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Irmão de Juan Carlos 1º morreu com tiro na cabeça - rei é suspeito até hoje

Do UOL, em São Paulo

04/06/2024 04h00Atualizada em 04/06/2024 11h57

Juan Carlos 1º, rei emérito da Espanha, estava presente quando um tiro matou seu irmão, em uma história cercada de mistério até os dias de hoje.

Alfonso, que tinha apenas 14 anos, foi atingido por um disparo na cabeça, que o matou quase instantaneamente, na casa da família em Portugal.

Juan Carlos tinha apenas 18 anos quando tudo aconteceu, em 29 de março de 1956, durante o exílio da família real. A Espanha estava em meio à ditadura de Francisco Franco..

Durante o dia, ele foi com o irmão mais novo até uma competição de golfe em que Alfonso jogaria —saindo vitorioso. Na volta para casa, os dois foram até um dos salões de jogos da mansão. Pouco depois, o disparo foi ouvido pelos pais dos jovens, que encontraram o caçula já deitado no chão.

Antes do tiro: Juan foi "criado" por ditador em Madri

Juan Carlos foi "adotado" por Francisco Franco. O pai do rei, Don Juan, fechou um acordo com o ditador para garantir o retorno da família real à Espanha depois do fim de sua liderança, segundo o La Nación.

Franco gostava da ideia de ser substituído por um "descendente dos reis católicos". Nascido em Roma, Juan Carlos chegou ao país que reinou apenas aos 10 anos. A ideia era que o futuro monarca absorvesse os ideais do general.

O patriarca renunciou ao seu direito na linha de sucessão e entregou o filho mais velho aos cuidados do franquismo.

"Minha formação foi planejada entre Franco e meu pai. Fui como uma bolinha de tênis de mesa. Quando a relação entre eles estava boa, eu estudava na Espanha. Quando estava ruim, em Portugal. Essa foi minha vida até eu entrar na Academia Militar", contou o rei à revista Point de Vue, em 2014.

Juan Carlos entrou para a Academia Militar no final da adolescência, quando morava em Madri na companhia do irmão mais novo.

A tragédia aconteceu quando os dois viajaram a Portugal para as férias.

O futuro rei viajou carregando uma arma que tinha recebido de presente de um amigo de academia.

Como foi o dia da morte

Pela manhã, toda a família real foi a uma missa na Igreja de Santo Antônio, em Estoril, Portugal.

Eles almoçaram e, depois, Juan Carlos e seu pai, Juan, acompanharam Alfonso até um campeonato de golfe. O adolescente ganhou a semifinal.

O príncipe Alfonso, que morreu aos 14 anos em circunstâncias misteriosas Imagem: Reprodução/Wikipedia

De volta à casa, os irmãos foram até um salão de jogos, no primeiro piso.

Já por volta das 20h, o médico da família, Joaquín Abreu Loureiro, foi chamado para cuidar de um "problema" com Alfonso.

Ele logo atestou que o adolescente estava morto por ferimento de arma de fogo.

"Um silêncio absoluto envolve os detalhes desse evento fatídico: é um mistério, que pode ser apenas alvo das nossas hipóteses", afirmou Laurence Debray, biógrafo autorizado de Juan Carlos 1º, que foi rei da Espanha entre 1975 e 2014, quando abdicou em favor do filho, Felipe, e se tornou rei emérito.

As versões sobre o que aconteceu

A única unanimidade entre as diferentes versões da história são os momentos logo depois de Alfonso ter levado o tiro.

A mãe dos meninos escutou o disparo e correu até o salão de jogos, seguida pelo marido, que percebeu a movimentação. Lá, eles encontraram o caçula já deitado sobre uma poça de sangue. Don Juan ainda tentou reanimar o filho, mas ele morreu em seus braços.

O conde de Barcelona cobriu o corpo com uma bandeira da Espanha e se virou para dizer ao mais velho, Juan Carlos: "Me prometa que você não fez de propósito".

Já quando o assunto é o que aconteceu antes do disparo, existem pelo menos cinco versões diferentes, de acordo com o El País e La Nación:

  1. Alfonso atirou em si mesmo por acidente. A única versão em que Juan Carlos não segurava a arma veio da embaixada da Espanha em Lisboa --comandada na época por Francisco Franco. Logo após a morte, o órgão afirmou que ele estava limpando a arma na companhia do irmão mais velho quando disparou o tiro.
  2. Juan Carlos apontou a arma por brincadeira. A história veio de Josefina Carolo, costureira da mãe de Alfonso e Juan, que afirmou que a condessa de Barcelona teria dito a ela que Juan Carlos apertou o gatilho sem reparar que a pistola estava carregada.
  3. O tiro atingiu uma parede e ricocheteou. Bernardo Arnoso, amigo de Juan Carlos 1º, contou que o próprio rei emérito contou uma versão parecida com a da mãe, mas acrescentando o detalhe de que o projétil atingiu uma parede antes de ricochetear e atingir o rosto de Alfonso.
  4. Alfonso bateu no braço de Juan Carlos, que disparou. Princesa Pilar, irmã da dupla, falou à escritora Helena Matheopoulos que Alfonso foi à cozinha pegar algo para os dois comerem. Na volta, com as mãos ocupadas, ele usou o corpo para abrir a porta e acabou batendo no braço de Juan, que apertou o gatilho sem intenção.
  5. Juan Carlos estava estudando, foi "se vingar" de brincadeira do irmão e atirou por acidente. Alfonsito entrou no salão fingindo ter uma metralhadora nas mãos, imitando barulhos de tiro com a boca. Irritado pela interrupção, o futuro rei pegou a pistola que estava na escrivaninha e, acreditando que ela estava descarregada, disparou contra a cabeça do irmão, segundo a jornalista Pilar Urbano, autora de uma biografia não autorizada do rei, afirmando que a história chegou a ela por pessoas próximas a ele.

Todas as versões terminam da mesma forma, mas como a morte do adolescente não foi investigada, nenhuma foi confirmada por autoridades.

Até hoje, Juan Carlos nunca comentou publicamente a morte do irmão. O máximo que o nobre fez foi falar brevemente sobre sua amizade com o caçula, destacando que os dois se davam bem —e contrariando teorias de que, talvez, ele tivesse atirado de propósito no irmão, que era o filho favorito do pai, segundo a mídia espanhola.

"Éramos muito cúmplices. Eu o amava muito. Ele era muito simpático e esperto, jogava golfe muito bem. Ainda sinto muito a falta dele. Não poder tê-lo ao meu lado, não poder falar com ele, mas a vida deve continuar", afirmou ele em entrevista à escritora francesa Laurence Debray.

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