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Cães percebem sinais para confortar doentes e pessoas em luto

Jessica Vogelsang, diretora da Paws Into Grace Imagem: AP/Lenny Ignelzi

Sue Manning

Em Los Angeles

06/08/2015 00h01

Para aqueles que estão morrendo, está claro por que todos os cães vão para o céu. Eles proporcionam conforto não apenas na morte, mas também em outros momentos difíceis, seja depressão, perda do emprego ou mudança de casa. Os cães sabem quando as pessoas estão morrendo ou em luto por meio de dicas da linguagem corporal, cheiros que apenas eles podem detectar e outras formas ainda desconhecidas, dizem os especialistas.

Jessica Vogelsang, uma veterinária, sabe o quanto "estar presente" pode significar para pessoas ou animais em dificuldades. Ela é diretora da Paws Into Grace no Sul da Califórnia, um grupo de veterinários que dá atendimento paliativo e eutanásia para animais de estimação em casa.

A veterinária de San Diego concluiu seu primeiro livro, "All Dogs Go to Kevin: Everything Three Dogs Taught Me (That I Didn't Learn in Veterinary School)" (Todos os cães vão ao Kevin: Tudo o que três cães me ensinaram e que não aprendi na escola de veterinária, em tradução livre), pouco antes de saber que sua mãe, Patricia Marzec, tinha um tumor inoperável no cérebro. O título do livro de memórias publicado no mês passado se refere ao que o filho pequeno de Vogelsang ouviu quando lhe disseram que todos os cães vão para o céu.

Os pais se mudaram para a casa dela, para que sua mãe pudesse desfrutar seus últimos meses com a família, e o golden retriever de Vogelsang, Brody, percebeu as mudanças. Ele sempre pulava nos pais dela, mas parou quando chegaram em abril.

"Ele sabia que minha mãe estava doente. Ele ficava ao lado dela 24 horas, 7 dias por semana", disse Vogelsang. "Ele tentava não ser óbvio demais, mas papai ficava de um lado e ele do outro."

Brody deitava aos pés de Patricia ou descansava sua cabeça no colo dela quando sentia que ela estava triste. Ele se aconchegava ao lado dela quando enfermeiros vinham, ignorando sua mão trêmula enquanto ela afagava sua cabeça, disse Vogelsang.

"Ele ainda é meu cão, mas ele sabia quando chegaram que precisavam dele mais do que eu", disse a veterinária.

Os cães sabem confortar as pessoas ao farejarem alguns cânceres, como na respiração de um paciente com câncer de pulmão, afirma a dra. Bonnie Beaver, professora da Faculdade de Medicina Veterinária da Texas A&M University e diretora executiva da Faculdade Americana de Behavioristas Veterinários.

Mas com maior frequência, trata-se da linguagem corporal. "Eles também reconhecem fragilidade, corpo curvado, falta de movimento", disse Beaver. "Eles sabem como ler uns aos outros. São ótimos nisso, nós não."

Algumas casas de repouso e asilos que possuem cães para confortar os pacientes até mesmo usam o comportamento dos cães –como com quem o animal escolhe dormir– como um sinal para dizer aos parentes para virem se despedir. "Muitos dos cães residentes conhecem essas pessoas e sabem quando algo está diferente, seja por mudanças de odor ou por estarem se movendo menos", disse Beaver.

Os cães também podem ajudar aqueles que lidam com outras mudanças. No livro, Vogelsang apresenta os animais que a ajudaram durante algumas mudanças na vida. Quando era pequena, sua lhasa apso chamada Taffy a ajudou a se ajustar a uma mudança indesejada da Nova Inglaterra para a Califórnia.

Após o nascimento de seu primeiro filho, seu golden retriever Emmett não a deixava sozinha enquanto ela enfrentava a depressão pós-parto e uma nova carreira como veterinária. Ele lhe dava amor, assim como alguns olhares que a levaram a uma autoanálise para obter a ajuda que precisava, disse Vogelsang.

Posteriormente, uma cadela labrador chamada Kekoa a ensinou a abandonar expectativas não realistas enquanto equilibrava a carreira e a maternidade. Quando a cadela teve câncer, Vogelsang não a submeteu a procedimentos intermináveis e medicações, porque não era certo para Kekoa. Isso a levou ao campo dos cuidados paliativos.

Após a chegada da mãe de Vogelsang, a família passou dois meses assistindo filmes, comendo biscoitos e observando as borboletas voando no quintal. Pat Marzec até mesmo leu o livro de sua filha, dando sua aprovação. Ela faleceu em 3 de junho, aproximadamente um mês antes de ser lançado.

"Aqueles últimos dois meses que tivemos foi um período incrível", disse Vogelsang. "A morte é apenas um momento. A vida é tudo mais que a antecede."

Tradutor: George El Khouri Andolfato

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