Topo

Esse conteúdo é antigo

Sakamoto: 'Negociação avançará quando Rússia vir situação insustentável'

Colaboração para o UOL, em Brasília

03/03/2022 12h50

As negociações de paz entre Rússia e Ucrânia só devem avançar quando os dois países e seus aliados, incluindo EUA e Otan, reconhecerem que a situação do conflito armado chegou a um patamar "insustentável". A avaliação do colunista do UOL Leonardo Sakamoto, em análise hoje ao UOL News.

"É fundamental o trabalho das mesas de negociação para a solução do conflito. Caso contrário, a solução vai ser na bala. E sendo na bala, a violência vai escalar. E escalando a violência, acaba chegando, mais cedo ou mais tarde, em armamento nuclear", disse o jornalista.

Na avaliação de Sakamoto, neste momento, o mundo e a mídia passam por um processo de "viés de confirmação", em que as pessoas buscam consumir conteúdos em que elas acreditam, ignorando os fatos.

"É uma situação complicada. É importante que a ONU e outras agências tragam dados, números e informações, checadas e verificadas. Essa maré de notícias falsas dificulta a resolução do conflito. Se a gente tiver um quadro claro, os países podem agir de forma melhor e as Noções Unidas podem pressionar por uma negociação", disse.

Poderio bélico-nuclear

Os EUA mantêm armas nucleares na Europa desde a década de 1950 como parte do acordo firmado na criação da Otan (Organização do Tratado do Atlântico Norte).

Embora a organização não divulgue oficialmente a quantidade de armamentos, organizações estimam cerca de cem bombas atômicas B61 distribuídas entre cinco países.

A presença das bombas no continente tem sido utilizada pelo presidente da Rússia, Vladimir Putin, como justificativa para a mobilização do arsenal nuclear russo — ele alega atuar para se defender dos avanços da Otan.

Armas nucleares dos EUA na Europa - Carol Malavolta/UOL - Carol Malavolta/UOL
Imagem: Carol Malavolta/UOL

Em fevereiro deste ano, a Otan explicou em comunicado que a presença de armas americanas em países europeus que integram a aliança é "para defesa coletiva". O texto também observa que a aliança prevê o compartilhamento de armamentos entre os países membros.

Atualmente, o mundo tem em posse um número estimado de 12.700 ogivas nucleares. Não se sabe ao certo qual o armamento de cada país, mas estima-se que a Rússia é o país com mais armas em sua posse, seguido dos Estados Unidos. Segundo os dados a FAS, Federal American Scientist, seriam 5977 e 5428 ogivas nucleares, respectivamente.

Em janeiro de 2022, a Rússia, os Estados Unidos e outros países assinaram uma declaração conjunta para prevenir a guerra nuclear e evitar corridas armamentistas. As nações afirmam que uma guerra nuclear "não pode ser vencida" e que "nunca deve ser travada".

O presidente norte-americano Joe Biden disse nesta semana que norte-americanos não precisam temer guerra nuclear.

Cientistas nucleares indicam que o uso de armas nucleares em uma guerra pode escalar de um desastre local para uma catástrofe local rapidamente.

"Milhões, talvez dezenas de milhões, morreriam nos primeiros 45 minutos", afirma a Associação de Controle de Armas.

E mesmo aqueles que sobrevivessem teriam que lidar com as consequências. Entre elas, a radiação nuclear, que pode causar desde doenças graves até a morte, além da destruição de infraestruturas básicas de internet, energia elétrica, saúde, transporte, alimentação e finanças.