Contra pneus queimados e pipas em chamas, Israel reage com tiros e é criticado por 'excessos'
Extremamente tecnológicas, as forças armadas de Israel estão sob fortes críticas internacionais por usarem munição letal, matando um grande número de manifestantes palestinos. Do outro lado da fronteira, os moradores de Gaza queimavam pneus, lançavam pipas em chamas contra fazendas israelenses e, em alguns casos, tentavam destruir a cerca na fronteira.
O exército israelense defende ferrenhamente suas ações e faz referência ao histórico de violência do Hamas em Gaza. Israel diz que houve ataques com bombas e tiros contra suas forças e que teme uma violação em massa da fronteira. Também alega que, no terreno aberto da fronteira de Gaza, com as tropas facilmente expostas, suas opções militares são limitadas.
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Mas com o aumento do número de mortes, e centenas de pessoas desarmadas entre as vítimas, as críticas crescem.
O que aconteceu?
Os protestos na fronteira visam romper o bloqueio de uma década imposto por Israel e pelo Egito contra o Hamas. O bloqueio, que Israel diz ser necessário para impedir o Hamas de se armar, dizimou a economia de Gaza.
Desde que o protesto liderado pelo Hamas teve início em 30 de março, mais de 110 palestinos foram mortos e mais de 2.500 foram feridos, segundo o Ministério da Saúde palestino.
Apenas na segunda-feira (14), 59 pessoas foram mortas e mais de 1.200 ficaram feridas, fazendo daquele o dia mais sangrento da violência fronteiriça desde a guerra de 2014 entre o Hamas e Israel.
A grande maioria das vítimas fatais é de manifestantes desarmados, segundo as autoridades palestinas.
Reações furiosas
O derramamento de sangue provocou críticas em todo o mundo, com muitos países, incluindo aliados europeus como a Alemanha e a Bélgica, acusando Israel de uso desproporcional de força e pedindo por investigações independentes.
O Conselho de Segurança da ONU realizou uma sessão especial que começou com um momento de silêncio pelos palestinos que foram mortos. Em Genebra, o escritório de direitos humanos da ONU disse que Israel tem violado repetidamente as normas internacionais ao atirar com munição real para repelir os manifestantes.
O porta-voz do escritório, Rupert Colville, disse que as regras da lei internacional "foram ignoradas repetidas vezes" e que força letal deveria ser apenas um "último recurso".
"Parece que qualquer um está sujeito a ser morto ou ferido a tiros: mulheres, crianças, pessoal da imprensa, socorristas, espectadores", ele disse.
Em Israel, seis grupos de direitos humanos pediram à Suprema Corte que declare ilegal qualquer regulação que permita aos soldados abrirem fogo contra civis desarmados.
Hassan Jabareen, diretor-geral do Adalah, um desses grupos, afirmou que os soldados supostamente estão autorizados a usar força letal apenas se suas vidas estiverem em risco imediato. Ele disse ainda que o grande número de pessoas baleadas longe da fronteira ou atingidas na parte superior do corpo levanta dúvidas sobre as políticas militares.
"Eles estão disparando de uma forma arbitrária por dois motivos, para punir e intimidar", afirmou.
A resposta de Israel
Israel se defende: a munição real seria usada apenas como último recurso. O governo diz fazer alertas verbais e jogar panfletos do céu, nos quais pede distância da fronteira. Na sequência, Israel diz recorrer a táticas não letais, como gás lacrimogêneo para dispersar as multidões.
Os militares dizem que os atiradores são autorizados a abrir fogo apenas quando todos os outros meios fracassam. Eles devem mirar nas pernas dos manifestantes e podem atirar apenas com aprovação de um comandante.
Os oficiais militares dizem que o gás lacrimogêneo é ineficaz quando há muito vento. Eles dizem que precisam manter seus soldados longe das multidões e que outros meios não letais, como balas de borracha, são ineficazes a longa distância.
O fator Hamas
Os militares israelenses dizem que os protestos ocorrem no contexto de um longo conflito armado com o Hamas, um grupo militante islâmico que travou três guerras com Israel ao longo da última década e matou centenas de israelenses em atentados suicidas.
Eles dizem que as regras para abrir fogo estão sujeitas às regras de conflito armado, que fornecem maior margem para uso de força letal.
Israel diz que os protestos não são pacíficos e que militantes do Hamas estão usando as multidões como cobertura para a realização de ataques.
Os manifestantes atacaram a cerca na fronteira, a incendiaram com pneus em chamas e destruíram parte da estrutura com cortadores de arame. Eles atiraram bombas incendiárias e pedras contra os soldados e empinaram pipas também em chamas sobre a fronteira, para incendiar os campos agrícolas israelenses. Um soldado israelense foi ferido.
O exército divulgou na terça-feira um vídeo que parecia mostrar os manifestantes detonando vários explosões perto da fronteira. Também disse que suas forças mataram um esquadrão de atiradores do Hamas que abriram fogo contra as tropas.
O tenente-coronel Jonathan Conricus, um porta-voz das forças armadas, disse que 14 dos mortos na segunda-feira estavam envolvidos ativamente na realização de ataques.
O maior medo de Israel é que o Hamas promova uma violação em massa da cerca e entre nas comunidades israelenses próximas para sequestrar ou matar israelenses.
Essas preocupações não são infundadas. Em 2006, militantes ligados ao Hamas entraram por um túnel em Israel e capturaram um soldado, o mantendo como refém por cinco anos, até ser libertado em uma troca de prisioneiros.
O Hamas também se infiltrou em Israel por túneis durante a guerra de 2014, matando pelo menos seis soldados israelenses, segundo o Ministério das Relações Exteriores de Israel. Desde a guerra, Israel encontrou e destruiu diversos outros túneis.
O líder do Hamas, Yehiyeh Sinwar, que foi solto na troca de prisioneiros de 2011, indicou que uma violação da fronteira é possível.
"Não temos escolha", disse Conricus. "Não podemos ser lenientes ou permitir que desordeiros derrubem a cerca, que terroristas sigam esses desordeiros, entrem em Israel e aterrorizem civis israelenses."
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