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Ferida no Líbano deixou Brasil após agressão do marido: 'Levou meus filhos'

Do UOL, São Paulo

13/06/2024 04h00Atualizada em 13/06/2024 10h07

A brasileira que ficou ferida durante bombardeio no Líbano no dia 1º de junho contou que precisou sair do Brasil após ter sido agredida pelo marido, que teria viajado com os filhos em seguida. Fátima Boustani, de 30 anos, concedeu entrevista exclusiva ao UOL.

O que Fátima disse

Fátima disse que o marido ''tentou matá-la''. A agressão aconteceu em setembro de 2023 em Marília (SP), quando o casal e os quatro filhos ainda moravam juntos no Brasil.

Vizinhos encontraram Ahmed Aidibi enforcando a mulher no quarto dos dois. As testemunhas chamaram a polícia e o homem fugiu em seguida para Itapevi (SP), levando os passaportes da família, os registros de nacionalidade estrangeira e o celular de Fátima.

Ahmed teria pedido ao irmão dele para buscar os filhos na casa. Uma semana depois, ele embarcou para o Líbano com as crianças. Fátima e seu advogado registraram um boletim de ocorrência no 5º DP de Marília após o episódio.

Segundo Fátima, o homem a teria enganado para assinar um termo de autorização para viajar com os filhos. Ahmed disse a Fátima que os papéis faziam parte dos trâmites para liberação da nacionalidade brasileira da esposa, que é natural do Líbano e tentava obter os documentos. O processo foi concluído e publicado no Diário Oficial da União em 30 de janeiro deste ano.

''No hospital [após ataque no Líbano] tive alucinações com ele'', contou. A mulher relembra que no dia em que teve alta do hospital imaginou que o homem tivesse ido buscá-la. ''Não quero ele aqui'', teria sido a primeira coisa que ela falou ao acordar.

A SSP (Secretaria de Segurança Pública de São Paulo) informou ao UOL que o caso foi arquivado. A Polícia Civil iniciou as apurações do caso e, em contato com a Polícia Federal, foi informada que o pai tinha a autorização da mãe para a viagem e, por isso, ''não houve constatação do crime''.

Vizinho acompanhou Fátima até a delegacia

Vizinho diz ter presenciado a agressão. O homem, que pediu para não ser identificado, acompanhou Fátima até a delegacia para registrar o boletim de ocorrência.

Ele contou que sempre ouviu barulhos estranhos na casa, mas achava que era por causa das crianças. Segundo o vizinho, após a agressão, a mulher estava determinada a levar a denúncia da violência para frente, até que um amigo do marido foi à casa dela. Ele ainda relatou que os dois conversaram em árabe e, depois disso, Fátima recuou.

Para o vizinho, tudo o que aconteceu com Fátima no Líbano foi por causa do marido. "Se não fosse o que ele fez com ela, a Fátima não teria ido", destacou.

Marido nega agressão

Ao UOL, Ahmed Aidibi negou as agressões. Ele afirmou que estava falando alto em "briga de casal" e que os vizinhos escutaram. Como ele quase não fala português, a conversa com a reportagem contou com a tradução do irmão dele.

O marido de Fátima disse que levou as crianças para o Líbano porque elas não se acostumaram com o idioma e com a escola no Brasil. Ele relatou que o irmão dele buscou os filhos em casa para levar ao aeroporto, e que a esposa iria depois. O homem não explicou por que ele mesmo não buscou os próprios filhos.

Aidibi demonstrou surpresa sobre a possibilidade de divórcio. A família de Fátima contou que irá entrar com pedido de separação. O marido, entretanto, diz conversar diariamente por telefone com a esposa. Ela, por sua vez, afirma que não fala com o marido, e que ele liga para conversar com as crianças.

''Fiquei sob escombros''

A brasileira disse que as memórias do ataque a têm atormentado todos os dias. Segundo Fátima, o bombardeio aconteceu a quatro metros de onde morava e, desde que teve alta, a lembrança do momento se intensificou.

''Estava na cozinha fazendo o almoço das crianças quando o fogão explodiu em cima de mim'', relatou. Em seguida, ela já estava embaixo dos escombros e a casa inteira havia sido destruída. ''Não quero nem mesmo voltar lá para ver como ficou.''

A filha de 12 anos foi ferida na perna e começou a gritar para ajudarem a mãe. Segundo os familiares, a adolescente não conseguia se levantar e estava receosa porque sabia que Fátima estava sozinha. Depois de seis minutos, a equipe de resgate chegou ao local.

Recomeço no Brasil

Fátima pretende retornar ao Brasil após se recuperar. ''Tenho muito medo de ficar aqui [no Líbano] após o ataque'', falou. A mulher teve sua segunda filha, Wajhi, em solo brasileiro em 2013. Também esteve aqui nos anos de 2018, 2021 e 2023.

''Quero recomeçar e cuidar dos meus filhos aí'', afirmou. ''Ela pede ajuda para que possa voltar ao Brasil com as crianças e ter um recomeço em paz, longe do ex-marido'', explicou o irmão de Fátima, Hussein Boustani.

Ela acredita que as leis brasileiras possam ser mais protetivas às mulheres do que no Líbano. ''Só quando ele tentou matá-la que ela teve coragem de contar tudo que ela e as crianças sofriam'', acrescentou Hussein.

Fátima disse estar em constante contato com o embaixador do Brasil no Líbano. Segundo ela, o diplomata Tarcísio Costa tem acompanhado o caso de perto e chegou a levar presentes aos filhos no dia que teve alta hospitalar.

O UOL procurou o Itamaraty para saber como poderia oferecer e garantir a segurança dela e das crianças na volta para o Brasil e aguarda retorno. Se houver resposta, o texto será atualizado.

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