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Alemanha diz que vai continuar a ajudar afegãos após prazo de retirada

Do UOL, em São Paulo

25/08/2021 09h56Atualizada em 25/08/2021 11h18

A chanceler alemã Angela Merkel disse hoje que o país continuará tentando ajudar os afegãos que trabalharam com seus militares e organizações de ajuda e desejam deixar o Afeganistão mesmo após o dia 31 de agosto, prazo estipulado para a retirada de tropas estrangeiras.

"O fim da janela de voos em alguns dias não deve significar o fim dos esforços para proteger os ajudantes afegãos e ajudar aqueles afegãos que foram deixados em uma emergência maior com a tomada do Talibã", disse Merkel.

"É por isso que estamos trabalhando intensamente em todos os níveis para descobrir como podemos proteger aqueles que nos ajudaram, inclusive por meio da operação civil no aeroporto de Cabul", acrescentou.

O governo de Merkel e seus aliados na aliança militar da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte) foram criticados por não preverem que o Talibã assumiria o controle do país rapidamente, à medida que as tropas estrangeiras começassem a se retirar.

O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, manteve ontem a data final para retirada das tropas norte-americanas em 31 de agosto, como pede o Talibã. A decisão foi tomada após uma reunião entre líderes do G7 para debater a situação do país.

Biden declarou que a decisão se deve à crescente ameaça do braço afegão do grupo EI (Estado Islâmico). "Cada dia que estamos no território (afegão) é mais um dia em que sabemos que o ISIS-K está tentando atacar o aeroporto e atacar tanto os Estados Unidos quanto as forças aliadas", disse.

Com a decisão, os quase 6 mil soldados dos Estados Unidos que controlam o aeroporto internacional Hamid Karzaim, em Cabul, desde 14 de agosto, têm apenas sete dias para concluir a operação e abandonar o local.

Alemanha, Reino Unido, França e outros países tinham a esperança de que os EUA mantivessem a ponte aérea depois do fim do mês, para permitir a saída segura de todos os querem abandonar o país, mas acabaram frustrados pela decisão do democrata.

Ameaça dos talibãs

Os talibãs voltaram a alertar ontem que a retirada de afegãos deve terminar até esse dia e exigiram que os países ocidentais não levem as pessoas mais qualificadas.

"Foi uma violação do acordo. Queremos que eles retirem todos os cidadãos estrangeiros até 31 de agosto", disse o principal porta-voz do grupo, Zabihullah Mujahid. "E não somos favoráveis a deixar que afegãos partam".

Mujahid disse que "potências estrangeiras" estariam levando "especialistas afegãos", como engenheiros. "Pedimos que interrompam essas operações", exigiu.

Anteontem, o grupo já havia dito que não permitiria uma extensão do prazo. "É uma linha vermelha", afirmou o porta-voz Suhail Shaheen.

Merkel defende diálogo com talibãs

A chanceler alemã considerou hoje que a comunidade internacional tem de continuar "dialogando com os talibãs" para preservar as conquistas obtidas no Afeganistão nos últimos anos.

"Nosso objetivo tem de ser preservar ao máximo as mudanças que fizemos nestes 20 anos no Afeganistão", disse Merkel aos deputados alemães.

"A comunidade internacional tem de dialogar sobre isso com os talibãs", insistiu. Para a chefe do governo alemão, "os talibãs são uma realidade no Afeganistão". "Esta nova realidade é amarga, mas devemos enfrentá-la", acrescentou.

Ao lembrar os avanços obtidos desde 2001, ano da invasão do país pela coalizão liderada pelos Estados Unidos, Merkel destacou que "quase 70%" dos afegãos têm agora acesso à água potável, em comparação a 20% há 20 anos, e que a mortalidade infantil caiu pela metade.

"Não devemos nos esquecer do Afeganistão e não esqueceremos", garantiu a chanceler, afirmando que "nenhuma violência, nenhuma ideologia podem deter a aspiração à paz e à justiça".

* Com informações da AFP, Reuters e RFI