Maduro congela relações após "golpe oligárquico" no Brasil; EUA mantêm neutralidade
O presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, afirmou nesta quarta-feira (31) que o país congelará as relações com o governo brasileiro após a cassação do mandato de Dilma Rousseff. Maduro afirmou que o processo de impeachment foi um "golpe oligárquico da direita" e se disse solidário "a Dilma e ao povo do Brasil". "Quem luta vence!", escreveu Maduro no Twitter.
Horas mais tarde, após a posse do presidente Michel Temer, o chanceler José Serra afirmou que o Brasil chamou de volta seu embaixador na Venezuela, Ruy Pereira, em resposta à atitude do governo de Nicolás Maduro.
"O Brasil chamou de volta o embaixador na Venezuela, porque eles fizeram o mesmo", disse o ministro das Relações Exteriores, José Serra, após a cerimônia de posse do presidente Michel Temer, no Senado Federal.
Em nota oficial, o governo venezuelano disse que, "em resguardo da legalidade internacional e solidária com o povo do Brasil", retiraria definitivamente seu embaixador no país e congelaria "as relações políticas e diplomáticas com o governo originado neste golpe parlamentário".
"Da mesma forma, iniciaremos um conjunto de consultas para apoiar o povo desta nação irmã, que viu seu sistema democrático se vulnerabilizar e está desesperançoso em suas conquistas socioeconômicas."
Na mesma nota, o governo venezuelano disse que "as oligarquias políticas e empresariais, que em em aliança com setores imperialistas consumaram o golpe de Estado contra a presidenta Dilma Rousseff, recorreram a artimanhas jurídicas sob o formato de crime sem responsabilidade para ascender ao poder pela única via possível: a fraude e a imoralidade".
De acordo com a presidência venezuelana, o processo no Brasil faz parte de uma "investida oligárquica e imperial contra os processos populares, progressistas, nacionalistas e de esquerda, cujo único fim é restaurar os modelos neoliberais de exclusão social e expropriação de nossas riquezas naturais que trouxeram consigo pobreza e atraso para nossos povos e acabar com os modelos de democracia genuína e de integração da região alcançados pelos presidentes Hugo Chávez, Néstor Kirchner, Lula, Evo Morales, Tabaré Vázquez e Rafael Correa".
Segundo o governo da Venezuela, o "golpe de Estado parlamentar substitui ilegalmente a vontade popular de 54 milhões de brasileiros, violentando a Constituição e alterando a democracia nesse país irmão".
"A República Bolivariana de Venezuela expressa sua solidariedade com a presidenta Dilma Rousseff e com os milhões de mulheres e homens que mediante o voto direto e secreto elegeram a presidenta. Foi executado uma traição histórica contra o povo do Brasil e um atentado contra a integridade da mandatária mais honesta no exercício da presidência da República Federativa do Brasil", prossegue a nota.
Em nota, o Itamaraty afirmou repudiar o tom das declarações do governo venezuelano. "Revela profundo desconhecimento da Constituição e das leis do Brasil e nega frontalmente os princípios e objetivos da integração latino-americana", afirmou o MRE.
Bolívia e Equador convocam embaixadores
O presidente do Equador, Rafael Correa, e o presidente da Bolívia, Evo Morales, afirmaram que convocarão as representações democráticas de seus países no Brasil.
Correa anunciou no Twitter que chamou para consultar o encarregado de negócios de sua embaixada no Brasil. Segundo ele, o impeachment de Dilma é "ilegítimo" e caracteriza um "golpe de Estado".
Em comunicado, o Ministério de Relações Exteriores equatoriano rejeitou o que chamou de "flagrante subversão da ordem democrática no Brasil" e destacou que "políticos adversários e outras forças de oposição se confabularam contra a democracia para desestabilizar o governo e remover de seu cargo, de forma ilegítima, a presidente Dilma Rousseff".
"Destituíram Dilma. Uma apologia ao abuso e à traição. Retiraremos nosso encarregado da embaixada. Jamais compactuaremos com essas práticas, que nos recordam as horas mais obscuras de nossa América. Toda a nossa solidariedade à companheira Dilma, a Lula e a todo o povo brasileiro. Até a vitória sempre!"
Também por meio das redes sociais, o presidente da Bolívia, Evo Morales, que já havia dito que chamaria seu representante no Brasil de volta caso o impeachment fosse aprovado, oficializou a convocação.
No Twitter, Evo escreveu: "Condenamos o golpe parlamentar contra a democracia brasileira. Acompanhamos Dilma, Lula e seu povo nesta hora difícil. Estamos convocando o nosso embaixador no Brasil para assumir as medidas que neste momento se aconselham."
Em nota no "Granma", o jornal estatal cubano, o governo de Havana diz rechaçar "energicamente o golpe de Estado parlamentário-judicial consumado" contra a ex-presidente.
Em comunicado a respeito dos governos de Cuba, Equador e Bolívia, o Itamaraty disse que eles "reincidem em expressões equivocadas que ignoram os fundamentos de um Estado democrático de direito, como o que vige de maneira plena no Brasil".
"O governo brasileiro conclama as autoridades desses países a manterem a serenidade e a respeitarem os princípios e valores que regem as relações entre as nações latino-americanas", disse ainda o Itamaraty.
EUA
O governo dos Estados Unidos disse estar confiante que a "forte relação bilateral" entre Washington e o Brasil vai prosseguir após o impedimento de Dilma,.
"Temos visto reportagens de que o Senado brasileiro, em acordo com a ferramenta da Constituição do país, votou para remover a presidente Dilma Rousseff do poder", afirma o porta-voz do Departamento de Estado, John Kirby, em um comunicado à imprensa. "Estamos confiantes que vamos continuar o forte relacionamento bilateral que existe entre os dois países."
A nota assinada por Kirby destaca que Brasil e EUA são as duas maiores democracias e economias do hemisfério e ambos os países estão comprometidos com parcerias.
"Os EUA cooperam com o Brasil para resolver questões de mútuo interesse entre as duas partes e os desafios globais mais prementes. Planejamentos continuar com essa colaboração essencial."
Veja outras repercussões internacionais ao impeachment
A ex-presidente argentina Cristina Kirchner, manifestou no Twitter solidariedade aos ex-presidentes Dilma e Lula.
A ONG Transparência Internacional disse que Dilma foi afastada por um Senado marcado por corrupção, com "60% dos senadores investigados por corrupção".
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