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O que é a 'nakba', a 'catástrofe' que há 70 anos mudou destino de palestinos e está na raiz de conflito com Israel

15.mai.2018 - Palestinos correm de bombas de gás lacrimogênio durante confronto com forças israelenses na Faixa de Gaza - Ibraheem Abu Mustafa/Reuters
15.mai.2018 - Palestinos correm de bombas de gás lacrimogênio durante confronto com forças israelenses na Faixa de Gaza Imagem: Ibraheem Abu Mustafa/Reuters

15/05/2018 13h04

O dia 15 de maio de 1948 entrou para o calendário palestino como "o dia da catástrofe" ou "nakba", em árabe. A data marca o início do deslocamento de centenas de milhares de palestinos do território ocupado por israelenses e está na raiz do conflito entre ambos.

Um dia antes da "catástrofe" palestina, foi declarada a criação do Estado de Israel, que passou a ocupar grande parte dos territórios onde antes viviam árabes. Estima-se que mais de 700 mil palestinos tenham sido expulsos pelas tropas israelenses ou se viram obrigados a fugir para países vizinhos.

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Logo em seguida à criação do Estado de Israel, veio a chamada Primeira Guerra Árabe-Israelense, que colocou em lados opostos o Estado de Israel e países da Liga Árabe - Jordânia, Egito, Síria, Líbano e Iraque. Ao final desse conflito, que foi de maio de 1948 a janeiro de 1949, Jerusalém foi dividida. A parte ocidental da cidade ficou sob controle de Israel e a parte oriental com a Jordânia, um dos países vizinhos de Israel que tinha participado da guerra.

Mesmo antes da criação do Estado de Israel, no entanto, já havia disputas territoriais entre árabes e judeus nessa região.

Histórico de disputas

A Palestina recebeu esse nome dos romanos, que ocuparam o território (desde aproximadamente 63 a.C até o século 4 d.C.). Por volta do ano 70 d.C., após várias rebeliões contra a ocupação, grande parte dos judeus foi expulsa de suas terras pelos romanos. Com o surgimento do Islã, no século 7 d.C., a Palestina foi ocupada pelos árabes e, durante as Cruzadas, foi palco de inúmeras batalhas entre forças árabes e cristãos europeus - ambos buscavam o controle sobre o que viam como Terra Santa.

Em 1516, a Palestina passou a fazer parte do Império Otomano, que durou até a Primeira Guerra Mundial. A partir daí, franceses e britânicos ocuparam a região, redefinindo as fronteiras com países vizinhos.

No começo dos anos 1920, o território da Palestina passou a ficar formalmente sob o comando do Reino Unido e, com apoio dos britânicos, judeus de todas as partes do mundo começaram a retornar à Terra Santa.

Jerusalém foi capital do Mandato Britânico da Palestina até 1948.

Em setembro de 1947, a Comissão Especial das Nações Unidas para a Palestina defendeu a criação de um Estado judeu no Oriente Médio, se fundamentando em "argumentos baseados em fontes bíblicas e históricas" e na Declaração de Balfour de 1917 - na qual o governo britânico se posicionou favoravelmente a um "lar nacional" para os judeus na Palestina.

Em 29 de novembro do mesmo ano, a Assembleia Geral da ONU, em sessão presidida pelo brasileiro Oswaldo Aranha, aprovou uma resolução recomendando a partilha da Palestina em substituição ao Mandato Britânico.

Em 14 de maio de 1948, David Ben-Gurion, chefe-executivo da Organização Sionista Mundial e presidente da Agência Judaica para a Palestina, declara o estabelecimento do Estado de Israel.

No dia seguinte, teve início a Primeira Guerra Árabe-Israelense, declarada pelso Estados árabes que se recusaram a aceitar a partilha proposta pela ONU.

