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Jogos Vorazes da vida real? Esse país alista seus soldados por 'loteria'

Meninos sorteiam papeis de urna e ficam sabendo se vão ou não para serviço militar; os papeis vermelhos indicam dois anos nas Forças Armadas Imagem: Reprodução/Youtube/Spiderr Channel

Do UOL, em São Paulo

19/04/2024 04h00

Esqueça os pedidos de dispensa: na Tailândia, o jeito de evitar o serviço militar obrigatório é ter sorte em uma espécie de loteria.

'Jogos Vorazes'

No sorteio tailandês, os rapazes de 21 anos tiram papeis com faixas vermelhas ou pretas. Se o papel escolhido tiver uma faixa vermelha, o jovem tem de passar dois anos servindo ao país. Caso a faixa seja preta, ele está dispensado. Os jovens são reunidos em um salão, e os resultados são anunciados para todos ouvirem.

O método ganhou fama nas redes sociais graças aos vídeos dos jovens comemorando ou lamentando o resultado —alguns até desmaiam. Segundo a lei criada em 1954, todos os homens devem se alistar aos 17 anos e ir para o serviço militar aos 21.

O processo é comparado nas redes sociais aos Jogos Vorazes, série de livros e filmes em que adolescentes são sorteados para participar de uma competição em que só um sai vivo.

Os jovens tailandeses têm duas opções:

Ir para as Forças Armadas como voluntários. Nesse caso, eles podem escolher começar o serviço em qualquer momento a partir dos 18 anos, por um período de seis meses a um ano e meio, dependendo do nível de escolaridade.

Participar do sorteio que acontece todo mês de abril, entre os dias 1 e 12. Nesse caso, os jovens participam só com 21 anos e quem retira o papel com a faixa vermelha tem de ficar dois anos em serviço.

No total, cerca de 100 mil rapazes são recrutados por ano, mas nem todos são elegíveis.

Não podem ir às Forças Armadas da Tailândia:

Rapazes com menos de 1,60 metro de altura.

Aqueles que têm doenças psiquiátricas ou limitações físicas.

Tailandeses naturalizados.

Monges budistas.

Rapazes que passaram pelo Programa de Defesa Territorial, um curso ligado às Forças Armadas que dá treinamento ainda nos anos escolares.

Pessoas que "mudaram drasticamente sua aparência física" —como transsexuais— de acordo com a Reuters.

Estudantes de alguns cursos universitários também podem pedir dispensa, mas evitam o sorteio por no máximo cinco anos a partir dos 21.

Forças Armadas já tiveram denúncia de abuso

Casos de abuso de poder e de mortes entre os recrutas foram denunciados há anos por grupos de defesa dos direitos humanos. Eles apontam a existência de rituais de iniciação violentos, que incluem até abusos sexuais, segundo a Al Jazeera.

Alguns partidos defendem o abandono desse modelo de recrutamento. O "Move Forward", popular entre os mais jovens, afirmou nas eleições do ano passado que queria acabar com a loteria e realizar uma reforma nas Forças Armadas.

Em janeiro deste ano, o ministro da Defesa da Tailândia, general Sanitchanok Sangkhachan, rebateu as críticas ao sistema afirmando que o país não consegue preencher todas as vagas necessárias nas Forças Armadas apenas com voluntários, o que faria o sorteio ser essencial, de acordo com o site Nation Thailand.

Jovens dão "golpe" para escapar

Apesar do recrutamento supostamente decidido pela sorte, há relatos de que é comum o pagamento de propina entre os mais ricos. Caso descoberto, o golpe rende até três anos de cadeia. Por outro lado, alguns enxergam o salário oferecido pelos militares como uma forma de tirar a família da pobreza.

A Tailândia já sofreu onze golpes militares desde 1932, o último deles em 2014. O governo que se seguiu continua sendo apoiado pelas Forças Armadas.

A popularidade dos militares sofre uma crise desde os anos 1970. Em 1973, a violência ao combater um protesto estudantil gerou críticas. Já em 2010, 91 pessoas morreram depois que o governo ordenou a repressão contra um movimento de oposição.

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