Presos em bolha de ar: por que ocupantes de iate morreram sem engolir água?
Quatro das sete vítimas no naufrágio do iate Bayesian na Itália foram encontradas dentro da cabine da embarcação. Segundo as autópsias iniciais, elas ficaram presas numa bolha de ar e não havia água nos pulmões e estômago —o que indica que as vítimas não morreram afogadas.
A mídia internacional tem falado em "afogamento seco" ou "atípico", mas esses termos estão incorretos, segundo especialista ouvido pelo UOL.
O que aconteceu
As autópsias indicaram ausência de água nos pulmões, na traqueia e no estômago. Os ocupantes Jonathan Bloomer, sua esposa Judy, o advogado Chris Morvillo e sua esposa Neda ficaram presos em uma bolha de ar que se formou na cabine quando o iate afundou. Com o ar ocupando parte do espaço onde estavam, a água não pôde entrar.
Bolha de ar protegeu por tempo limitado. A hipótese para a causa da morte sugere que as quatro pessoas consumiram todo o oxigênio presente na bolha de ar. Sem o gás necessário à sobrevivência, houve asfixia —ou sufocamento.
A teoria pode ser real. Em um determinado momento [quando há falta de oxigênio], a pessoa apaga completamente, não respira mais e morre silenciosamente pela perda da consciência. Normalmente, perde a consciência e para de respirar ao mesmo tempo.
David Szpilman, médico especialista em terapia intensiva com foco em afogamento e secretário geral da Sobrasa (Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático)
Caso não pode ser classificado como afogamento. Embora a embarcação tenha submergido, as quatro pessoas encontradas na cabine não aspiraram água, conforme indicou a autópsia. O termo "afogamento seco" era usado antes, mas foi eliminado em 2002, quando uma nova definição de afogamento foi apresentada no 1.º Congresso Mundial Sobre Afogamentos.
Para alguém morrer por afogamento, tem de ter a aspiração de água suficiente para causar hipóxia (ausência de oxigênio no organismo) e parada do coração.
David Szpilman, médico intensivista
Bolha de ar já protegeu tripulante
Em 2013, o cozinheiro Harrison Okene sobreviveu a um naufrágio após ficar preso em uma bolha de ar. Ele estava a bordo do rebocador Jascon-4 quando a embarcação virou com a força da correnteza na costa da Nigéria.
O homem ficou mais de dois dias a 30 metros de profundidade. Na hora do naufrágio, ele se escondeu dentro do banheiro, onde a bolha de ar se formou. A equipe de resgate chegou antes que o oxigênio acabasse. "Eu estava com fome, mas principalmente com sede. A água salgada descascou minha língua", disse Okene à época. "Lá, na escuridão total, eu apenas pensava que era o fim."