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Risco de escalada da guerra marca dia 300 do conflito entre Israel e Hamas

A guerra entre Israel e Hamas completa 300 dias nesta quinta-feira (1º) sem um horizonte de resolução. Pelo contrário, com a morte do líder Ismail Haniyeh, em Teerã, o conflito pode escalar e se tornar regional, apontam autoridades e especialistas.

O que aconteceu

Em quase dez meses de guerra, quase 40 mil pessoas morreram na Faixa de Gaza. Na Palestina, mais de 80% dos 2,3 milhões de habitantes de Gaza tiveram que ser deslocados e mais de 14 mil crianças foram mortas por ataques israelenses. Essa ofensiva foi rotulada por muitos analistas como uma "guerra de vingança".

Israel impulsionou ofensiva militar ao território após um ataque de combatentes do grupo extremista Hamas a civis durante um festival em Re'im. À época, mais de mil pessoas morreram e 240 foram sequestradas. Desse total de reféns, após 300 dias, 115 não retornaram para casa.

No balanço de feridos, foram quase 100 mil feridos em Gaza desde 7 de outubro do ano passado. De acordo com lideranças de Gaza, mais de 70% das vítimas são mulheres e crianças. Há ainda 7.000 pessoas desparecidas, possivelmente entre escombros da guerra.

Violação de convenção sobre genocídio. Em abril deste ano, em um relatório publicado pela relatoria especial para o território palestino ocupado, a Organização das Nações Unidas declarou que Israel violou três de cinco atos listados na Convenção da ONU sobre genocídio.

Atores internacionais falharam na missão de intermediar acordo, segundo especialista. Bruno Huberman, doutor em Relações internacionais e vice-líder do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais da PUC-SP, afirma que a manutenção do conflito passa por grandes nações, que falham ao não conseguir interromper a guerra e financiar ataques.

Há uma incapacidade dos atores internacionais de enfrentar os EUA. Certamente a manutenção passa por essa proteção política e diplomática, e esse apoio militar. Principalmente de bombas e armamentos para Israel. Sem isso, não teria mais guerra. Não teriam ataques. Óbvio que o ataque [do Hamas] de 7 de outubro trouxe pretexto para isso, mas vejo uma violência assimétrica.
Bruno Huberman, doutor em Relações Internacionais

Fome e território devastado

Região de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, ficou destruída após ataque
Região de Khan Younis, no sul da Faixa de Gaza, ficou destruída após ataque Imagem: Mohammed Salem/Reuters
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Mais da metade das casas de Gaza foi destruída. A Agência das Nações Unidas para Assistência aos Refugiados da Palestina e Oriente disse que 62% de todos os imóveis do território na região foram destruídos. Foram mais de 400 mil imóveis derrubados ou danificados em território palestino.

Metade da população de Gaza antes da guerra enfrenta insegurança alimentar aguda. A informação foi divulgada pelo órgão de Classificação Integrada de Fases de Segurança Alimentar, conhecido como IPC.

Hospitais em Gaza foram atacados durante a guerra. Israel bombardeou dezenas de unidades hospitalares no território. Em março, o diretor-geral da OMS (Organização Mundial da Saúde), Tedros Adhanom, afirmou que apenas 10 de 36 hospitais de Gaza estavam funcionando. Pacientes e profissionais de saúde voluntários morreram durante os ataques.

A gente viu cenas grotescas. Pessoas degoladas, queimadas, bairros destruídos e muita gente morrendo de fome. O palestino tenta continuar a viver. Fazem ações, se ajudam fazendo refeições e buscam encontrar uma razão para viver. Acho que isso merece ser destacado.
Bruno Huberman, doutor em Relações Internacionais

Acordos fracassados

22.03.2024 - Reunião do Conselho de Segurança da ONU para votar sobre cessar-fogo em Gaza
22.03.2024 - Reunião do Conselho de Segurança da ONU para votar sobre cessar-fogo em Gaza Imagem: Angela Weiss/AFP
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Em meio ao conflito histórico entre Israel e Hamas, estimulado pelo controle da região de Gaza, potências mundiais movem peças dentro tabuleiro da guerra. Em reuniões na ONU, países tentam convencer Israel, Hamas e outros grupos árabes aliados por um acordo de cessar-fogo.

