'Filhas' de parteira, mulheres unem-se para encontrar mães biológicas
Quando elas nasceram, a parteira disse às mães que os bebês tinham morrido. Agora, a partir de uma conta no Facebook elas começaram a se encontrar e a realizar a mesma busca de suas origens.
O grupo é formado por argentinos, principalmente mulheres, que nasceram entre 1960 e 1985, na província argentina de Córdoba, e que algumas horas depois do parto foram roubados de suas mães.
À elas, a parteira dizia que os bebês tinham morrido e eles eram vendidos para outros casais.
O denominador comum destes casos de apropriação ilegal de recém-nascidos é Mafalda Espina de Journade, a parteira que os ajudou a nascer e que os roubou e vendeu.
“Queremos encontrar nossas mães biológicas, ter o direito de conhecer nossa identidade”, disse ao jornal ao Clarín Carolina Bruzzo, integrante do grupo “Hermanas e Madres del Alma” (Irmãs e Mães de Alma), em Villa Nueva, 150 quilômetros a sudeste da cidade de Córdoba, que é capital da província de mesmo nome.
Dúvidas
“No meu caso, eu tinha a profunda intuição de que não era filha biológica dos meus pais. Mas a dúvida não vinha do desamor, porque eu fui amada pelos meus pais de criação”, diz Carolina. A dúvida original foi aos seis anos: “Foi quando a minha mãe ficou grávida. Eu comecei a fazer perguntas e ela não sabia o que fazer. Ela não me mentiu nem me respondeu mal. Tudo isso voltou a aparecer quando eu fui mãe. Eu tinha muito medo de que roubassem o meu bebê”.
Mariana Rodríguez mora em Córdoba e contou que soube da verdade quando tinha oito anos de idade: “Minha mãe tinha quase 50 anos e o meu pai, 70. Por causa dessa diferença de idade nós nunca tivemos uma boa relação pais-filha. Mas quando eu perguntei a eles a verdade, eles me contaram de uma forma brutal. Isso me bloqueou. Eles me obrigaram a não falar sobre o assunto. Calei a vida inteira até ter os meus filhos”.
Quando os pais dela morreram, Mariana procurou respostas: “Eu nunca usei as redes sociais. Eu entrava de noite na internet, quando meu marido ia dormir. Eu tinha tanto medo que procurava a verdade às escondidas. Mas topei com Patricia Holmes, que tem a página “Hijos Biológicos” (Filhos Biológicos) e ela me ajudou muito.
E encontrar meus companheiros de alma me aliviou, eu me senti protegida, foi como uma cura”.
Consultório
Patricia Holmes entrou em contato com três cordobesas que tinham nascido no consultório de Journade e em fevereiro deste ano formou o grupo “Hermanas e Madres del Alma”. A primeira reunião foi em abril no Arquivo da Memória de Córdoba e todos os meses –na segunda sexta-feira de cada mês - repetem os encontros.
“Nós não queremos transformar nossos casos em questão judicial. Mafalda Journade, a responsável de nos ter roubado e vendido, já morreu. Só queremos conhecer os nossos pais biológicos. Não julgamos as vítimas que passaram por esse lugar”, afirmam.
Outra vítima daquele esquema que agora vai sendo revelado, Cristina Neuburger mora na localidade de Sampacho, na mesma província, e diz: “Eu sempre soube que era adotada. Mas quando fiquei grávida apareceram certas perguntas, mexe muito com a gente. Nunca na minha vida eu tinha prestado atenção na minha certidão de nascimento. Quando eu comecei a procurar, entrei em contato com uma moça de Córdoba que estava na mesma situação que eu. Googleei Mafalda e apareceram casos semelhantes”.
A psicóloga María Grazia Iglesias, da Comissão Nacional pelo Direito à Identidade, disse ao jornal Clarín que as mulheres que agora buscam seus pais biológicos vivem sentimentos e situações parecidas. E que as mães delas também deviam ter perfis semelhantes.
“Moças vulneráveis do ponto de vista econômico e cultural que caíram nas mãos de uma rede de tráfico de pessoas e foram despojadas de seus bebês. Um dos casos, de uma das três mães biológicas que já se uniram ao grupo, mostra a perversidade do sistema: na estação rodoviária havia anúncios de uma suposta empresa de colocação de empregadas domésticas que necessitava exclusivamente de grávidas. E assim captavam suas vítimas”.
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