Como plano do Panamá de fechar rota de imigração pode ajudar Biden

O presidente eleito do Panamá, José Raúl Mulino, propôs fechar, com a ajuda dos EUA, o corredor do Estreito de Darién e deportar migrantes que cruzarem a selva.

O que aconteceu

Mulino propõe ao presidente dos EUA, Joe Biden, fechar o Estreito de Darién, a única passagem por terra entre as Américas do Sul e Central, uma das principais rotas de imigração ilegal da região.

Ele também prometeu deportar os migrantes que entrarem no país pela selva de Darién, fronteiriça com a Colômbia, em seu trajeto até os EUA. A ideia é ter voos diários para repatriá-los aos seus países de origem.

Para acabar com a odisseia de Darién, que não tem razão de ser (...), começaremos, com ajuda internacional, um processo de repatriação, com todo o respeito aos direitos humanos de todas as pessoas que ali estão.
José Raúl Mulino, presidente do Panamá

Antes mesmo de ser eleito, Mulino já havia anunciado, em 16 de abril, durante um evento de campanha, a intenção de "fechar" Darién. "Para que saibam os de lá (os países sul-americanos) e os que desejam vir: quem chegar aqui será devolvido ao seu país de origem", disse.

A migração é um tema crucial na campanha eleitoral dos EUA. Por isso, o governo norte-americano deve arcar com os custos dessa operação. "Estou muito motivado e muito decidido a colaborar, do nosso país, com o governo Biden no sentido de uma solução para esse problema nos EUA", disse Mulino ao colunista do jornal O Estado de S. Paulo Andrés Oppenheimer.

A retórica de Biden sobre a imigração sempre foi mais positiva. Ele assumiu a presidência dos EUA em 2021 sob a promessa de reverter as políticas anti-imigração adotadas por seu antecessor, Donald Trump.

Agora, às vésperas de tentar a reeleição, Biden enfrenta uma crise sem precedentes e tem de "pisar em ovos" para controlar o fluxo migratório sem que essas ações o façam perder votos — especialmente do eleitorado latino —, segundo especialistas. Nesse contexto, a proposta de Mulino pode, então, ser interessante à campanha de Biden, já que seria capaz de reduzir drasticamente o número de migrantes que conseguem chegar aos EUA.

Como é o Estreito de Darién?

A floresta do Estreito de Darién, na fronteira entre Colômbia e Panamá, tem 266 km de extensão e 575 mil hectares de superfície. O território é desafiador, com perigos que vão além da natureza.

O Estreito de Darién já foi considerado pela BBC britânica como a selva mais perigosa do mundo. Trata-se de uma área de floresta impenetrável para veículos, o que obriga motoristas a colocarem seus carros em uma embarcação para ir do território colombiano ao panamenho. Em suas densas matas, sob um clima extremamente úmido, correm rios bravos, surgem extensos pântanos e circulam traficantes armados que levam cocaína da América do Sul para os Estados Unidos.

O Estreito de Darién, inclusive, interrompe a rodovia Panamericana, a mais longa rodovia para veículos motorizados do mundo, de acordo com o Guinness World Records. Neste trecho, na verdade, é como se a Panamericana deixasse de existir: não há asfalto e viajantes só podem seguir caminho em uma trilha a pé pelo meio da mata densa.

Rota de migração. A fronteira se tornou um corredor obrigatório para milhares de migrantes que, partindo da América do Sul, tentam chegar sem vistos aos EUA, atravessando a América Central e o México.

Em 2023, mais de 520 mil pessoas cruzaram a selva. Até maio deste ano, mais de 150 mil pessoas já passaram por essa rota, a maioria venezuelanos, além de haitianos, equatorianos e colombianos. Também há asiáticos, principalmente chineses, e africanos.

Os migrantes deixam um rastro de lixo na selva: botas, meias, garrafas plásticas, cuecas, sutiãs, óculos, escovas de dente e fraldas. Muitos resíduos também cobrem as margens dos rios. Segundo o governo panamenho, isso tem causado danos ambientais irreversíveis.

Além disso, os migrantes correm grandes perigos, já que a região é área de atuação vários grupos criminosos. Toda a cocaína que sai da Colômbia por terra em direção aos EUA passa necessariamente pelo Darién.

*Com AFP e reportagens publicadas em 20/04/2022, 24/06/2022 e 26/06/2024