'Colega disse que iam nos matar', diz funcionário de TV invadida no Equador
Do UOL*, em São Paulo
10/01/2024 09h47Atualizada em 10/01/2024 15h59
Um funcionário do canal público do Equador TC Televisión contou o terror que viveu ontem, após homens armados e encapuzados invadirem o estúdio durante uma transmissão ao vivo.
O que aconteceu
O funcionário informou que recebeu a notícia de um colega. "Estávamos na redação de notícias, vi uma colega com o rosto aterrorizado, dizendo que eles iam nos matar", disse. O nome do funcionário não foi identificado por segurança à agência AFP.
Ele contou que começou a ouvir barulhos de tiro, e que conseguiu fugir para o segundo andar do local. "Comecei a correr como louco, tentando encontrar um local seguro", lembrou.
O funcionário disse que entrou em uma área administrativa do canal e, de lá, conseguiu avisar que o estúdio havia sido invadido.
Um maquiador e participante de um reality da emissora também contou como foram os momentos após a invasão. Héctor Alvarado disse, em relato nas redes sociais, que viveu "momentos tristes, feios e de angústia".
Alvarado disse que ensaiava para a competição de dança quando recebeu um alerta. Em uma ligação, indicaram que eles fizessem silêncio e desligassem o celular.
Na sequência, sons de tiros foram ouvidos. "Nos escondemos, nos agachamos e rastejamos. Queríamos sair, mas não sabia quem estava lá fora. O que mais desejávamos era que não fôssemos encontrados", relatou.
Invasão acontece em meio a onda de violência no Equador
Um grupo de homens invadiu e exibiu as armas que portavam durante um telejornal ao vivo do canal público TC Televisión, em Guayaquil (270 km da capital Quito).
Eles renderam os profissionais e mandaram que eles deitassem no chão, enquanto tiros e gritos eram ouvidos ao fundo. As luzes do set se apagaram, mas a transmissão continuou por cerca de meia hora.
Polícia Nacional do Equador chegou ao local e disse ter prendido 13 pessoas, além de apreenderem armas e explosivos. No Twitter, o comandante de polícia César Augusto Zapata Correa disse que os reféns foram libertados e levados para um local seguro. "Os criminosos serão levados à Justiça para serem punidos pelos atos terroristas", escreveu.
O que está acontecendo no Equador?
O presidente Daniel Noboa assinou ontem um decreto de emergência por 60 dias, o que permite o uso do Exército contra grupos de criminosos ligados ao narcotráfico e ao crime organizado.
Antecessor de Noboa, Guillermo Lasso, já tinha declarado medida semelhante sem obter muito resultado. Noboa assumiu a Presidência em novembro do ano passado, tendo como principal bandeira o combate à violência nas ruas e nas prisões.
O país está sob estado de exceção desde o último domingo (7), quando o homem mais perigoso do país fugiu da prisão. É José Adolfo Macías Villamar, apelidado de Fito, líder da facção criminosa Los Choneros e condenado a 34 anos de prisão por crime organizado, narcotráfico e homicídio.
Quatro policiais foram sequestrados nos dias seguintes à fuga de Fito, em Quito e na cidade de Machala, no litoral sudoeste do país. Entre a noite de segunda (8) e a madrugada de terça (9), um carro-bomba e outros artefatos explodiram em várias cidades do país, em atos aparentemente coordenados.
Vídeo mostra três agentes penitenciários sentados no chão, e um deles lê uma mensagem endereçada a Noboa. "Você declarou guerra, e é guerra que terá", diz. "Você declarou o estado de exceção e nós declaramos policiais, civis e militares como espólio de guerra." A autenticidade do material não pôde ser verificada.
*Com informações da AFP