Análise: Apagão não foi ataque externo, mas causado pelo próprio sistema
Colaboração para o UOL, em São Paulo
19/07/2024 12h50
O apagão global que ocorreu nesta sexta-feira (19) não foi provocado por um ataque externo, mas por uma falha do próprio sistema, explicou o diretor do ITS Rio (Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio), Fabro Steibel, no UOL News desta sexta-feira (18).
O problema no sistema da Microsoft afeta aeroportos, bancos e empresas de mídia em vários países do mundo nesta sexta.
Existem alguns lugares aonde a internet passa, que a gente pode chamá-los de infraestruturas digitais. Há alguns lugares que são gargalos e, nesses locais, existem portões. Ali, você precisa de alguém que identifique o que foi um ataque e alguém que proteja você disso. Quando a gente fala de ataque cibernético, não pensamos nas pessoas, pensamos em estados. Grandes estados fazem grandes ataques. A resposta do portão tem que ser preparada para esse grande ataque. Moral da história: quem ataca, usa inteligência artificial, quem se defende, usa inteligência artificial.
O que aconteceu foi que uma das atualizações deste sistema criou um problema em série. Então, você tem várias entradas identificadas como ataque, e aí tudo começa a cair sistematicamente. Já aconteceu antes, e tem grande chance de acontecer de volta.
É como se fosse uma doença autoimune: você entende que há algo que é seu, que é legítimo e não é e você começa a bloquear. Não foi um ataque externo, foi algo do sistema. O sistema, que era para ser comportar de uma forma, passou a se comportar de forma inversa.
O que aconteceu
Microsoft diz que falha foi corrigida, mas aplicativos e Office 365 ainda têm falhas. Empresa diz que impacto residual do apagão pode impactar no tempo de normalização dos serviços.
Aeroportos brasileiros não tiveram sistema afetado, mas oito voos atrasaram. A Aena, que administra o aeroporto de Congonhas (SP) e outros 16 no Brasil, diz que cinco voos atrasaram em Recife, um em Campo Grande, um em Santarém (PA) e um em Monte Claros (MG), "por questões das companhias aéreas". Segundo a concessionária, "os sistemas estão funcionando normalmente e não houve impacto às operações de pouso e decolagem". Já o aeroporto de Guarulhos opera normalmente, informou a assessoria de imprensa.
As companhias aéreas United e Delta paralisaram todos os voos nos Estados Unidos. A American Airlines também atrasou viagens, mas diz que as operações foram retomadas por volta das 6h (horário de Brasília).
Na Espanha, a autoridade aeroportuária relatou que o incidente nos sistemas de computador paralisou as operações em todos os aeroportos do país. O tráfego aéreo na Alemanha, Reino Unido, Austrália, Hong Kong e Amsterdã também foi fechado.
Sem sistema, as companhias aéreas entregaram bilhetes aéreos manuscritos. Há relatos no Reino Unido e Índia.
Sistema de pagamento está fora do ar em vários países, incluindo Nova Zelândia. Os serviços de farmácias e clínicas médicas também foram afetadas, com cirurgias eletivas sendo canceladas na Alemanha.
No Brasil, os aplicativos dos bancos Bradesco, Neon, Next e Pan estão fora do ar desde a noite de quinta (18), segundo o site Downdetector. O Bradesco confirmou que seus serviços foram afetados pelo apagão. O UOL ainda tenta contato com os bancos Neon e Pan.
O que causou o apagão?
Incidente está relacionado a um erro na atualização da empresa de cibersegurança CrowdStrike. As primeiras informações indicam que o apagão teve origem em sistemas da CrowdStrike que usam o sistema Windows, da Microsoft.
"Este não é um incidente de segurança ou ataque cibernético. O problema foi identificado, isolado e uma correção foi implantada", afirmou o CEO do CrowdStrike, George Kurtz. Ele diz que a empresa está trabalhando ativamente com os clientes afetados.
(Com informações da Deutsche Welle)
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