Após escândalo, republicanos isolam candidato que se disse 'negro nazista'
O candidato a governador Mark Robinson, que foi acusado de se declarar como "negro nazista", recusou-se a desistir da corrida eleitoral pelo governo da Carolina do Norte após a publicação da denúncia na última quinta-feira (19). A decisão levou ao isolamento do candidato por parte do Partido Republicano, que teme possíveis danos à campanha de Donald Trump.
O que aconteceu
Robinson foi acusado de ter se declarado como "black nazi" [negro nazista] e de ter exaltado a escravidão. Na última quinta-feira (19), uma reportagem da CNN atribuiu ao candidato uma série de postagens de cunho sexual e racista feitas em um portal pornográfico entre 2008 e 2012. Em um dos comentários, o político teria dito que preferia Adolf a Barack Obama. Em outro momento, teria escrito que "a escravidão não é ruim. Algumas pessoas precisam ser escravas. Gostaria que trouxessem [a escravidão] de volta. Eu certamente compraria alguns [escravos]."
Político teria descrito a si mesmo como um "pervertido". Candidato teria comentado sobre como ele gostava de espiar mulheres em vestiários de academias de ginásticas quando tinha 14 anos, e expressado seu gosto por material de pornografia envolvendo pessoas transgênero. As postagens eram feitas no site "Nude Africa" pelo perfil do usuário "minisoldr", que apresentava diversos pontos de convergência com a vida pessoal e com os dados cibernéticos de Robinson, de acordo com a CNN.
Candidato teria publicado ofensas à Martin Luther King Jr. e à comunidade negra. "Eu não estou na KKK [Ku Klux Klan, organização terrorista de supremacista branca], eles não deixam negros participarem", teria lamentado. O republicano, que pode ser o primeiro governador negro da Carolina do Norte, também teria chamado Martin Luther King Jr. de "bastardo comunista" e "pior que um verme".
Republicano negou as acusações e as caracterizou como "mentiras obscenas de tabloides". Na quinta-feira (19), último dia do prazo para Robinson se retirar da disputa pelo governo, ele publicou um vídeo afirmando que não desistiria da eleição: "nós vamos continuar nessa corrida, estamos aqui para ganhar, e sabemos que, com sua ajuda, nós vamos ganhar".
Partido Republicano da Carolina do Norte defendeu candidato acusando democratas de realizarem uma campanha difamatória. "Mark Robinson negou categoricamente as acusações feitas pela CNN, mas isso não vai fazer com que a esquerda pare de tentar demonizá-lo através de ataques pessoais", escreveu o partido.
Afastamento de Trump
Vice-governador tem histórico de polêmicas. Robinson já zombou publicamente de sobreviventes de tiroteios em escolas, menosprezou movimentos pelos direitos civis e mudou de opinião sobre o aborto. Em 2020, ele defendia que o procedimento fosse proibido em todos os casos, sem exceções. No entanto, em 2022, o candidato admitiu que havia pagado pelo aborto para sua então namorada nos anos 1980 — algo de que se arrepende muito. Atualmente, defende que o aborto seja permitido antes dos primeiros batimentos cardíacos do feto ou em casos de estupro, incesto e risco de vida da mãe.
Apesar das controvérsias de Robinson, Trump havia se aliado ao político na tentativa de ampliar seu apoio entre os eleitores negros. Em março, durante um comício, o ex-presidente descreveu o colega como "Martin Luther King com esteroides" e disse que Robinson era duas vezes melhor que o ativista. Antes da denúncia, o atual vice-governador tinha comparecido à maioria dos eventos trumpistas na Carolina do Norte, e chegou a subir no palco em alguns deles.
Campanha de Trump não convidou Robinson para comício realizado em Wilmington, na Carolina do Norte, no último sábado (22). A equipe de campanha optou pela ausência do atual vice-presidente do estado e Trump escolheu não o mencionar em seu discurso, segundo a CNN. Na semana passada, logo após a publicação da denúncia, a assessoria de Trump preferiu não comentar o caso, e disse apenas que ele estava "concentrado em vencer a Casa Branca e salvar o país", e que a Carolina do Norte é "parte essencial desse plano".
Considerado um swing state, Carolina do Norte é um estado importante para a definição da presidência. Desde os anos 1970, os republicanos ganharam a maioria das eleições presidenciais no estado, perdendo apenas para Jimmy Carter (1976) e para Barack Obama (2008). No entanto, as pesquisas deste ano mostram que a disputa pelos 16 delegados deste colégio eleitoral pode ser apertada entre Donald Trump e Kamala Harris.
Campanha de Kamala aproveitou denúncias para relembrar eleitores da relação entre o acusado e seu oponente. Na quinta-feira (19), a campanha da democrata divulgou imagens dos republicanos juntos e publicou vídeos em que Trump faz declarações elogiando Robinson.
Membros da campanha de Robinson pediram demissão após denúncia. O gerente de campanha, o vice-gerente, o diretor financeiro e o consultor sênior do candidato renunciaram no fim de semana, segundo a BBC.
Polêmicas ainda não surtiram efeito no eleitorado. Pesquisas divulgadas desde o dia 19 mostram que Josh Stein, oponente de Robinson, mantém a liderança com margens de vantagem que variam de 5% a 14% — valores muito similares aos resultados coletados antes da divulgação das acusações.
*Com informações das agências Deutsche Welle, AFP e Reuters