Pânico por infrassom e yeti: as teorias sobre as 9 mortes no Passo Dyatlov

No dia 1º de fevereiro de 1959, nove esquiadores estavam em uma excursão aos Montes Urais, no norte da antiga União Soviética, atual Rússia. A expedição, no entanto, terminou na noite do dia seguinte, com todos os jovens mortos, e deu origem a um mistério que dura 65 anos.

A expedição

Os nove jovens - sete homens e duas mulheres - se reuniram no final de janeiro para a excursão, liderados por Igor Dyatlov. No início, dez pessoas participariam da escalada, mas Yuri Yefimovich Yudin desistiu no meio do caminho, por problemas de saúde. A maioria deles era estudante do antigo Instituto Politécnico dos Urais e todos tinham experiência com expedições em montanhas.

O grupo era liderado por Igor Alekseyevich Dyatlov
O grupo era liderado por Igor Alekseyevich Dyatlov Imagem: Reprodução

O último contato do grupo com a "civilização" foi em Vizhai, no oblast de Sverdlovsk, o local habitado mais ao norte antes das montanhas. Após passarem a noite no vilarejo, os esquiadores seguiram rumo à montanha Gora Otorten.

Uma tempestade de neve, aliada às péssimas condições de visibilidade, fez com que o grupo se perdesse, seguindo para oeste, até o passo da montanha Kholat Syakhl, chamada de "Montanha da Morte" na língua dos mansi, povo indígena da região.

Como não retornaram à cidade de origem, equipes de resgate foram enviadas para a região.

A última noite

Todos os membros do grupo foram encontrados mortos. Os primeiros dois corpos foram achados próximos ao acampamento, enquanto outros três estavam perto de um pinheiro. Os últimos quatro corpos só foram encontrados dois meses depois, debaixo de quatro metros de neve em um bosque da região.

Alguns dos esquiadores foram encontrados usando apenas roupa de baixo, e o acampamento estava destruído, com as barracas rasgadas de dentro para fora.

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Os corpos não demonstravam sinais de luta, mas algumas vítimas estavam com as costelas quebradas e os crânios esmagados, enquanto uma das vítimas estava sem a língua.

Túmulo das vítimas no Cemitério Mikhajlov, em Ecaterimburgo
Túmulo das vítimas no Cemitério Mikhajlov, em Ecaterimburgo Imagem: Dmitry Nikishin/Wikimedia Commons

A ausência de testemunhas e de provas materiais (havia somente algumas anotações e câmeras fotográficas das vítimas), complicou as investigações e fez com que as autoridades soviéticas determinassem que as mortes foram causadas por uma "força desconhecida". O caso foi arquivado e o local recebeu o nome do líder da excursão.

Teorias sobre o que aconteceu

Como as mortes não tiveram uma causa definida oficialmente, diversas teorias foram levantadas sobre o que poderia ter acontecido com os jovens. Essas suposições variam de hipóteses científicas a teorias sobrenaturais e conspiratórias.

Avalanche

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A mais comum das teorias é de que uma avalanche teria atingido o acampamento. Em 2020, Andrey Kuryakov, vice-chefe da diretoria dos Urais da Procuradoria-Geral russa, anunciou uma avalanche como a "causa oficial da morte" do grupo em 1959. A conclusão foi feita após a reabertura do caso em 2019, como reportou o jornal The Moscow Times, à época.

Estudos, simulações por computador e análises independentes foram feitas por pesquisadores suíços, que também chegaram à conclusão que uma avalanche tirou a vida dos esquiadores. Segundo o artigo publicado pelos pesquisadores, uma combinação de fatores (inclusive a ação dos próprios jovens) teria causado a avalanche.

A teoria da avalanche, no entanto, é contestada por evidências contraditórias. A principal delas é que não havia sinais de um deslizamento de neve na região do acampamento, fato incomum para eventos do tipo. Uma análise do terreno e do declive também mostrou que mesmo que pudesse ter havido uma avalanche muito específica que chegasse à área, o rastro teria passado pela tenda - no entanto, a barraca caiu lateralmente, mas não na horizontal.

