OPINIÃO
Tales: Estratégia de Maduro é transformar conflito na Venezuela em global
Colaboração para o UOL, em São Paulo
02/08/2024 10h53
Ao subir o tom contra opositores e anunciar a prisão de 1.200 pessoas, o ditador Nicolás Maduro deixa claro seu plano de fazer da tensão política na Venezuela um conflito internacional, afirmou o colunista Tales Faria no UOL News desta sexta (2).
Maduro reagiu duramente ao comunicado dos Estados Unidos, que reconheceram a vitória de Edmundo González, candidato da oposição, nas eleições presidenciais. O ditador disse que os EUA "devem tirar o nariz" da Venezuela.
Maduro já não esconde que comanda um regime ditatorial. Ele tem uma estratégia, e não podemos menosprezar a inteligência dele.
A estratégia é esticar essa corda e transformar esse conflito em algo global. Maduro se sente escudado pela China, que tem interesses econômicos bastante alinhados com a Venezuela e com toda a América Latina, e pela Rússia, que já tem navios de guerra na costa venezuelana. Agora, os EUA se veem obrigados a elevar o nível de reprimenda às atitudes do Maduro. Tales Faria, colunista do UOL
Para Tales, os países que fazem fronteira com a Venezuela devem ser os mais afetados pelo agravamento da crise, em especial Colômbia e Brasil.
A situação vai se tornando mais e mais grave. Nesse quadro, os países que podem sofrer mais são aqueles que fazem fronteira com a Venezuela. Colômbia e Brasil, muito embora tenham que elevar o tom, também têm que preservar uma interlocução.
Não tínhamos um conflito amplo e de guerra na América Latina há dezenas de anos. Temos que tomar cuidado para não se estabelecer aqui o mesmo problema que existe no Oriente Médio e na Europa. A única forma de se evitar isso é a diplomacia, para assegurar que haja condições de interlocução com ambos os lados e de segurar esse conflito, que está se tornando praticamente inevitável.
Precisamos usar inteligência e diplomacia, e não ingenuidade. Maduro já conseguiu empurrar vários observadores das eleições para fora simplesmente com ameaças. Estamos em uma linha fina e é uma situação muito perigosa. Tales Faria, colunista do UOL
Análise: Oposição a Maduro errou ao não abrir negociação com cúpula militar
A oposição ao regime de Nicolás Maduro cometeu um erro ao não estabelecer pontes com a cúpula das Forças Armadas, avaliou Rafael Villa, professor de Ciência Política da USP, que nasceu na Venezuela e mora há 36 anos no Brasil.
Tem que haver o apoio não das Forças Armadas, mas de sua cúpula. Aqui, houve um erro estratégico por parte da oposição venezuelana desde meses atrás, quando não tentou abrir canais de negociação com a cúpula militar venezuelana.
Se a cúpula militar prefere ficar neutra, Maduro não terá outro recurso a não ser mostrar as atas. Isso é possível, mas a oposição tem que abrir imediatamente estes canais de negociação com as Forças Armadas, cuja cúpula é um ator político e, neste momento, faz parte do chamado bloco do poder.
É totalmente factível. Os setores médios das Forças Armadas, como os soldados, fazem parte da Venezuela empobrecida. É falsa esta ideia de que o apoio das Forças Armadas em relação é monolítico. O que mantem o chavismo e o madurismo no poder é o apoio da força militar e policial. Nos setores sociais mais pobres, parecem ter perdido o apoio. Rafael Villa, professor de Ciência Política da USP
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