 27/08/2013 14h53

A presidente Dilma Rousseff afirmou nesta terça-feira (27), após visita ao Congresso, que a situação do senador boliviano Roger Pinto Molina, que estava asilado na Embaixada brasileira em La Paz, era muito diferente da realidade do DOI-Codi (Destacamento de Operações de Informações - Centro de Operações de Defesa Interna), aparelho da ditadura responsável pela prisão dos presos políticos no Brasil.

Governo não negocia vidas, diz Dilma sobre senador boliviano

“Um governo age para proteger a vida. Nós não estamos em situação de exceção. Não há nenhuma similaridade. Eu estive no DOI-Codi, eu sei o que é o DOI-Codi. E asseguro a vocês que é tão distante o DOI-Codi da embaixada brasileira lá em La Paz (Bolívia) como é distante o céu do inferno. Literalmente isso”, afirmou, emocionada.

Foi a primeira vez que a presidente comentou a fuga do senador, que chegou ao Brasil na madrugada de domingo, após fuga conduzida pelo diplomata Eduardo Saboia à revelia do Itamaraty, segundo o próprio. Para justificar o ato, Saboia comparou a situação de Molina na Embaixada à dos presos políticos.

"Eu me sentia como se eu tivesse um DOI-Codi ao lado da minha sala de trabalho. É um confinamento prolongado sem o verdadeiro empenho para solucionar", disse, em entrevista ao programa "Fantástico" exibida no último domingo. 

O episódio culminou com a saída do agora ex-ministro das Relações Exteriores Antonio Patriota, que será substituído por Luiz Alberto Figueiredo. Patriota esteve reunido ontem à noite com Dilma e anunciou sua saída do cargo.

Molina permaneceu por mais de 450 dias na Embaixada desde que o governo brasileiro lhe concedeu asilo. Segundo Saboia, ele ficava confinado em uma pequena sala e não podia deixar a embaixada. O diplomata disse ainda que o senador apresentava quadro de depressão e ameaçava se suicidar.

A presidente qualificou como inaceitável a fuga do senador, patrocinada pelo diplomata, em razão do risco a que foram submetidos. "Um país civilizado e democrático protege seus asilados sobre os quais ele tem que garantir, sobretudo, a segurança em relação à integridade física. O Brasil jamais poderia aceitar em momento algum, sem salvo-conduto do governo boliviano, colocar em risco a vida de uma pessoa que estava sob sua guarda. A Embaixada do Brasil é extremamente confortável", afirmou Dilma.

O governo boliviano, entretanto, não lhe deu o salvo-conduto para que ele pudesse deixar o país. "Negociamos em vários momentos o salvo conduto e não conseguimos. Lamento profundamente que um exilado tenha sido submetido à insegurança que este foi", declarou a presidente.

"Não tem nenhum fundamento acreditar que um governo, em qualquer país do mundo, aceite submeter a pessoa que está sob asilo a risco de vida. Se nada aconteceu, não é a questão. Poderia ter acontecido. Um governo não negocia vidas", disse Dilma.

Ao UOL, Eduardo Saboia afirmou, em resposta à presidente Dilma, que só ele tinha ciência das condições vividas pelo parlamentar nas dependências da embaixada. "Eu que estava lá, eu que posso dizer. O carcereiro era eu. Ninguém mais viu aquela situação. Foi uma decisão pessoal."

Na Bolívia, o senador denunciou o envolvimento de autoridades bolivianas com o narcotráfico e é por elas acusado de corrupção e crime ambiental. Ele estava asilado na embaixada brasileira na Bolívia desde 28 de maio de 2012, em condições psicológicas muito ruins, segundo Saboia.

Ele foi trazido ao Brasil em uma complexa operação, que envolveu viagens de carro e avião, e está em Brasília, na casa de seu advogado.

Procurado pela reportagem, o advogado Fernando Tibúrcio, defensor do senador boliviano, evitou comentar as declarações de Dilma. Disse, apenas, que Molina é grato à presidente pois, caso o asilo não lhe fosse concedido, ele não poderia estar hoje no Brasil.

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