Conteúdo publicado há 4 meses

População no Equador está 'em pânico' com explosões; 13 morreram ontem

Uma recente onda de violência relacionada às drogas deixou pelo menos 13 pessoas mortas no Equador, cujo presidente declarou estado de "conflito armado interno" e enviou as forças armadas para as ruas depois que traficantes armados invadiram uma estação de televisão ao vivo. Segundo Luis Cordova Alarcon, coordenador do programa de investigação, ordem, conflito e violência da Universidade Central do Equador, "o medo de espalha", com vídeos de gangues ameaçando sequestrar policiais.

Para Luis Cordova Alarcon, o problema agora é a "evidência concreta de que o governo, diante da incapacidade de fazer uma reforma policial eficaz, se depara com instituições totalmente infiltradas pelo crime organizado".

"O Estado equatoriano é incapaz de implementar as decisões tomadas pelo governo. É por isso que o líder dos Lobos foi preso e já está foragido da prisão de Riobamba, e o líder dos Choneros também saiu da prisão há mais de uma semana e o governo só descobriu recentemente. Evidentemente, a sociedade está mais uma vez em pânico porque há atos terroristas, carros incendiados, explosões em passarelas de pedestres veículos em pelo menos 10 cidades do país. Somam-se a isso vídeos que as próprias gangues divulgaram nas redes sociais, ameaçando sequestrar policiais. O medo está se espalhando", afirmou, em entrevista à RFI.

Mortes

"Oito pessoas foram mortas" em ataques no porto de Guayaquil, no sudoeste do país, segundo informações um chefe de polícia local. As autoridades também disseram que dois policiais foram "cruelmente assassinados por criminosos armados" na cidade vizinha de Nobol. De noite, a polícia encontrou um carro incinerado com mais três corpos, totalizando 13 pessoas.

O presidente Daniel Noboa anunciou mais cedo no X que havia assinado um decreto executivo declarando "Conflito Armado Interno", em meio a um estado de emergência de 60 dias que ele havia decretado na segunda-feira (8), quando começaram os sequestros de policiais, os ataques à imprensa e as rebeliões nas prisões.

O presidente de 36 anos também ordenou que as forças armadas "realizassem operações militares (...) para neutralizar" cerca de 20 grupos criminosos, que ele descreveu como "organizações terroristas e atores não estatais beligerantes".

O novo decreto veio depois que homens armados e encapuzados entraram no canal TC Televisión em Guayaquil enquanto os jornalistas transmitiam um noticiário ao vivo, provocando um dramático impasse que durou pelo menos 30 minutos antes da intervenção da polícia. "Não atire, por favor, não atire", gritou uma mulher em meio aos tiros.

Antes de as luzes se apagarem, os homens encapuzados foram vistos empunhando uma granada, apontando armas para os trabalhadores e colocando o que parecia ser um bastão de dinamite na jaqueta de uma pessoa.

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Um jornalista do TC enviou mensagens de WhatsApp a um repórter da agência AFP dizendo: "Por favor. Eles vieram para nos matar. Deus queira que isso não aconteça. Os criminosos estão no ar". A polícia pôs fim à apreensão do canal e prendeu 13 pessoas.

Em março, cinco envelopes contendo pen drives carregados com explosivos foram enviados a jornalistas de vários meios de comunicação, um dos quais sofreu ferimentos leves após a detonação.

Medo nas ruas

A situação gerou pânico em várias cidades, com lojas fechando mais cedo e ruas caóticas cheias de pessoas correndo para casa. As aulas foram trocadas de presenciais para on-line até sexta-feira. O Brasil, a Colômbia, o Chile, a Venezuela, a República Dominicana e os Estados Unidos expressaram apoio a Quito e rejeitaram a violência.

O Peru declarou estado de emergência ao longo de sua fronteira com o Equador e intensificará a vigilância, informou seu governo. A embaixada chinesa em Quito e seu consulado em Guayaquil anunciaram que suspenderão temporariamente seus serviços ao público a partir de quarta-feira, sem especificar quando serão reabertos.

Nos últimos dois dias, o Equador viveu dias de terror após a fuga de Adolfo Macías, conhecido como Fito, líder de Los Choneros, a principal gangue criminosa do país, que estava detido em uma prisão em Guayaquil.

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Em resposta à fuga de Fito, Noboa decretou na segunda-feira o estado de emergência em todo o país, inclusive nas prisões, e um toque de recolher de seis horas a partir das 23h locais.

Também na terça-feira, Fabricio Colón Pico, um dos chefes do Los Lobos, preso na sexta-feira por sequestro e suposto envolvimento em um plano para assassinar o procurador-geral, fugiu.

Em meio à explosão, que foi sentida em várias cidades, incluindo Quito, sete policiais foram sequestrados, houve explosões contra uma delegacia de polícia e em frente à casa do presidente da Suprema Corte de Justiça, e veículos foram incendiados. Três dos policiais "foram libertados e levados para um local seguro", informou a polícia por X.

Em prisões de cinco localidades, 139 guardas e funcionários administrativos estão sendo mantidos por prisioneiros, informou a agência de prisões (SNAI).

Vídeos não verificados que circulam nas mídias sociais mostraram supostos prisioneiros sendo ameaçados com facas e a suposta execução de pelo menos dois guardas, com tiros e enforcamento.

"Atos sangrentos e sem precedentes"

Fito estava cumprindo uma sentença de 34 anos na prisão regional de Guayaquil por crime organizado, tráfico de drogas e assassinato. Os Choneros estão lutando com cerca de 20 outras gangues pelas rotas do tráfico de drogas, em uma guerra que está deixando o país sem sangue.

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Noboa atribui o ataque a uma retaliação por suas ações para "recuperar o controle" das prisões e advertiu que não negociará com "terroristas".

Os criminosos "cometeram atos sangrentos sem precedentes na história do país, mas, apesar de sua brutal maldade, essa tentativa fracassará", disse o almirante Jaime Vela, chefe do comando conjunto das forças armadas, aos repórteres após uma reunião do conselho de segurança em Quito, presidida por Noboa.

Localizado no meio da Colômbia e do Peru, os maiores produtores de cocaína do mundo, o Equador deixou de ser uma ilha de paz para se tornar um reduto da guerra das drogas. O ano de 2023 encerrou com mais de 7.800 homicídios e 220 toneladas de drogas apreendidas, novos recordes na nação de 17 milhões de habitantes.

Desde 2021, os confrontos entre prisioneiros deixaram mais de 460 mortos. Além disso, os homicídios de rua entre 2018 e 2023 cresceram quase 800%, de 6 para 46 por 100.000 habitantes.

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