Quilha levantada e pânico: os 16 minutos que afundaram superiate na Itália

Superiate Bayesian afundou na segunda-feira passada (19) na Itália e deixou sete mortos. Diretor da empresa responsável pela fabricação do iate indica que naufrágio aconteceu em apenas 16 minutos.

Minutos de pânico

Rapidez com que o iate afundou é discutida entre especialistas. De acordo com o jornal britânico The Guardian, analistas que estudam o acidente indicam que o Bayesian teria afundado em apenas 60 segundos.

Ideia de que o iate desapareceu em apenas alguns segundos "é um absurdo". Em entrevista ao jornal italiano Corriere della Sera, Giovanni Costantino, diretor executivo da Perini Navi — empresa responsável pela fabriação do iate— declarou que é provável que o naufrágio tenha durado alguns minutos entre o momento em que a água entrou na embarcação até o momento em que afundou e que os passageiros deveriam ter sido conduzidos ao procedimento de emergência imediatamente.

Bayesian afundou em menos de 20 minutos. Costantino afirmou que transcorreram 16 minutos desde o corte de energia do navio, às 3h56, e a perda do sinal do GPS, o que indica que o barco havia afundado e que a água estava inundando áreas com circuitos elétricos.

A tortura durou 16 minutos. O barco não afundou em um minuto. [...] O capitão deveria ter preparado o barco e o colocado em estado de alerta e segurança, assim como o barco [Sir Robert Baden Powell] ancorado a 350 metros de distância, que foi construído em 1957 e respondeu brilhantemente à tempestade. [...] Se manobrado corretamente, o barco teria lidado confortavelmente com a situação
Giovanni Costantino, em entrevista ao Financial Times

Como foi o naufrágio

Iate começou a afundar pela parte traseira. Segundo a equipe responsável pelo resgate dos corpos na embarcação, o Bayesian começou a afundar pela popa e depois tombou para o lado direito. Cinco dos sete corpos foram encontrados na primeira cabine do lado esquerdo da embarcação, indicando que os passageiros ficaram presos nesse trecho do iate em busca de ar.

Escotilha aberta na popa pode ter acelerado a entrada de água no veleiro. Investigadores suspeitariam que a tripulação tivesse subestimado a gravidade da tempestade que se aproximava e, por isso, deixaram a escotilha aberta. O descuido e a força das ondas levaram a embarcação a virar e se encher de água rapidamente, afundando no mar. Segundo Costantino, havia também uma abertura lateral que facilitou a entrada de água no Bayesian.

Iate Bayesian afundou após mau tempo na região italiana onde estava ancorado. Escotilha aberta pode ter sido porta de entrada de enormes quantidades de água, acelerado o naufrágio
Iate Bayesian afundou após mau tempo na região italiana onde estava ancorado. Escotilha aberta pode ter sido porta de entrada de enormes quantidades de água, acelerado o naufrágio Imagem: Reprodução/Breed Media/SuperYacht Times
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Procedimentos técnicos não teriam sido adotados pela tripulação. Em entrevista à rede britânica BBC, Costantino explicou que, antes da tempestade, o capitão "deveria ter fechado todas as aberturas, depois levantado âncora, ligado o motor, apontado para o vento e baixado a quilha". De acordo com o diretor da Perini Navi, a conduta teria estabilizado o iate, e feito com que a embarcação atravessasse a tempestade dentro do esperado.

No entanto, a quilha de dez metros estava levantada quando os destroços do navio foram encontrados. Desenvolvida para auxiliar na estabilização do barco, a quilha atua como contrapeso em eventuais rajadas de vento.

Vítimas poderiam ter ficado presas devido a "portas altas demais". Segundo Costantino, "bastou uma inclinação de 40º e as portas da cabine se tornaram altas demais para os que estavam dentro", deixando as vítimas presas.

Vídeo de câmera de segurança flagrou o desaparecimento da embarcação. Gravação mostra o mastro do iate aceso enquanto uma forte chuva ocorre no local. Em poucos segundos, o mastro começa a entortar e desaparece.

Condições climáticas assustadoras

Tromba d'água pode ter provocado naufrágio. O fenômeno pode se assemelhar a um tornado violento e consiste em um movimento de sucção entre o céu carregado de nuvens e a superfície terrestre. Quando ocorre no mar, a tromba d'água provoca um pequeno tornado, muito violento e localizado. Em geral, o tornado se dissipa quando toca a terra.

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Tornado pode ter sido acentuado pela diferença de temperatura entre a cobertura de nuvens relativamente fria e a superfície de água mais quente do que o habitual. Esse ano, em alguns locais do Mar Mediterrâneo, a temperatura da superfície da água foi superior à média, chegando a quase 30°C.

Condições marítimas se agravaram no local do acidente. Outra hipótese para o naufrágio indica a atuação de fortes rajadas de vento, com velocidade acima dos 100 km/h. O efeito de cisalhamento dos ventos, que consiste em uma mudança brusca de direção e velocidade do vento em uma curta distância, pode ter provocado instabilidade do Bayesian e causado seu tombamento. Uma vez que o barco se inclinou de lado, a água começou a entrar rapidamente na embarcação.

Investigação em andamento

Comandante responsável pelo Bayesian responderá por homicídio. James Cutfield, de 51 anos, é um dos 15 sobreviventes ao naufrágio. Cutfield é peça-chave na investigação e já prestou depoimentos à polícia italiana, que analisa se o comandante foi negligente ou responsável de alguma forma pelo naufrágio. Cutfield responderá por homicídio culposo, quando não há a intenção de matar, pelas sete vítimas do acidente, já que a legislação marítima italiana confere ao capitão total responsabilidade pelo navio, pela tripulação e pelos passageiros a bordo.

Dados técnicos das demais embarcações que estavam no local serão analisados. Autoridades buscam compreender o que causou o naufrágio do Bayesian, enquanto as outras embarcações ancoradas ou velejando próximas ao local do acidente não afundaram.

*Com informações da AFP

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