Fim dos EUA? Americanos investem em bunkers de luxo e cidadania no exterior
Colaboração para o UOL
18/08/2024 05h30
Com a nação politicamente dividida, americanos têm procurado por um plano B caso os EUA se vejam em uma situação "catastrófica": investimento em bunkers para quem fica ou até cidadania em outros países para quem orquestra uma fuga de uma última hora, revelou uma reportagem do The Wall Street Journal da última semana.
"Eles acreditam que uma guerra civil ou revolução está vindo para os Estados Unidos", contou à publicação o presidente da empresa Atlas Survival Shelters, Ron Hubbard, que fabrica bunkers de luxo para os mais ricos. Suas criações de aço já apareceram até no reality show da família Kardashian, em que Kim e Khloe Kardashian experimentam como seria comprar e passar uns dias em um destes abrigos.
Tiro contra Trump assustou americanos
O empresário notou um aumento no interesse pelos bunkers especialmente após o tiroteio durante um comício de Donald Trump na Pensilvânia, em julho. Uma pesquisa YouGov realizada um dia após um tiro atingir a orelha do ex-presidente revelou que 67% dos adultos que vivem no país acreditam que o atual clima político torna a violência mais provável. 79% dos entrevistados em uma pesquisa da Reuters-Ipsos concordaram que os EUA "estão saindo do controle".
"Para americanos ricos, é apenas uma questão de [saber se] há medidas que podemos tomar se, Deus nos livre, algo catastrófico acontecer em nosso país", comentou Scott Bowman, sócio da empresa McDermott Will & Emery, que oferece consultoria jurídica a famílias com patrimônio acima de US$ 500 milhões (R$ 2,7 bilhões).
Condomínios de bunkers e acomodações de luxo
O fim do mundo, seja ele o universo político e cultural que os americanos conhecem ou uma catástrofe nuclear, está disponível em grande estilo. A própria Atlas Survival Shelters —aquela das Kardashian — oferece abrigos com recursos de alta tecnologia, como escotilhas à prova de balas, portas que isolam totalmente as cabines (não passa nem ar, para evitar explosões), como as utilizadas por fuzileiros em submarinos de guerra, canos de ventilação blindados e quartos de descontaminação. Claro, tudo isso com pias de granito e pisos de carvalho.
Um modelo padrão mais espaçoso, com túnel de fuga, pode sair por mais de US$ 200 mil (R$ 1,09 milhão). A empresa, que envia o esconderijo de luxo aos clientes no endereço desejado e ajuda a instalar sua estrutura, revelou ao The Wall Street Journal que as vendas triplicaram desde a pandemia e os protestos contra a violência policial de 2020, após a morte de George Floyd. Terrorismo e guerra nuclear também são preocupações dos clientes.
Já o "Survival Condo" (Condomínio da Sobrevivência, em tradução livre) no estado do Kansas oferece um complexo de 15 andares de profundidade instalado em dois silos e conta com estoque de comida para cinco anos no abrigo. Até piscina para o conforto dos proprietários está disponível. Há unidades que ocupam meio andar e outras um andar inteiro — exceto pela cobertura, que ocupa quase 340 metros quadrados distribuídos em dois andares.
Empresas como o Grupo Vivos, da Califórnia, trazem uma experiência de bairros no subsolo de locações diversas como Dakota do Sul e Indiana. O presidente da empresa, Robert Vicino, apresentou suas centenas de bunkers como "navios de cruzeiro subterrâneos" ao jornal. E a proposta se assemelha mesmo a uma acomodação temporária, já que é possível alugar um por US$ 55 mil e os abrigos possuem quartos, lavabos, banheiros e academia.
Rumo ao exílio
Para aqueles que não veem sentido em tentar sobreviver à destruição do planeta, mas acreditam em fugir de um cenário político violento, a cidadania no exterior é a saída mais procurada. Afinal, com o documento em mãos, é possível fazer um autoexílio de última hora. A firma de Bowman realizou um simpósio no primeiro semestre para discutir justamente como seus clientes podem mover seus bens para fora dos EUA em caso de colapso econômico.
Advogado de imigração de Montreal, Jean-Philipe Brunet contou à publicação que seu escritório tem recebido perguntas de democratas e republicanos sobre a possibilidade de se mudar para o Canadá após a eleição, ao menos temporariamente.
Cidadania ou residência fixa em outro país pode custar centenas de milhares de dólares, informou a consultoria Henley & Partners, mas as candidaturas aumentaram sete vezes entre 2018 e 2023. Entre os motivos alegados estavam o aumento do antissemitismo, exigência de vacinação, crescimento dos tiroteios em escolas e instabilidade política.
Os países mais procurados para quem pretende investir na cidadania, financeiramente, são Antígua e Barbuda, no Caribe, além de Malta, Portugal, Espanha e Grécia, na Europa.