Reciclador de lâmpadas, perfurador de poço caseiro: novos trabalhos criados pela crise na Venezuela
"A senhora da lâmpada está aqui!"
Yessica Vaamonde passa os fins de semana subindo as escadas estreitas da maior favela de Caracas, Petare, pedindo lâmpadas queimadas. Ela oferece 30 bolívares por cada uma, dinheiro que consegue vendendo abacates em uma das avenidas mais movimentadas da cidade venezuelana.
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Após embrulhar as lâmpadas em jornal, Vaamonde as leva a um cômodo sem janelas do tamanho de um closet no mercado Gloria al Bravo Pueblo, onde o marido trabalha. José Ramírez desenrosca a base, desenrola minúsculos fios de cobre e remenda as intrincadas entranhas com a facilidade de alguém que conserta até 50 por dia. Ele as revende por 100 bolívares cada, uma margem considerável, mas ainda bem abaixo dos 400 bolívares que as lojas cobram por uma nova.
A hiperinflação e a escassez estão fazendo pulsar o empreendedorismo no coração socialista da revolução bolivariana. Cidadãos desesperados estão ganhando a vida cavando poços de água domésticos, trocando bananas por cortes de cabelo e transportando passageiros em caminhões de carga de animais. A erosão da economia criou mercados e operadores de mercados onde antes não existiam.
"Eu tive que improvisar nesta crise", disse Ramírez, 31, que sempre teve jeito para consertar coisas, arrumar controles remotos de televisão e até aparelhos de micro-ondas. "Muitas pessoas hoje precisam comprar comida antes de comprar coisas como lâmpadas, por exemplo. Eu faço as coisas bem-feitas e ajudo as pessoas porque elas compram um bom produto que vai durar."
Na Venezuela, produtos de qualidade são cada vez mais escassos desde que os líderes do país prometeram "pátria, socialismo ou morte". A receita do petróleo, que permitiu que o falecido presidente Hugo Chávez nacionalizasse milhares de empresas, evaporou. O governo da Venezuela ampliou o controle sobre a maior parte da economia, da distribuição de alimentos às casas de câmbio.
A escassez de alimentos é desenfreada e o país, antes um gigante do petróleo, hoje produz a metade dos barris que produzia no início de 2016. As tentativas do presidente Nicolás Maduro de impedir o declínio têm sido ineficazes.
"Esse esforço draconiano para ampliar a influência do Estado sobre todo e qualquer aspecto da vida e dos negócios criou um mercado paralelo para tudo o que toca", disse o economista de Caracas, Omar Zambrano, que oferece serviços de consultoria.
"Quando se pensa em casos como a União Soviética ou a China, ambas as economias foram caracterizadas pela escassez e, apesar da propriedade estatal significativa, uma grande parte da economia foi apoiada pela atividade empresarial", disse Geoffrey Jones, professor de História dos Negócios da Harvard Business School. "Em alguns casos, é isso, de fato, que mantém a evolução em alguns lugares. Vemos regimes que tendem a tolerá-las porque eles sabem as consequências para eles se não o fizerem."
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