Estado da tenda no Passo Dyatlov conforme a equipe de resgate a encontrou em 26 de fev. de 1959
Estado da tenda no Passo Dyatlov conforme a equipe de resgate a encontrou em 26 de fev. de 1959 Imagem: Vadim Brusnitsyn/Wikimedia Commons

Vento catabático

Pesquisadores sugeriram que a ocorrência de um vento catabático poderia ser uma explicação plausível para o incidente. Esta hipótese foi formulada em 2019, após uma expedição colaborativa entre Suécia e Rússia conduzida no local e relatada no site Arkeologisk Dokumentation.

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Os ventos catabáticos, eventos relativamente raros, têm o potencial de serem extremamente violentos. Uma situação semelhante foi registrada em 1978 na montanha Anaris, Suécia, resultando na morte de oito alpinistas e ferimentos graves em outro. A expedição constatou que a topografia desses locais era semelhante.

A hipótese levantada foi a de que um repentino vento catabático teria tornado impossível a permanência na tenda. Nesse contexto, a ação mais lógica para os esquiadores teria sido cobrir a tenda com neve e buscar abrigo atrás das árvores. Além disso, no topo da barraca, havia uma lanterna acesa, possivelmente deixada intencionalmente para auxiliar o retorno assim que a intensidade dos ventos diminuísse.

A expedição sugere que os jovens teriam tentado construir dois abrigos no acampamento, sendo que um deles desabou, resultando no soterramento de quatro esquiadores e nos graves ferimentos observados.

Infrassom

Outra teoria é que o vento na área criou um caminho de vórtice de von Kármán, gerando infrassons que poderiam induzir ataques de pânico. Esta hipótese foi descrita no livro "Dead Mountain" de Donnie Eichar, lançado em 2013.

De acordo com a teoria, o infrassom, originado pelo vento ao passar pelo topo da montanha Holatchahl, teria causado desconforto físico e sofrimento mental nos jovens. Sob o efeito do pânico, os esquiadores teriam abandonado às pressas a tenda, descendo a encosta.

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Ao descer, teriam escapado do infrassom e se recuperado, mas, na escuridão, não conseguiram retornar ao abrigo. Os ferimentos de três vítimas seriam atribuídos a uma queda em um barranco devido à escuridão.

Exercícios militares

Outra hipótese sugere que o acampamento foi levantado na rota de um exercício militar soviético envolvendo bombas com paraquedas. De acordo com essa teoria, os esquiadores, despertados por explosões intensas, fugiram da tenda em estado de pânico, sendo incapazes de retornar para buscar seus suprimentos.

À medida que alguns membros pereceram devido ao congelamento enquanto tentavam sobreviver ao bombardeio, outros, ao recuperarem suas vestimentas, foram fatalmente feridos por concussões subsequentes causadas pelas bombas.

A teoria coincide com relatos de avistamentos de orbes laranja brilhantes flutuando ou caindo no céu nas proximidades dos caminhantes e supostamente fotografados por eles. De fato, há registros desse tipo de armamento sendo testado pelos militares soviéticos na área, na época em que os jovens estavam lá, como aponta Keith McCloskey no livro "Mountain of the Dead".

Outras teorias

Além das hipóteses mais difundidas, há outras menos aceitas. Uma delas, por exemplo, sugere que os jovens teriam sofrido de "despimento paradoxal", uma condição que faz pessoas em estado de hipotermia terem sensações de calor e, por isso, tirarem as roupas.

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Há também aquelas de teor fantasioso e conspiratório, como ataques de yeti (o Abominável Homem das Neves), testes de controle da mente do governo soviético e conflito com os mansi, que são conhecidos por serem um povo pacífico.

O incidente também é retratado no filme de terror found footage (estilo documentário) "O Mistério da Passagem da Morte", de 2013, que insere elementos sobrenaturais e assustadores à história.

A história também serviu de inspiração para a quarta temporada da série norte-americana "True Detective" e para a produção russa "Montanha da Morte: O Incidente na Passagem Dyatlov".

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