Mundo tem o 12º mês seguido de recorde de calor em maio
Do UOL*, em São Paulo
05/06/2024 22h50Atualizada em 05/06/2024 23h49
Maio de 2024 foi o mais quente já registrado nesse período do ano no mundo (em terra e no mar), pelo 12º mês consecutivo com recordes de calor, segundo anunciou o observatório europeu Copernicus nesta quarta-feira (5).
O que aconteceu
Maio foi o 12º mês consecutivo em que a temperatura média global atingiu um valor recorde para o respectivo mês. Em maio, a temperatura média atingiu 1,52°C acima dos níveis pré-industriais, de acordo com os dados do C3S (Serviço de Monitoramento das Alterações Climáticas do programa Copernicus).
Aquecimento global está tornando mais intensos e frequentes eventos extremos, como enchentes e secas. Ao longo dos últimos 12 meses, a temperatura global média bateu recordes mês após mês, numa série consecutiva "chocante", de acordo com o diretor do C3S, Carlo Buontempo. "Embora essa sequência de meses recordes vá em algum momento ser interrompida, a influência das alterações climáticas se mantém e não há sinais de uma alteração nessa tendência", afirma Buontempo.
Os dados climáticos mais recentes mostram que o mundo está "muito fora do rumo". A fala de Ko Barrett, secretária-geral-adjunta de agência da ONU, se refere ao objetivo de limitar o aquecimento a 1,5°C, que era a meta principal do Acordo de Paris de 2015.
Outro sinal preocupante é que o ano de 2023 terminou com uma anomalia de 1,48° C em relação a 1850-1900. Segundo Copernicus, esse quadro ocorreu devido à mudança climática e a um aumento pontual do aquecimento contribuído pelo fenômeno natural El Niño. Em um período de 12 meses contínuos, já foi ultrapassado 1,5°C: a temperatura média de junho de 2023 a maio de 2024 foi de 1,63°C, segundo Copernicus, em comparação com 1850-1900.
Algo nunca visto antes, provavelmente há milênios, segundo os climatologistas, que observam a multiplicação e intensificação de ondas de calor mortais, secas e enchentes devastadoras em todo o mundo. Embora a humanidade tenha concordado em dezembro, na COP28 em Dubai, em abandonar gradualmente os combustíveis fósseis, o seu declínio não é iminente.
O ano de 2023 foi o mais quente já registrado. No ano passado, as temperaturas ficaram elevadas em razão das alterações climáticas (que por sua vez são impulsionadas pela queima humana de combustíveis fósseis, como o carvão, o petróleo e o gás), mas também influenciadas pelo fenômeno natural El Niño, que naturalmente aumenta as temperaturas.
Em relatório, agência da ONU indica que recorde de 2023 deve ser batido em ao menos um dos próximos cinco anos — entre 2024 e 2028. "Durante o ano passado, a cada troca de mês elevava-se o calor. O nosso planeta está tentando nos dizer algo, mas parece que não estamos ouvindo", afirmou o secretário-geral da ONU, António Guterres. "Chegou a hora de nos mobilizarmos, de agirmos e de apresentarmos resultados."
ONU mostra preocupação com o quadro
Os humanos representam o mesmo "perigo" para o planeta que "o meteorito que exterminou os dinossauros." A afirmação, foi dada nesta quarta por Guterres.
O secretário-geral pediu a proibição da publicidade do petróleo, gás e carvão, as principais causas do aquecimento global. "Na questão do clima, não somos os dinossauros. Somos o meteorito. Não estamos apenas em perigo. Somos o perigo", disse António Guterres durante um longo discurso em Nova York.
O principal alvo das críticas de Guterres, como de costume, é o setor das energias fósseis (carvão, petróleo, gás). Eles são "os padrinhos do caos climático" que "acumulam lucros recordes e se beneficiam de bilhões em subsídios".
"É um momento crítico para o clima", insistiu o secretário-geral. Ele apelou a "tomar a rampa de saída para abandonar a estrada que leva ao inferno climático", em um momento em que os países devem apresentar novas metas de redução de emissões de gases de efeito estufa antes do início de 2025.
Seca na Índia, enchente no Rio Grande do Sul
O aquecimento global está levando a eventos meteorológicos cada vez mais extremos, como ondas de calor mais longas e mais quentes, com secas e incêndios florestais, ou chuvas mais intensas, seguidas de enchentes. Na Índia, as últimas semanas foram marcadas por ondas de calor implacáveis, com temperaturas que chegaram a cerca de 50°C em algumas regiões, matando ao menos 50 pessoas.
No Rio Grande do Sul, chuvas causaram graves inundações, que desalojaram mais de meio milhão de pessoas. Cientistas que estudam as ligações entre o clima extremo e as mudanças climáticas estimaram que as chuvas tiveram uma probabilidade duas vezes maior de ocorrerem e de terem sido até 6% mais intensas como resultado do aquecimento global.
Os mais vulneráveis são os mais afetados
O aquecimento global está tendo um impacto especial no setor de trabalho informal. Os trabalhadores da linha de frente da agricultura e da construção civil, por exemplo, não têm ar-condicionado e não conseguem evitar o calor extremo, observa a pesquisadora climática indiana Avantika Goswami.
"Eles estão absolutamente expostos", disse ela à DW. "O estresse por calor não é apenas um enorme desafio de produtividade em termos de força de trabalho e impactos econômicos, mas também uma enorme crise de saúde pública."
Mas são os mais vulneráveis — idosos, pessoas com deficiências e crianças — que correm mais riscos de sofrer as consequências das mudanças climáticas. Estima-se que cerca de 1,2 milhão de crianças estejam vivendo em áreas altamente sensíveis às mudanças climáticas, mas são os menores de 5 anos que correm mais risco, disse a diretora de saúde e nutrição da ONG Save the Children, Revati Phalkey.
Ações climáticas internacionais
Mais de 6 mil negociadores estão participando esta semana de negociações sobre o clima em Bonn, na Alemanha. O evento visa estabelecer as bases para uma nova meta financeira que deverá ser decidida na cúpula COP29, em Baku, no Azerbaijão, no fim de 2024.
Os países em desenvolvimento, que são os que menos contribuíram para as mudanças climáticas, enfrentam desproporcionalmente mais impactos. Os governos dessas nações estão pedindo mais dinheiro para que possam reduzir suas emissões de dióxido de carbono, mas também para ajudar as comunidades a lidar com eventos climáticos extremos.
(Com AFP, Deutsche Welle e Reuters)