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Segunda criança imigrante morre sob custódia do governo dos EUA

Seguranças parados diante de sapatos e brinquedos deixados para trás no Ponto de Entrada de Tornillo, no Texas, onde os filhos dos imigrantes sem visto foram mantidos após a separação dos pais, em junho - Brendan Smialowski/AFP
Seguranças parados diante de sapatos e brinquedos deixados para trás no Ponto de Entrada de Tornillo, no Texas, onde os filhos dos imigrantes sem visto foram mantidos após a separação dos pais, em junho Imagem: Brendan Smialowski/AFP

Washington

25/12/2018 18h15

Uma criança de 8 anos guatemalteca que estava sob custódia do governo dos Estados Unidos morreu nesta terça-feira (25) em um hospital do estado do Novo México após ter cruzado ilegalmente a fronteira do país.

As informações foram divulgadas pelo Escritório de Alfândegas e Proteção na Fronteira (CBP, na sigla em inglês), responsável por cuidar dos imigrantes capturados depois de chegar ao país. A criança, um menino, morreu durante a madrugada, por motivos ainda desconhecidos.

Segundo um comunicado oficial divulgado pelo órgão, uma agente da CBP reconheceu sinais de mal-estar no menino e o levou, junto com o pai, para o centro médico local. A criança foi então diagnosticado com resfriado e liberada, com receitas para amoxicilina e ibuprofeno. 

No dia seguinte, ela teve náusea e vomitou, sendo então levada novamente ao hospital. Morreu pouco depois da meia-noite, na passagem do dia 24 para o dia 25 de dezembro. 

"O Departamento de Segurança Nacional vê um aumento dramático de crianças desacompanhadas e famílias chegando à fronteira de forma ilegal e sem autorização. Coerentemente com a lei em vigor, esses indivíduos são mantidos em instalações federais até serem enviados ao interior dos EUA com um aviso para que se apresentem à Corte. Durante o período de detenção, eles recebem atendimento médico e tratamento, se necessário", diz o comunicado. 

Investigação

Segundo informação do Ministério das Relações Exteriores da Guatemala, o menino e seu pai foram detidos em 18 de dezembro após terem cruzado a fronteira do México com os Estados Unidos pela cidade de El Paso, Texas.

No dia 23, foram trasladados para a estação de Alamogordo, no estado vizinho.

As autoridades americanas destacaram que não se conhecem as causas da morte do menino e prometeram que será feito um "exame independente e em profundidade das circunstâncias" do falecimento.

O governo guatemalteco pediu uma investigação "clara e resguardando o devido processo".

No início do mês, uma menina de 7 anos, também da Guatemala, morreu sob a custódia das autoridades americanas. Depois de ser presa e levada para um centro de detenção montado pelo CBP, a menina apresentou um quadro de febre alta com convulsões. No hospital, sofreu uma parada cardíaca e acabou morrendo. 

A CBP afirmou na ocasião que a menina havia morrido de desidratação, mas seu pai, Nery Gilberto Caal Cruz, contestou a afirmação, dizendo que havia se certificado de dar "comida e água" o suficiente para a criança. 

O caso de Jakelin Caal gerou grande indignação nos Estados unidos e uma delegação de congressistas que visitou as instalações onde ela esteve detida denunciaram "falhas sistêmicas" no processo e condições de higiene deploráveis.

Após a morte da menina, o Departamento de Segurança Nacional (DHS) anunciou uma investigação, cujos resultados serão apresentados ao Congresso e divulgados ao público.

Em busca de respostas

"Estou com o coração partido de saber da morte de uma segunda criança na detenção", escreveu no Twitter a representante da Câmara de Representantes por Nova York, Nydia Velazquez.

"Devemos exigir responsabilidades, encontrar respostas e pôr fim à odiosa e perigosa política contra os migrantes desta administração", acrescentou, em alusão às políticas do governo Trump.

A União Americana de Liberdades Civis (ACLU) qualificou os fatos de uma "tragédia assustadora".

"O CBP deve prestar contas e parar de deter crianças. O novo Congresso deve ter como uma de suas primeiras prioridades realizar uma investigação sobre o Departamento de Segurança Nacional (DHS)", declarou a ONG.

O presidente Donald Trump impulsiona uma política de tolerância zero contra a imigração, no âmbito da qual 2.300 migrantes menores de idade foram separados de seus pais entre 5 de maio e 9 de junho, o que gerou indignação no país e no mundo.

Para conter a imigração, Trump quer construir um muro na fronteira com o México, cujo orçamento de US$ 5 bilhões é objeto de uma disputa com a oposição democrata, o que provocou uma paralisação parcial do governo federal que já dura quatro dias. O presidente disse que não vai ceder até conseguir os recursos para construí-lo.

Os migrantes que fogem da pobreza e da violência das gangues em Honduras, Guatemala e El Salvador arriscam suas vidas para chegar aos Estados Unidos pelas passagens do Novo México, Texas e Arizona.

(com EFE e AFP)