Já antes dessa guerra, com a retirada das forças britânicas, houve uma guerra civil entre as recém-formadas forças palestinas e forças israelenses. Com a vitória dos israelenses, centenas de milhares de palestinos se viram obrigadas a deixar suas terras. É aí que a "nakba", a "catástrofe", tem início. O êxodo palestino continua durante a Guerra Árabe-Israelense, até culminar na expulsão de 700 mil palestinos.

Essa guerra resulta, entre outros rearranjos territoriais, na divisão de Jerusalém - com a Jordânia controlando a parte oriental.

Muitos grupos palestinos, como o Hamas, que atualmente controla a Faixa de Gaza, nunca reconheceram o Estado de Israel. Outros estão dispostos a buscar uma solução de dois Estados, um israelense e outro palestino, na região.

Em 1956, houve novo confronto com países árabes, quando Israel - com o apoio de França e Inglaterra -, declarou guerra ao Egito.

Em jogo estavam a nacionalização do canal de Suez e o fechamento do porto de Eilat, no Mar Vermelho, pelo então presidente egípcio Gamal Abdel Nasser. Israel chegou a conquistar territórios nessa Segunda Guerra Árabe-Israelense, mas foi forçado pela ONU a recuar.

Foi nessa época que surgiu o Al Fatah, o Movimento para a Libertação Nacional da Palestina. Trata-se de um importante grupo político-militar palestino, que teve entre seus fundadores Yasser Arafat, que mais tarde chefiaria a Autoridade Palestina.

Em junho de 1967, veio a Guerra dos Seis Dias, em que Israel enfrentou forças sírias, egípcias e jordanianas.

Depois da vitória obtida na Guerra dos Seis Dias, Israel assumiu o controle sobre Jerusalém Oriental - onde passou a construir assentamentos para colonos judeus. Esses assentamentos são considerados ilegais pela comunidade internacional, posição que é contestada pelo governo israelense.

Estima-se que um terço da população de Jerusalém seja composta por palestinos - e muitas são as famílias que estão na região há séculos.

Importância de Jerusalém

É por isso que, no conflito entre Israel e palestinos, o status diplomático de Jerusalém continua sendo uma das questões mais polêmicas e ponto crucial nas negociações de paz.

Israel considera Jerusalém sua "capital eterna e indivisível", mas os palestinos reivindicam parte da cidade (Jerusalém Oriental) como capital de seu futuro Estado.

Ao inaugurar sua embaixada em Jerusalém, o governo americano deu o primeiro passo de peso em apoio à posição de Israel sobre a cidade. Para grande parte da comunidade internacional, entretanto, o status da cidade deveria ser decidido no estágio final de negociações de paz entre israelenses e palestinos - que estão suspensas.

A inauguração da embaixada em Jerusalém aumentou a tensão nos protestos palestinos na fronteira entre Israel e a Faixa de Gaza. Só na segunda-feira, 58 palestinos foram mortos por soldados israelenses no local.

Em um comunicado, as Forças de Defesa israelenses disseram que 40 mil palestinos estavam participando de "atos de vandalismo violentos" em 13 localidades ao longo da cerca de segurança da Faixa de Gaza e ameaçando a segurança do território ocupado por Israel.

Mais controvérsias

Israel não reconhece a nakba. O país alega que palestinos atenderam às exigências de líderes árabes, que entraram em confronto com israelenses em 1948, para não ficar na zona de conflito, enquanto Egito, Jordânia, Síria e Iraque tentavam conter a vitória dos israelenses.

Mas, ao final desse confronto, Israel não permitiu o retorno dos palestinos e decidiu confiscar as propriedades, uma vez que os donos estavam "ausentes".

No livro O Nascimento do Problema dos Refugiados Palestinos 1947-1949, o historiador Benny Morris explica que milhares de palestinos foram expulsos de suas terras e impedidos de voltar depois do fim da Primeira Guerra Árabe-Israelense.

A ONU criou nessa época dezenas de acampamentos de refugiados nos países limítrofes, inclusive em Jerusalém Oriental. Mas, desde então, os confrontos se tornaram cada vez mais frequentes, violentos e mais difíceis de resolver.