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Líder catalão destituído fala em "desacelerar" independência e nega fuga

O líder catalão destituído Carles Puigdemont fala durante entrevista à imprensa em Bruxelas, Bélgica - Yves Herman/ Reuters
O líder catalão destituído Carles Puigdemont fala durante entrevista à imprensa em Bruxelas, Bélgica Imagem: Yves Herman/ Reuters

Do UOL, em São Paulo

31/10/2017 10h59

O ex-presidente catalão, Carles Puigdemont defendeu "desacelerar" a independência para evitar a violência na região espanhola, em entrevista à imprensa em Bruxelas, quatro dias após proclamar a secessão.

"Não se pode construir a república de todos com base na violência", disse Puigdemont. "Se essa atitude tem como preço desacelerar a implantação da república, devemos considerar que esse é um preço razoável".

Por outro lado, Puigdemont disse que "nunca" deixará o governo da Catalunha, mas que aceitará as eleições autônomas de 21 de dezembro e seus resultados, e pediu ao Executivo central que faça o mesmo. "Nunca abandonaremos o governo e vamos continuar trabalhando", disse.

Mapa Catalunha - Arte/UOL - Arte/UOL
Imagem: Arte/UOL

Puigdemont acusou a "politização da Justiça" espanhola e garantiu que há "ausência de imparcialidade". O líder catalão se declarou o "presidente legítimo" da região da Catalunha e alertou para "o grave déficit democrático que há hoje no Estado espanhol".

Puigdemont também negou sua intenção de pedir asilo, explicando sua permanência na Bélgica por "segurança".

"Não estou aqui para pedir asilo político. Estou aqui em Bruxelas como capital da Europa. Não se trata da política belga. Estou aqui para atuar com liberdade e segurança", afirmou Puigdemont. "Estamos aqui em perfeita legalidade e sem descumprir nada, portanto não tivemos que nos esconder de nada", disse Puigdemont, que acrescentou que não sabe quanto tempo passará na Bélgica, já que "depende das circunstâncias".

Com a destituição do governo da Catalunha, Madri assumiu, de forma temporária, as atribuições que eram exercidas pela administração catalã --os ministérios espanhóis desempenharão estas funções. Além disso, as representações catalãs no exterior, que funcionam como embaixadas, também foram destituídas e a liderança da polícia local foi demitida. 

As medidas limitam, ainda, as competências do Parlamento catalão, visto que seu presidente não poderá propor um candidato ao governo da província e o plenário não poderá debater nem aprovar sua posse. O governo central espanhol também está autorizado a intervir em organismos e serviços catalães. Também foram convocadas novas eleições na Catalunha para o dia 21 de dezembro.

A mais longa crise da democracia

A crise catalã é a mais longa da democracia espanhola e se agravou no último dia 10 de outubro.

Naquele dia, Puigdemont afirmou que os resultados do polêmico referendo de 1º de outubro --considerado ilegal por Madri-- constituíam um "mandato popular" para fundar uma República catalã. E ao mesmo tempo, ele propôs a suspensão da declaração para negociar com Madri.

O governo de Rajoy reagiu de modo rápido, exigindo que Puigdemont esclarecesse sua declaração e ameaçando-o com a aplicação do artigo 155, que permite a intervenção do governo central em uma região.

Por fim, na sexta-feira (27), o Parlamento catalão aprovou a resolução que abriu caminho para a independência da região --a resposta de Madri, imediata, foi a aplicação do artigo 155.

O objetivo catalão é antigo e muito desejado pelos nacionalistas, mas pode ser efêmero --a independência da Catalunha provoca hostilidade na União Europeia e divide profundamente a sociedade catalã.

As aspirações separatistas na Europa

AFP