OPINIÃO
A Amazônia está de olho. Os líderes do G20 também deveriam
Daniela Orofino e Karina Penha
15/11/2024 05h30
A Cúpula do G20 chega ao Brasil no ano em que passamos por crises socioambientais sem precedentes. Isso só aumenta a expectativa sobre a agenda climática no encontro. Nos dias 18 e 19 de novembro, quando os líderes das 20 maiores economias do mundo se reunirão no Rio de Janeiro, as discussões sobre o combate à crise climática estarão no foco de movimentos sociais e ativistas ambientais.
Não é preciso ir muito atrás no tempo para entender o porquê. No Norte do país, os últimos meses foram marcados pela pior seca já registrada na história, com rios atingindo níveis nunca antes vistos, grandes áreas de floresta devastadas pelo fogo e índices de poluição que colocaram áreas urbanas da região no topo do ranking de cidades com a pior qualidade do ar do mundo. Somente entre os meses de janeiro e setembro de 2024, de acordo com o Imazon, uma área equivalente a 17 cidades de São Paulo foi destruída na Amazônia — um aumento de mais de 1.000% em comparação com o mesmo período no ano passado. De acordo com pesquisa publicada na revista científica Earth System Science Data, as mudanças climáticas elevaram em até 20 vezes as chances de incêndio na Amazônia no último ano.
Esses são dados que não podem ser ignorados durante a Cúpula do G20. Com o Brasil pela primeira vez ocupando a liderança do bloco, e os temas de clima e sustentabilidade sendo eixos centrais de discussão do encontro, o presente e o futuro da Amazônia precisam estar em pauta. Afinal, a destruição da maior floresta tropical do mundo não afeta só o Brasil. Isso diz respeito a toda a vida no planeta.
Embora a maior parte da Amazônia esteja em território brasileiro, impedir sua destruição, assim como frear a crise climática, não é responsabilidade de um único país. A destruição da Amazônia afeta o clima do planeta, e a queima desenfreada de combustíveis fósseis feita pelas 20 maiores economias do mundo impacta o clima da Amazônia. A solução é uma via de mão dupla, com ações locais que impactam globalmente e decisões internacionais que podem proteger os territórios.
Segundo relatório deste ano do PNUMA, países ricos usam seis vezes mais recursos naturais e geram dez vezes mais impactos climáticos do que países de baixa renda. Enquanto as maiores economias do mundo são apontadas como as principais responsáveis pelas mudanças climáticas, povos tradicionais da Amazônia são considerados guardiões do clima, donos dos territórios mais bem protegidos do Brasil e de tecnologias ancestrais capazes de salvar a vida no planeta. Há muito que os países do G20 podem aprender com os povos da floresta.
Nesse sentido, demandas como a do movimento Amazônia de Pé, uma coalizão de mais de 350 organizações e coletivos que luta pela alocação de 57 milhões de hectares de florestas públicas na Amazônia Legal, devem ser consideradas pelo presidente Lula. E iniciativas como o Tropical Forests Forever Facility, um fundo de investimento multilateral voltado para recompensar os países com florestas tropicais por protegerem suas florestas, precisam de implementação urgente.
Em seu discurso na COP21, na Escócia, a ativista indígena Txai Suruí nos alertou que a Terra está falando, e que ela nos diz que não temos mais tempo. É urgente: a proteção das nossas florestas precisa ser uma prioridade global. E a Amazônia estará de olho em todas as decisões que forem tomadas na Cúpula do G20.
* Daniela Orofino Poubel e Karina Penha são, respectivamente, diretora e gestora de representação do Amazônia de Pé
** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL