Naufrágio de iate: 4 morreram sufocados em bolha de ar, indica autópsia

Autópsias iniciais mostraram que quatro pessoas morreram sufocadas dentro da cabine no naufrágio do iate do magnata Mike Lynch na Sicília, que deixou sete mortos.

O que aconteceu

Os quatro teriam tentado consumir oxigênio da bolha de ar que se formou quando o barco afundou. O presidente do Morgan Stanley International, Jonathan Bloomer, sua esposa, Judy, o advogado Chris Morvillo e sua esposa, Neda, ficaram presos em uma das cabines e teriam morrido asfixiados.

Eles não tinham água nos pulmões, na traqueia e no estômago. O espaço em que respiravam se tornou cada vez menor com o passar do afundamento, e o ar ficou mais tóxico devido ao aumento de dióxido de carbono, segundo o jornal italiano La Repubblica.

Médicos legistas explicam que são mortes por ''confinamento'' ou ''afogamento a seco''. A hipótese discutida é de que provavelmente as vítimas não tiveram oportunidade de chegar ao convés superior e ficaram presas nas áreas de cabine.

Ainda faltam três autópsias para serem concluídas. Os exames do cozinheiro Recaldo Thomas e do bilionário Mike Lynch devem ser realizadas na sexta-feira (6), e a de Hannah Lynch, no sábado (7).

O acidente

Iate começou a afundar pela parte traseira no dia 19 de agosto. Integrante da equipe que fez o resgate dos corpos na embarcação, o chefe do Corpo de Bombeiros de Palermo, Bentivoglio Fiandra, disse que o iate de luxo começou a afundar pela popa e depois tombou para o lado direito.

No 4º dia de buscas, equipes de resgate retiraram corpo do bilionário Mike Lynch de iate que afundou na Itália
No 4º dia de buscas, equipes de resgate retiraram corpo do bilionário Mike Lynch de iate que afundou na Itália Imagem: Louiza Vradi/Reuters

Passageiros ficaram presos do lado esquerdo do iate em busca de ar. Segundo Fiandra, cinco corpos foram encontrados na primeira cabine do lado esquerdo da embarcação, incluindo o do bilionário britânico Mike Lynch. O último corpo encontrado foi o de Hannah Lynch, filha do magnata. Ela estava na terceira cabine lateral do iate, segundo o Corpo de Bombeiros.

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Quinze pessoas sobreviveram. Entre elas, está a esposa de Lynch, Angela Barcares, e o capitão do iate, James Cutfield. Ele é investigado por homicídio culposo —quando não há intenção de matar. Mesmo com A tempestade, A negligência pode ter tido papel na tragédia.

Quem eram as vítimas?

O chef foi a primeira morte confirmada, ainda no dia 19. Recaldo Thomas era canadense e foi localizado no mesmo dia do naufrágio. Seus pais nasceram em Antígua e Barbuda, no Caribe, onde Thomas vivia até então. "Posso falar por todos que o conheciam: ele era um ser humano muito amado, gentil e com um espírito calmo", disse um amigo do chef em entrevista à BBC.

Bilionário era conhecido como o Bill Gates do Reino Unido. Mike Lynch, que morreu no naufrágio, era um empresário do ramo da tecnologia e tinha uma fortuna avaliada em 500 milhões de libras (aproximadamente R$ 3,6 bilhões, pela cotação atual), de acordo com a última "Lista dos Ricos" do jornal britânico Sunday Times.

Mike Lynch
Mike Lynch Imagem: Henry Nicholls/Reuters

Foi acusado de fraude, mas acabou inocentado em julgamento. As acusações eram relacionadas à venda de sua empresa de software, a Autonomy, para a Hewlett-Packard por US$ 11 bilhões —cerca de R$ 60 bilhões, em valores atuais—, em 2011. Lynch sempre negou qualquer irregularidade e culpou a HP por ter errado na integração das duas empresas. Em junho deste ano, um júri o inocentou.

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Viagem de iate era uma comemoração pela absolvição. Segundo uma fonte próxima a Lynch, o bilionário organizou o passeio para celebrar a decisão da Justiça americana com amigos, funcionários e advogados. Hannah Lynch, sua filha, também estava na embarcação.

Jonathan e Judy Bloomer
Jonathan e Judy Bloomer Imagem: Divulgação/Hiscox Group e Eve Appeal

Jonathan Bloomer era CEO do Morgan Stanley International havia quase oito anos. Ele comandou várias organizações de serviços financeiros ao longo de sua carreira, tendo assumido o cargo em novembro de 2016, segundo sua página no LinkedIn. Também era presidente da seguradora Hiscox, que tem ações listadas na Bolsa de Valores de Londres.

Foi testemunha de Lynch no julgamento sobre fraude nos EUA. Ao defender Mike Lynch, Bloomer disse ao júri que o bilionário "não estava particularmente interessado na parte financeira" do negócio com a Hewlett-Packard e preferia se concentrar em estratégia e produtos. Também explicou que parte da contabilidade sinalizada como suspeita nos EUA era aceitável de acordo com as regras do Reino Unido.

Esposa foi diretora da incorporadora Change Real Estate. Judy Bloomer, que também estava no iate, foi descrita como uma "defensora brilhante da saúde feminina" por uma instituição de caridade com a qual trabalhou, de acordo com a BBC.

Christopher e Neda Morvillo
Christopher e Neda Morvillo Imagem: Divulgação/Clifford Chance e Reprodução/Facebook
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Chris Morvillo era advogado criminal renomado e sócio da Clifford Chance. De 1999 a 2005, ele atuou como procurador assistente para o distrito sul de Nova York, nos EUA, onde trabalhou em casos de fraudes na área de saúde, lavagem de dinheiro e terrorismo. Também ajudou na investigação criminal decorrente dos atentados terroristas de 11 de setembro de 2001 no World Trade Center e no Pentágono.

Representou Mike Lynch no julgamento. Há dois meses, em publicação no LinkedIn, Morvillo comemorou a absolvição de seu cliente, citando nominalmente todos os profissionais que fizeram parte do processo. O advogado ainda agradeceu à esposa, Neda Morvillo, e às filhas Sabrina e Sophia. "Nada disso teria sido possível sem o amor e apoio de vocês", escreveu.

Sua esposa Neda, que também estava no iate, era designer de joias. Segundo o site oficial de sua marca, Neda Nassiri, ela tinha "mais de 20 anos de experiência na criação de joias finas em Nova York" e trabalhava principalmente com ouro 22 quilates e prata pura (925). Todas as joias expostas na página "foram criadas à mão por Neda".

*Com informações da Reuters

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