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Atos da extrema direita britânica contra imigrantes têm cerca de cem presos

04.ago.24 - Manifestantes ateiam fogo em uma lata de lixo em frente a um hotel em Rotherham Imagem: Hollie Adams/REUTERS

Do UOL, em São Paulo

04/08/2024 14h15Atualizada em 04/08/2024 20h07

Uma série de protestos da extrema direita contra imigrantes, em ao menos dez cidades do Reino Unido, resultou em atos violentos, com a prisão de aproximadamente 100 pessoas neste domingo (4).

O que aconteceu

Ataque cometido por adolescente gerou protestos nos últimos dias. Na última segunda (29), um jovem de 17 anos matou três crianças e deixou outras 10 feridas durante um ataque em um centro de lazer em Southport. Ele está preso.

O fato de o jovem ser de origem estrangeira deu início a uma onda de manifestações violentas. O adolescente nasceu em Cardiff, no País de Gales, mas seus pais são de Ruanda, segundo o jornal britânico Express. Só neste domingo, manifestações foram registrados em Londres, Hartlepool, Bristol, Belfast, Southport, Hull, Stoke-on-Trent, Rotherham, Middlesbrough e Liverpool, cidades localizadas na Inglaterra e na Irlanda do Norte.

Protesto em frente a um hotel apontado como ponto de asilo para imigrantes. Os manifestantes incendiaram uma lixeira no local, em Rotherham, e a polícia foi convocada para contê-los, segundo informações do jornal The Guardian.

Policiais foram recebidos com pedras em Middlesbrough. De acordo com The Guardian, garrafas plásticas e outros objetos também foram atirados contra os agentes, que tentavam conter uma marcha que reunia 300 pessoas. Ao menos um carro foi incendiado.

Primeiro-ministro repudiou atos. "Isso não é protesto, é bandidagem organizada e violenta e não terá lugar nas nossas ruas", afirmou Keir Starmer, em pronunciamento transmitido pela TV.

Como uma mentira da extrema direita disseminou violência

Em razão da idade do autor do crime (17 anos), a Justiça britânica e a imprensa local não divulgaram inicialmente o nome do suspeito. Mas isso abriu um vácuo para que teorias conspiratórias e a desinformação fossem usadas para insuflar um surto de ataques e a mobilização de massas.

Horas depois do ataque, um nome falso de um suspeito passou a circular por grupos de extrema direita, indicando que ele seria um refugiado muçulmano. Em pouco muitos, ele era mencionado 30 mil vezes por mais de 18 mil contas na plataforma X, de acordo com o Institute for Strategic Dialogue (ISD).

O nome inventado era Ali al-Shakati, supostamente um imigrante muçulmano que chegou ao Reino Unido em um pequeno barco em 2023. Nada disso era verdade.

O nome teve pelo menos 27 milhões de visualizações e interações nas redes sociais, desde então. A tese sem qualquer base ainda foi reforçada pelo influencer Andrew Tate, que nas redes de Elon Musk anunciou que o ataque contra as crianças veio de um "imigrante sem documentos que chegou num barco".

"A alma do homem ocidental está quebrado quando invasores assassinam suas filhas e você não faz nada", disse.

O algoritmo do X também passou a recomendar o nome do suposto autor dos crimes e ele passou a ser um "trending topics", além de estar listado nos itens: "O que está ocorrendo agora". O nome vinha acompanhado por detalhes sobre o personagem. Tanto o nome como a história contada sobre o suposto criminoso eram mentiras e fatos deliberadamente inventados.

O padrão era similar ao que pesquisadores já vinham identificando nos últimos anos em cada crime de grande repercussão: o uso por parte da extrema direita de momentos de comoção social para espalhar ódio contra minorias, muçulmanos e refugiados.

Se o algoritmo fez sua parte, o fenômeno rapidamente foi abraçado por comunidades alimentadas por desinformação numa operação descrita pela polícia como "profissional".

Os primeiros grupos convocando as manifestações foram identificados no Telegram e, horas depois do crime e sem que a polícia jamais tivesse revelado o nome do autor das mortes, um desses grupos convocava seus membros a um ato diante de uma mesquita no dia seguinte.

Com base em um nome falso, em detalhes fabricados e pedindo vingança, grupos passaram a aterrorizar o centro de alguns das principais cidades do país.

Manifestante segura cartaz no qual se lê "Não seremos silenciados" em ato em Londres após o assassinatos de cranças em Southport no dia 29 de julho Imagem: Benjamin Cremel - 31.jul/AFP

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