No entanto, para um acordo, Israel exige exterminação do grupo e controle sobre o território. O Hamas, por sua vez, exige o fim da guerra e a permanência do seu poder em Gaza.

Ao menos seis acordos de cessar-fogo foram definidos pelo Conselho de Segurança da ONU. Contudo, apenas um foi aceito pelas partes, que resultou em uma trégua de sete dias e a libertação de cem reféns por parte do Hamas. Todas as outras resoluções foram discordadas, ou pelo lado israelense, ou pelos aliados do Hamas.

Morte de líder do Hamas

Ismail Haniyeh, líder do Hamas, morreu em ataque no Irã
Ismail Haniyeh, líder do Hamas, morreu em ataque no Irã Imagem: Mahmud HAMS / AFP

Após um bombardeio em Teerã, no Irã, o líder do Hamas, Ismail Haniyeh foi morto. Ele era o rosto internacional do grupo e um dos responsáveis por negociações de cessar-fogo.

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"Nós nos vingaremos", pontuou o aiatolá Ali Khamenei, chefe máximo do Irã. Em pronunciamento, o líder iraniano disse que Israel deu base para uma "punição dura e uma vingança muito difícil".

Após o ataque, um ministro israelense comemorou a morte. "Não há mais acordos imaginários de paz/rendição. Não há mais misericórdia. A mão de ferro que os atingirá é a que trará paz e um pouco de conforto e fortalecerá nossa capacidade de viver em paz com aqueles que desejam a paz. A morte de Haniyeh torna o mundo um pouco melhor", comentou. O ministro Yoav Gallant, após posição do Irã, afirmou estar pronto para guerra. O país, entretanto, não assumiu oficialmente a autoria do ataque.

Até mesmo aliados dos EUA alertaram para o precedente que a morte pode gerar. O governo da Jordânia, por meio do ministro das Relações Exteriores, Ayman Safadi, disse que: "a continuação da agressão de Israel contra Gaza, sua violação dos direitos do povo palestino e seus crimes contra ele, e sem ação internacional para conter sua agressão, arrastará a região para mais guerras e destruição".

Já o Egito apontou que Israel demonstra que "não tem vontade política" de chegar a um acordo após o ato. Huberman acredita que esse ataque gerará efeitos drásticos para toda a região do Oriente Médio.

A capacidade de resistência do Hamas é limitada. Apesar de ainda estarem conseguindo manter a resistência e atingir israelenses que ocupam a Faixa de Gaza, seja por meio de armas, pelo tráfico de armas que entram através do Egito. Eu vejo uma escalada regional.
Bruno Huberman, doutor em Relações Internacionais

O Hamas é aliado do Hezbollah, Irã, Síria, dos Houths, no Iêmen, Iraque. Todos esses atores já estão se envolvendo no conflito de alguma forma e o que a gente deve ver nas próximas semanas é uma intensificação. Antes do assassinato, Israel fez um ataque a Beirute. O que não acontecia há anos.
Bruno Huberman, doutor em Relações Internacionais

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Manifestações marcam o 'dia 300' em Israel

"Não descansaremos até que todos os nossos entes queridos voltem para casa", disse o governo israelense em uma publicação no X. Em uma série de homenagens às vítimas, Israel decorou cartões postais com o número '300'.

Manifestantes também saíram em manifestações em diversas cidades do país, intitulando o movimento de "Marcha dos 300". Populares apelam pela libertação dos mais de 100 sequestrados ainda sob controle do Hamas.

Já em Gaza, palestinos lamentaram a morte do líder do Hamas, acreditando que isso deixa o conflito ainda mais distante de um acordo. Segundo o embaixador do Brasil na Cisjordânia, Alessandro Candeias, centenas de manifestantes marcharam por Ramallah e outras cidades em protesto. Os moradores acreditam que Hanieyeh poderia negociar a troca de prisioneiros pelo fim da guerra — o que fica impossibilitado com a morte.

Brasileiros estão apreensivos e temem escalada. Ainda conforme o embaixador, a comunidade de pouco mais de 6.000 brasileiros na zona central da Cisjordânia permanece em alerta por medo de ondas de violência.

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