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'Freezer marcava -15ºC e, lá fora, -40ºC': a vida de brasileiros no Canadá

Do UOL, em São Paulo

15/02/2024 04h00Atualizada em 15/02/2024 10h01

A influenciadora e designer de marcas Jhuly Leal, 27, e o estudante Gabriel Santarem, 29, chegaram a Calgary, no Canadá, há seis meses, quando ainda era verão e a temperatura chegava a 30°C. Naturais de Nova Friburgo (RJ), o casal, pais de duas crianças — de 2 e 8 anos — enfrentaram a onda de frio com temperaturas recordes que atingiu os Estados Unidos e o Canadá entre dezembro e janeiro deste ano.

Os termômetros registraram a marca de -50°C com ventos frios, o que fez com que o governo emitisse alerta para grande parte das províncias. Acostumados com o "friozinho de serra", Jhuly e Gabriel tiveram que readaptar a rotina, comprar novas roupas e até mudar os planos. Ao UOL, eles contaram o que aprenderam sobre o inverno de temperaturas extremas.

Família viu janela criar 'crosta' de gelo e pelos do rosto ficarem congelados Imagem: Arquivo pessoal

Tem que acordar mais cedo. "Se antes demorávamos 15 minutos para sair de casa, nesse inverno leva 45. Demanda mais tempo. Temos que preparar cada camada de roupa e ligar o carro uns dez minutos antes, porque o motor demora para funcionar. Além de estudar, também trabalho como entregador e no inverno tem um gasto maior de gasolina — e um número maior de pedidos, porque ninguém quer sair de casa", diz Gabriel.

Ter carro é necessidade. Não tínhamos planejado comprar um carro agora, só depois do inverno. Mas, quando teve a primeira neve em outubro, a gente viu realmente que não sobreviveríamos sem um carro. No dia de frio extremo, a temperatura era -45ºC. O trem principal parou e as pessoas tinham que pegar ônibus. Fiquei 15 minutos na rua esperando o ônibus chegar e já foi suficiente para sentir os meus dedos dos pés começarem a congelar, mesmo com meia. Compramos um carro porque não tem como andar em dias de frio extremo na rua sem um aquecedor", diz Gabriel.

Dói respirar na rua e temperatura é mais baixa do que a do freezer. "Não dá para andar na rua. Os pelos do nariz congelam e parece que a nossa respiração faz o corpo doer. Ir a pé até ao mercadinho da própria rua é difícil. Em casa, as janelas estavam com gelos na parede. Mesmo com aquecedor, tinha essa crosta. Nosso freezer marcava -15ºC e, lá fora, -40ºC. Ou seja, a temperatura ambiente era menor que o próprio freezer. Meu cachorro não queria sair de casa, ele ficou três semanas sem colocar o pé na rua. É carioca", diz Jhuly.

A roupa realmente congela. "A gente quis fazer algumas experiências e uma delas era com a roupa. O que será que acontece se deixarmos a roupa no varal lá fora? E ela congela mesmo", diz Jhuly.

Racionamento de energia faz parte. "Recebemos no celular um alerta para risco de queda de energia em decorrência do clima. Foi um susto não só para a gente, mas também para quem mora aqui há anos. Vimos que as pessoas realmente contribuíram. Os prédios ficaram apagados. Aqui em casa, não usávamos o fogão e tomávamos banhos rápidos, por exemplo", diz Jhuly.

Nem o sol esquenta. "Teve dias com frio, mas sem neve. No dia que fez -45ºC o tempo estava aberto, tinha sol, mas ninguém conseguia sentir ele. Era tão frio que não dava para sentir nenhum calor vindo do sol. Ele só estava ali iluminando o dia mesmo", diz Jhuly.

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