Topo

Egito prolonga prisão preventiva de Mursi; milhares de simpatizantes vão às ruas

Do UOL, em São Paulo

13/09/2013 11h34

Um tribunal egípcio ordenou nesta sexta-feira (13) o prolongamento da prisão preventiva por 30 dias contra o presidente deposto do Egito, Mohammed Mursi, detido pelo Exército em um lugar desconhecido e acusado de conspirar com o grupo islamita palestino Hamas.

O juiz do Tribunal de Apelações do Cairo, Hassan Samir, dipôs a mesma medida para o ex-chefe do gabinete da Presidência de Mursi, Refaa al Tahtaui, informou a agência de notícias "Mena".

Ambos são acusados, além disso, do assassinato de presos e oficiais de polícia, do sequestro de responsáveis de segurança, do assalto e incêndio da prisão de Wadi Natrun e de atacar instalações das forças de ordem.

Mursi esteve recluso em Wadi Natrun durante a revolução que derrubou seu antecessor na Presidência, Hosni Mubarak, entre janeiro e fevereiro de 2011, mas conseguiu escapar dois dias depois graças ao caos que reinava nas prisões após a debandada dos guardiães.

Tahtaui também enfrenta a acusação de filtrar importantes informações ao Hamas quando trabalhava no gabinete presidencial. (Com agências internacionais)

O magistrado pediu a detenção de outros acusados na mesma causa, que até agora inclui 13 detidos.

Sobre Mursi ainda há outras ordens de prisão preventiva por supostamente ter insultado o Poder Judiciário e por sua suposta implicação na morte, detenção e tortura de cidadãos nos distúrbios de dezembro em frente ao palácio presidencial.

Milhares de simpatizantes de  Mursi protestavam nesta sexta-feira (13) em Nasr City, um subúrbio do Cairo, e em várias cidades do país.

No último 14 de agosto, foram registrados na região de Nasr City confrontos sangrentos entre milhares de manifestantes pró-Mursi, o Exército e a polícia.

A destruição dos acampamentos dos manifestantes nas praças Rabaa al-Adaqiya, em Nasr City, e Nahda, em frente à Universidade do Cairo, deixou centenas de mortos na ocasião.

O islamita Esam al Erian, vice-presidente do Partido Liberdade e Justiça (PLJ), braço político da Irmandade Muçulmana, grupo no qual Mursi militou até que chegou à Presidência em junho de 2012, havia pedido que os seguidores do deposto líder fossem as ruas nesta sexta-feira e no sábado.

Al Erian, que se encontra em paradeiro desconhecido e contra o qual foram ditadas várias ordens de detenção por supostamente instigar à violência, advertiu que "o povo não se renderá perante a força brutal das forças de segurança".

As manifestações são organizadas pela Coalizão de Defesa da Legitimidade, que agrupa os Irmandade Muçulmana e forças afins, que rejeitam o golpe militar que retirou do poder Mursi em 3 de julho.

Os protestos desta sexta-feira têm como lema "Lealdade ao sangue dos mártires". Muitos manifestantes carregavam fotografias de manifestantes pró-Mursi mortos nos confrontos e gritavam slogans como "Vamos obter os seus direitos [pelos quais eles lutaram] ou morreremos como eles".

Em Alexandria e em Mahala al Kubra, no norte do país, houve confrontos entre partidários e opositores de Mursi. Na litorânea Alexandria, os choques eclodiram nas imediações da mesquita de Al Qaed Ibrahim, segundo a TV estatal. 

Os adversários lançaram pedras durante os distúrbios, e houve disparos de balas de chumbo. 

Em Mahala al Kubra, no delta do Nilo, opositores e simpatizantes de Mursi se enfrentaram depois que os primeiros interceptaram uma manifestação que partiu da mesquisa de Abdel Hai Khalil rumo à praça principal. As forças de segurança consiguiram apartar os grupos após dispersá-los com gás lacrimogêneo.

Egito em transe

  • As sucessivas crises e confrontos no Egito tem raízes mais antigas e profundas, na briga entre secularistas e islamitas e uma democracia ainda imatura. Entenda mais sobre a história recente do país

    Clique Aqui

Bombardeios

Por outro lado, helicópteros do Exército egípcio bombardeavam nesta sexta-feira supostas posições islamitas no norte do Sinai, dois dias após um grupo de insurgentes lançar um ataque contra soldados egípcios nesta instável península, informaram fontes de segurança.

O Exército egípcio destruiu posições e veículos utilizados por estes grupos armados, informaram essas fontes. A operação seguia em andamento nesta sexta-feira, acrescentaram.

Na última quarta-feira, seis soldados egípcios morreram na explosão de dois carros-bomba na península do Sinai, em plena operação militar contra grupos radicais.

Os ataques dos rebeldes jihadistas contra as forças de segurança se multiplicaram no Sinai desde que no dia 3 de julho o Exército destituiu  Mursi. A destituição foi seguida por uma sangrenta repressão contra as manifestações que pediam o retorno do presidente.

O Exército reagiu lançando uma ofensiva de grande alcance há mais de uma semana, bombardeando quase diariamente os refúgios dos jihadistas, considerados terroristas.

ENTENDA A CRISE NO EGITO


O que aconteceu?
O comandante-geral do Exército, o general Abdul Fattah al-Sisi, declarou na TV que a Constituição foi suspensa e que o presidente da Suprema Corte assumiria poderes presidenciais, na prática derrubando o presidente Mohammed Mursi. Com isso, Adli Mansour comanda o governo interino formado por tecnocratas até que eleições presidenciais e parlamentares sejam convocadas. No Twitter, Mursi chamou o pronunciamento de "golpe completo categoricamente rejeitado por todos os homens livres de nossa nação". Soldados e carros blindados rondam locais importantes do Cairo enquanto centenas de milhares de manifestantes protestam nas ruas.

O que motivou a crise?
O descontentamento começou em 2012, quando Mursi, 1º presidente democraticamente eleito do Egito, deu a si mesmo amplos poderes numa tentativa de garantir que a Assembleia Constituinte concluísse a nova Constituição. Desde então, houve uma cisão política no país. De um lado, Mursi e a Irmandade Muçulmana; de outro, movimentos revolucionários e liberais. Quando a nova Constituição, polêmica e escrita por um painel dominado por islamitas, foi aprovada às pressas, as manifestações em massa tomaram as ruas, e Mursi acionou o Exército. Mas enfrentamentos continuaram, deixando mais de 50 pessoas mortas. Diante da pressão, os militares deram um ultimato ao presidente, que tinha 48 horas para atender às demandas populares. Mursi insistiu que ele era o líder legítimo do Egito, e houve intervenção.

Qual o caminho traçado pelos militares?
Após encontro de líderes políticos, religiosos e jovens, o general Sisi disse que o povo clamava por "ajuda" e que os militares "não podiam permanecer em silêncio". Ele disse que o Exército fez "grandes esforços" para conter a situação, mas o presidente não atendeu "às demandas das massas" e era hora de por "fim ao estado de tensão e divisão". Como a nova Constituição era alvo de fortes críticas, ele suspendeu-a temporariamente. O general não especificou quanto tempo duraria o período transitório e o papel que será exercido pelos militares. Ele conclamou a Suprema Corte Constitucional a rapidamente ratificar a lei permitindo eleições para a Câmara Baixa do Parlamento, que está dissolvida, e para a Assembleia Popular. E afirmou que um novo código de ética será expedido.
  • Fonte: BBC Brasil