Cérebro 'sequestrado', delírios: o jovem que ficou sem dormir por 11 dias
Do UOL, em São Paulo
11/01/2024 04h00
Em 1964, um estudante de 17 anos queria bater o recorde de passar mais tempo sem dormir — e ele conseguiu. Randy Gardner ficou acordado por 264 horas (11 dias e 25 minutos).
Coca-Cola, música alta e banho frio
Randy queria provar que era capaz de passar esse tempo todo acordado sem "enlouquecer". O experimento foi acompanhado por um pesquisador que manteve o adolescente acordado com jogos noturnos de basquete e idas ao fliperama.
O jovem norte-americano não usou nenhum estimulante, exceto pelo consumo de Coca-Cola, muita música alta e banho frio. E ele bateu realmente o recorde anterior, passando 264 horas (11 dias de 25 minutos) acordado.
Alucinações, delírios...
As habilidades analíticas, como percepção, motivação, memória e controle motor foram afetadas em graus variados, segundo o pesquisador que o acompanhou, William Dement.
Randy também apresentou sintomas mais graves no quarto dia acordado: ele teve alucinações, delírios e ficou com uma capacidade de atenção extremamente reduzida, segundo outro cientista que o observou.
"Foi quase como um Alzheimer precoce provocado pela falta de sono", disse Randy, em entrevista ao podcast científico Hidden Brain, em 2017. Ele contou ainda que o sintoma foi piorando ao longo dos dias.
Um computador do experimento detectou que partes do cérebro de Randy haviam sido "sequestradas". Isso significava que partes do órgão dele descansavam e eram repostas enquanto ele ainda estava acordado.
Sequelas do experimento
Aos 60 anos, Randy acabou desenvolvendo insônia. Ele contou que deitava na cama e ficava acordado por 5h ou 6h e só conseguia dormir durante 15 minutos.
Eu parei de dormir. Fiquei pensando: "Bem, isso vai passar, isso vai mudar porque me parece que, eventualmente, se você não dormir o suficiente, seu corpo apenas dirá: vamos dormir'. Mas isso nunca aconteceu. Randy Gardner, ao site do Guinness World Record
Para Randy, a insônia não foi causada pela privação de sono de tantos anos atrás. Ele atribuiu isso à morte de seu gato.
Depois de sofrer de insônia por uma década, Randy finalmente recuperou a capacidade de dormir, embora durma cerca de 6h por noite.
Privação de sono causa problemas à saúde
A privação de sono contínua prejudica os sistemas que regulam as funções do corpo e diferentes problemas de saúde passam a surgir.
Ficar 18 horas sem dormir, por exemplo, causa um efeito parecido ao de estar bêbado, prejudicando os reflexos motores, julgamento e o tempo de reação quando dirigimos.
Passar 96 horas sem dormir distorce a percepção de realidade. A necessidade de descansar se torna insuportável e a pessoa pode ter quadros de psicose por privação de sono, impactando na forma como vê a realidade ao seu redor. Em geral, esses sintomas diminuem depois que a pessoa descansa o suficiente.