Klein: Baixa popularidade de Biden atrapalha mais Kamala do que a misoginia
Do UOL, em São Paulo
05/11/2024 22h57
A baixa popularidade do atual presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, atrapalhou mais a candidatura de Kamala Harris do que a própria misoginia — o ódio ou aversão às mulheres —, conforme avaliação da jornalista Amanda Klein. A declaração ocorreu durante participação no UOL News Especial desta terça-feira (5).
Acho que a gente não pode, claro, subestimar nem desprezar o grau de misoginia, de preconceito, de racismo, que tem no discurso e na retórica do Trump, que acaba fazendo alusão e atraindo vários desses homens. Mas acho que, sobretudo, o que penaliza a campanha da Kamala é, primeiro, a economia e a impopularidade do governo Biden.
Amanda Klein sobre Kamala Harris
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O índice de aprovação do presidente Joe Biden chegou aos 36%, em maio, o menor índice em dois anos, segundo o levantamento feito pela agência Reuters/Ipsos.
A vice-presidente entrou na corrida eleitoral apenas em agosto, quando o partido decidiu substituir Biden, que tentava a reeleição à Casa Branca, em decorrência do fraco desempenho no primeiro debate. Ela aceitou o desafio e, desde então, passou a ser titular da chapa democrata.
Em entrevistas recentes, ela [Kamala Harris] titubeou, hesitou muitas vezes em dizer o que faria diferente de Biden. O fato é que a economia continua crescendo, mas é num ritmo menos veloz que qualquer outra grande economia do planeta. Ela está caminhando para o que eles chamam de 'soft landing' [termo econômico que significa a 'desaceleração']
O desemprego está na menor taxa, no menor índice nos últimos 50 anos. Os salários estão um pouco abaixo na média salarial do que quando o Biden assumiu. Mas, mesmo assim, por que ele não consegue capitalizar na economia? E a resposta mais provável está na inflação. Você tem um desânimo geral dos consumidores, que sentem na hora de irem às compras.
O índice de preços PCE, referência para o Fed (Federal Reserve, o Banco Central dos EUA) determinar a política monetária, aumentou 0,2% em setembro, mas apresentou desaceleração para 2,1% no acumulado de 12 meses, o menor aumento anual desde fevereiro de 2021.
Então, eu acho que o que penaliza a Kamala é, principalmente, a economia. Eu não diria que é o fato de ela ser mulher, embora, de novo, a gente não possa desprezar essa misoginia que existe no discurso de Trump.
Amanda Klein
O que você precisa saber
Nos Estados Unidos, o presidente não é eleito diretamente: os eleitores escolhem os representantes do colégio eleitoral (delegados) de seus respectivos estados. Na prática, o partido que vence em cada estado ganha um determinado número de "pontos", representados pelos delegados.
O candidato recebe todos os votos do estado, independentemente das porcentagens. Ou seja, se a votação ficar 51% a 49% em um estado com dez delegados, o candidato que teve mais votos levará os dez representantes.
É possível que um candidato receba a maioria dos votos populares, mas perca a eleição. Em 2016, por exemplo, Donald Trump teve quase três milhões de votos a menos do que Hillary Clinton, mas foi eleito porque somou 306 delegados. A mesma situação aconteceu nas eleições presidenciais de 1824, 1876, 1888 e 2000.
A Califórnia, Texas e Flórida são os que valem mais: são 54, 40 e 30 delegados respectivamente. Seis estados (Alasca, Dakota do Norte, Dakota do Sul, Delaware, Vermont e Wyoming) e a capital Washington são os que têm menos delegados, com três cada um.
Os estados de Maine e Nebraska são os únicos que fogem à regra, usando o método do distrito congressional. Neste caso, os estados indicam dois votos de delegados para o vencedor no estado todo e mais um delegado para o vencedor em cada distrito.
Candidatos disputam os chamados estados roxos ou estados—pêndulo, que oscilam entre democratas e republicanos, os maiores partidos. É onde não há uma preferência definida entre os partidos.
- Michigan
- Nevada
- Pensilvânia
- Wisconsin
- Arizona
- Geórgia
- Carolina do Norte.
A Flórida já foi um estado roxo, mas, na última eleição, passou a ser considerado com uma tendência republicana.
O voto não é obrigatório, diferentemente do Brasil. os norte-americanos podem se abster de votar, e pessoas a partir dos 18 anos estão aptas a participar.