Fake news da extrema direita gera caos após morte de meninas na Inglaterra
Do UOL, São Paulo
01/08/2024 13h32Atualizada em 01/08/2024 13h32
Uma desinformação da extrema direita inglesa sobre o ataque com faca que deixou três crianças mortas em Southport gerou protestos violentos, prisões e caos. Entenda como ocorreu a escalada de tensão após trágico episódio.
O que aconteceu
Alice Dasilva Aguiar, 9, Elsie Dot Stancombe, 7, e Bebe King, 6, foram mortas esfaqueadas. Outras oito crianças ficaram feridas, cinco delas em estado grave, além de dois adultos, na última terça-feira (30) em Southport, cidade do litoral.
O ataque ocorreu durante uma aula de dança de férias com tema da artista Taylor Swift. Um garoto de 17 anos, identificado como Alex Rudakubana, é apontado como autor dos assassinatos, foi detido e compareceu a um tribunal inglês.
Extrema direita espalhou desinformação
Apoiadores da extrema direita começaram a disseminar nas redes sociais a informação de que o suspeito era terrorista. O caso gerou revolta e desencadeou duas noites de protestos violentos pela Inglaterra, incitando ódio contra imigrantes e muçulmanos.
Os atos também interferiram nas homenagens que estavam sendo feitas às vítimas. Políticos e policiais disseram que a maioria dos manifestantes não era da região e que os confrontos atrapalharam a vigília com presença de milhares de pessoas.
Parte da comunidade havia ido para as ruas homenagear as vítimas, depositando flores nos túmulos. ''Aqueles que sequestraram a vigília pelas vítimas com violência e insultaram a comunidade enquanto ela sofre sentirão toda a força da lei'', disse o premiê sobre os atos violentos.
Usando as mídias sociais e plataformas, extremistas de direita convocaram pessoas a irem à Southport. ''Usem máscaras'', aconselharam as mensagens, também orientando o local onde se encontrariam e apontando uma mesquita próxima, que seria um dos palcos do tumulto.
A polícia desmentiu os ativistas e disse que o ataque não estava relacionado ao terrorismo. Além disso, a corporação afirmou que o adolescente nasceu na Grã-Bretanha. O menino era de Cardiff, nos Países de Gales, e se mudou para Inglaterra em 2023, segundo a BBC. Os pais dele são de Ruanda.
Ao menos 100 pessoas foram presas durante as manifestações. Extremistas de direita teriam entrado em confronto com as forças policiais, incendiando automóveis e atirando tijolos e outros objetos contra os agentes.
39 policiais ficaram feridos. Segundo o Serviço de Ambulâncias do Noroeste, 27 deles precisaram ser levados ao hospital. Oito sofreram ferimentos graves, incluindo fraturas. Além deles, três cães da polícia também foram atingidos.
O primeiro-ministro britânico Keir Starmer precisou convocar uma reunião de crise após as manifestações. Ele pretende conversar com chefes de polícia sobre a escalada da tensão e possíveis ações de contenção.
Parlamentar é acusado de incitar violência
Entre os que espalharam fake news sobre Alex, está um membro do parlamento do Reino Unido. Um ex-chefe de polícia antiterrorismo acusou Nigel Farage de ajudar a incitar os protestos violentos registrados nos últimos dias.
Farage foi criticado por comentários a respeito do ataque. Em um vídeo, ele questiona ''se a verdade está sendo ocultada de nós''. ''Não sei a resposta para isso, mas acho que é uma pergunta justa e legítima'', acrescentou.
Neil Basu, ex-oficial sênior da Scotland Yard, afirmou que Farge inflamou teorias da conspiração e deu base falsa para a violência. Em entrevista à agência de notícias PA, o parlamentar esclareceu que ''apenas expressou um sentimento de tristeza e preocupação''.
Tribunal permite identificação de garoto
O juiz Menary KC suspendeu a ordem de anonimato. O tribunal da coroa de Liverpool disse que a agitação nos protestos foi uma das razões pelas quais era de interesse público divulgar o nome do acusado, de acordo com The Guardian.
O reú completará 18 anos nas próximas semanas. Isso pode fornecer uma "desculpa adicional para uma nova rodada de desordem pública", disse o juiz.
Durante a audiência, Axel cobriu o rosto com um moletom. Ele se recusou a falar e não confirmou seu próprio nome. Em alguns momentos, balançou a cabeça para confirmar algumas informações.
Taylor Swift disse estar em choque
A cantora se manifestou na terça (30) depois do ocorrido. As aulas de dança eram dedicadas às músicas da artista para o público infantil, de 6 a 11 anos.
''O horror do ataque de ontem em Southport vem tomando conta de mim'', relatou. ''A perda de vidas e de inocentes, e o terrível trauma que isso causou a todos que estavam lá, às famílias e aos socorristas", acrescentou ela. "Eram apenas crianças em uma aula de dança", finalizou, prestando solidariedade às famílias em luto.
* Com informações da Reuters