Um bunker por andar e 15 segundos para fugir: como israelenses se protegem 

Israel possui um dos esquemas de segurança mais consolidados do mundo — apesar de ter sido considerado falho em prever o ataque do grupo extremista Hamas no último sábado (7). Ele alia equipamentos de ponta no solo, ar e até no espaço, com satélites, para garantir a segurança nacional.

Além da proteção do país como um todo, há também medidas para proteção imediata, como os bunkers.

Estes espaços seguros espalhados por prédios residenciais, públicos e demais construções de Israel têm manutenção resguardada por lei. Em 1951, três anos após a criação do Estado de Israel, foi estabelecida a Lei de Defesa Civil que regulamenta os vários procedimentos que a população civil deve ter se o país estiver em ataque ou ameaça de ataque.

Ao longo dos anos a lei sofreu modificações, mas desde o início já existia a proteção básica contra bombas com a determinação de que abrigos anti-bombas, os bunkers, fossem construídos em todos prédios. Até mesmo em praias há bunkers, conforme o site "Business Insider".

Com o passar dos anos, novas leis foram adicionadas para, por exemplo, incluir atualizações desses abrigos que pudessem dar proteção química, já que com a Guerra do Golfo em 1991 o Iraque usou este tipo de armas.

Atualmente, todos os prédios ou casas devem ter um quarto fortificado por andar, e em construções mais antigas podem ter abrigos coletivos que mais de um morador use para se protegerem, de acordo com a revista "Veja".

No começo, os bunkers eram quaisquer estruturas que pudessem proteger seus ocupantes de explosões, mas hoje uma melhor definição vai para uma estrutura fortificada construída para proteger pessoas e equipamentos contra ameaças, como ataques aéreos e bombardeios.

A "GloboNews" mostrou como são esses bunkers ao exibir um abrigo público. Com portas fortificadas, eles são acessados pelas pessoas quando as sirenes tocam e as protegem de foguetes e ataques químicos, já que há um sistema de ventilação especial. No local, há um grande espaço aberto, e outros isolados, como o banheiro.

Ao todo, existem cerca de 1,5 milhão de bunkers em todo Israel, segundo o seu Ministério de Defesa. Seria algo como mais de um abrigo do tipo para cada 10 habitantes, conforme publicou a "Exame".

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15 segundos para se abrigar

Para irem aos bunkers, as sirenes precisarão tocar e isso vai ocorrer em todo o país se o ataque for generalizado. Estações de rádio e televisão transmitem um código hebrico chamado "Homat Barzel", explicou o "Washington Post". Os civis serão instruídos a desligar aparelhos elétricos, fechar torneiros e botijões de gás e se deslocarem ao abrigo protegido.

O "Domo de Ferro", sistema de defesa antiaéreo que detectar e consegue deter mísseis inimigos ainda no ar também é acionado. Ele funciona como um escudo e ajudou a minimizar o estrago que o Hamas causou em seu território. Sendo capaz de detectar um míssil em dois segundos, sua eficácia é de 90%.

Em 2014, um novo aparato foi incluído na segurança dos israelenses com o desenvolvimento do aplicativo Red Alert, que reforça com alertas no celular quando as sirenes são tocadas pelo exército para informar sobre ataques. Quando isso ocorre, o usuário tem entre 15 segundos e dois minutos para achar um abrigo, sem correr.

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Sete anos depois, em 2021, Israel concluiu a construção de um sistema de fronteira inteligente com sensores e muros subterrâneos na fronteira com Gaza, uma contramedida desenvolvida após militantes do Hamas usarem túneis para atacar suas tropas em 2014, segundo a agência de notícias Reuters.

O projeto havia sido tornado público em 2016, e incluía uma cerca acima do solo, uma barreira naval, sistema de radar e salas de comando e controle. A barreira concluída inclui centenas de câmeras, radares e outros sensores, estendendo-se por 65 quilômetros.

Vigilância total, mas falha

"Israel, que se vangloria de ter um dos mais amplos e profundos sistemas de vigilância do mundo com cibernética, sistema físico com câmeras, drones, satélites, que faz quase um 'Big Brother' da vida dos palestinos em algumas localidades como na Cidade Velha de Jerusalém, falhou", afirma Bruno Huberman, professor de Relações Internacionais da PUC-SP.

Huberman completa que, apesar de tamanha sofisticação, Israel foi incapaz de deter o Hamas antes que os ataques fossem feitos: "[O país] não conseguiu interceptar nenhuma mensagem do Hamas, organização que eles vigiam de todas as formas possíveis com auxílio dos EUA e demais nações ocidentais, para saber se estava sendo planejada uma ação".

Huberman, que é vice-líder do Grupo de Estudos sobre Conflitos Internacionais da PUC-SP e e tem pesquisas com ênfase em estudos de Palestina e Israel, fala que dentre os excelentes esquemas de segurança israelenses, há um sistema de espionagem de celulares e até câmeras que conseguem ler rostos.

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"Palestinos guerrilheiros mais radicais normalmente se mantêm offline. Eles não têm smartphone, porque a capacidade de vigilância [de Israel] é muito alta", explica. Mas o outro lado também já lida melhor com essa questão: "A capacidade dos palestinos de se desviarem disso tem se mostrado alta também".

Israel demonstrou um erro de inteligência. Mas o ataque liderado pelo Hamas em nenhum momento ameaça a existência do Estado de Israel. Maior número de mortes de civis em curto período de tempo, mas isso não abala o Estado de Israel na sua estrutura, na sua profundidade Bruno Huberman, professor de Relações Internacionais da PUC-SP

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