Futuro chanceler relaciona 'providência divina' à eleição de Bolsonaro
O futuro ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, afirmou, em artigo publicado na revista norte-americana The New Criterion, que o Brasil está experimentando um "renascimento político e espiritual" e relacionou a eleição de Jair Bolsonaro (PSL) para o Palácio do Planalto a uma intervenção divina.
O embaixador, que assumirá o cargo de chanceler a partir de 1º de janeiro e é católico praticante, escreveu um artigo de três páginas para a revista, com o título "Agora falamos". Em um texto anterior, ao jornal Gazeta do Povo, ele já havia feito críticas ao que chamou, na ocasião, de "pautas anticristãs".
No início do texto à revista dos EUA, Araújo diz que "falar de Deus parece preocupar as pessoas". "Isso é triste. Mas o povo brasileiro não se incomoda. O governo Bolsonaro não liga para o que dizem os comentaristas ou para que os incomoda: eles não entendem nada de quem Deus é, ou de quem o povo brasileiro é e quer ser."
Em seguida, diz que "agora se pode falar sobre Deus em público". "Ao longo dos anos, o Brasil virou uma fossa de corrupção e desespero. O fato de as pessoas não falarem sobre Deus e não trazer sua fé à praça pública foi certamente parte do problema."
Agora ter um presidente que fala sobre Deus e expressa sua fé de uma maneira profunda, sincera, isso seria o problema? Pelo contrário. Estou convencido que a fé do presidente Bolsonaro é instrumental, não acidental, para sua vitória eleitoral e a para a onda de mudança que está lavando o Brasil
Araújo continua o texto retomando a história política do Brasil desde o fim da ditadura militar, em 1985, e citando, de forma crítica, as passagens do PMDB e do PSDB pelo poder federal antes da ascensão do PT com a eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, em 2002.
Segundo ele, o governo petista "rapidamente cooptou o esquema de poder do PMDB-PSDB" e posteriormente "tomou o controle de todas as alavancas de poder burocrático, dominando a economia por meio de bancos públicos de investimento e empresas estatais, criando um mecanismo completo de crime e corrupção". De acordo com o futuro chanceler, as medidas de esquerda dos governos petistas ainda incluíram a "humilhação de cristãos e a tomada da Igreja Católica pela ideologia marxista".
Na parte final do artigo, Araújo afirma que o filósofo Olavo de Carvalho, a Operação Lava Jato e Jair Bolsonaro foram os responsáveis por "quebrar o sistema" que vigorava até então. Depois de detalhar cada um desses três elementos, ele cita a presença de uma intervenção divina que teria colaborado para essa conjuntura.
Foi uma providência divina que guiou o Brasil por todos esses passos, reunindo as ideias de Olavo de Carvalho com a determinação e o patriotismo de Bolsonaro? Eu acho que sim
Depois, ele diz que "foi chamado de louco por detratores" por acreditar em Deus e "acreditar que Deus age na história".
Mas não me importo. Deus está de volta e a nação está de volta; uma nação com Deus; Deus através da nação. No Brasil (pelo menos), o nacionalismo virou veículo da fé, a fé virou o catalisador do nacionalismo e ambos iniciaram uma onda empolgante de liberdade e novas possibilidades
Ele termina o texto lembrando uma fala de Alastair Campbell, que foi porta-voz do ex-premiê britânico Tony Blair, dizendo que "o Reino Unido não fala de Deus". "No Brasil, agora falamos."
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