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50ºC e 2 milhões de fiéis: como é peregrinação a Meca que deixou mil mortos

Homem passa mal de calor durante peregrinação de muçulmanos a Meca, na Arábia Saudita Imagem: Fadel Senna/AFP

Colaboração para o UOL, de São Paulo*

21/06/2024 04h00Atualizada em 21/06/2024 08h41

Mais de mil pessoas morreram durante peregrinação anual a Meca, na Arábia Saudita, devido às altas temperaturas, que passaram dos 50ºC na cidade sagrada.

Como é a peregrinação

Chamada de Hajj, ela leva milhares de muçulmanos a Meca todos os anos. Trata-se de um dos cinco pilares do islã e, por isso, os fiéis que tiverem condições físicas e financeiras para realizá-lo devem fazê-lo ao menos uma vez na vida.

A peregrinação consiste em uma série de ritos religiosos realizados na cidade sagrada e em seus arredores. Os fiéis percorrem diversos locais na Arábia Saudita, como Arafat, Muzdalifa e o Vale da Mina. Mas a jornada começa e termina, tradicionalmente, em Meca, onde o profeta Maomé iniciou a sua pregação.

Ela acontece uma vez ao ano e as datas são determinadas de acordo com o calendário muçulmano, com base nos ciclos lunares. Nos últimos anos, os rituais têm ocorrido sob temperaturas escaldantes — a situação tem piorado com o aquecimento global. Um estudo saudita publicado em maio alertou que as temperaturas nos locais onde os rituais acontecem estão aumentando 0,4ºC a cada dez anos, como resultado das mudanças climáticas.

Durante o Hajj, os peregrinos entram no estado sagrado de "ihram" e devem seguir algumas regras específicas. Vestir roupas simples, não ceder à raiva, nem praticar atividades sexuais são algumas delas, conforme a Al Jazeera.

Um dos principais rituais realizados durante o Hajj é o chamado "tawaf", que consiste em contornar a Caaba (uma estrutura em forma de cubo no centro da grande mesquita de Meca) no sentido anti-horário sete vezes. Caaba é conhecida, metaforicamente, como a casa de Deus e é em direção a ela que os muçulmanos se dirigem durante as suas rezas.

Peregrinos se reúnem ao redor da Caaba conhecida, metaforicamente, como a casa de Deus Imagem: AFP

Quem são as vítimas

658 têm nacionalidade egípcia. Também estão na lista cidadãos da Jordânia, Turquia, Indonésia, Senegal, Irã, Tunísia, Malásia, Paquistão, Índia, e do Curdistão iraquiano.

A Arábia Saudita tem um sistema de cotas de peregrinos por país. Mas todos os anos dezenas de milhares de pessoas viajam ao reino por canais irregulares, porque não têm dinheiro suficiente para pagar os custos dos trâmites oficiais. Estas pessoas são mais vulneráveis ao calor extremo, porque sem documentos oficiais não podem ter acesso aos espaços com ar-condicionado disponibilizados pelas autoridades sauditas, que este ano receberam 1,8 milhão de peregrinos autorizados.

O Hajj aconteceu de sexta-feira (14) a domingo (16), quando os termômetros atingiram 51,8ºC na cidade sagrada de Meca. No domingo, as autoridades sauditas afirmaram que haviam atendido mais de 2.000 peregrinos que sofriam de stress térmico, sem fornecer informações sobre as mortes.

Como o corpo reage ao calor extremo

As pessoas devem manter sua temperatura constante, em torno de 37ºC. Quando a temperatura externa aumenta de maneira muito intensa, o corpo humano deve se adaptar para perder temperatura, a fim de manter a sua temperatura interna constante. Porém, em algumas situações, essa adaptação não acontece e a temperatura do corpo aumenta, e pode passar dos 40 graus, causando um pico de calor.

Se a temperatura interna passar dos 40ºC, pode haver consequências para o cérebro, delírios, crises de epilepsia e até coma. Se a temperatura continuar a aumentar, o paciente pode sofrer perturbações cardiovasculares, num contexto de desidratação que leva à morte. Bruno Megarbane, médico do hospital Lariboisière, em Paris, à RFI

*Com informações da AFP, ANSA e RFI

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