Jamil Chade

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Reportagem

Indignado, embaixador chora na ONU por silêncio internacional sobre Gaza

Num momento de profunda comoção dentro da sala do Conselho de Segurança da ONU, o embaixador da Palestina, Riyad Mansour, não se conteve ao descrever a situação de Gaza e a incapacidade de a comunidade internacional de reagir aos crimes. A reunião havia sido convocada para lidar com os ataques contra hospitais, que se transformaram em campos de batalha e alvos de Israel.

Ao tomar a palavra para fazer seu discurso, Mansour leu mensagens deixadas por médicos mortos em Gaza.

"Mahmoud Abu Nujaila, que foi morto em um ataque aéreo israelense ao Hospital Al-Awda, escreveu uma mensagem há muitos meses em uma lousa no hospital, normalmente usado para planejar cirurgias: "Quem ficar até o fim contará a história. Fizemos o que podíamos. Lembrem-se de nós", relatou o embaixador.

Aos prantos e visivelmente indignado, ele repetiu o que estava naquela lousa. "Aquele que ficar até o final, vai contar a história. Fizemos o que pudemos. Lembre-se de nós. Lembre-se de nós", insistiu, batendo sobre a mesa.

Para o diplomata, o mundo deve mais que apenas lembranças. "Nada pode explicar que, por 15 meses, palestinos em Gaza tiveram de viver o inferno e abandonados a seu destino", disse.

Ao longo dos meses, a OMS tem alertado, em vão, sobre os ataques contra hospitais e contra médicos. O governo de Israel alega que são os membros do Hamas que passaram a usar as facilidades médicas para se esconder.

O embaixador, porém, insistiu em denunciar a falta de reação internacional. Ele contou como outro médico Adnan Al Bursh, também morto, escreveu: "Morreremos de pé e não nos ajoelharemos. Tudo o que resta no vale são suas pedras, e nós somos suas pedras", continuou.

"Temos o dever de salvar vidas. Este Conselho tem a obrigação de salvar vidas", pediu o diplomata, diante de um Conselho de Segurança abalado em sua credibilidade diante da incapacidade de dar uma resposta à crise.

"Os médicos e a equipe médica palestinos levaram essa missão a sério, mesmo com o risco de suas vidas. Eles não abandonaram as vítimas. Não as abandonem. Acabem com a impunidade israelense. Acabem com o genocídio", insistiu.

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ONU denuncia crimes de guerra

O encontro ainda contou com o Alto Comissário das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Volker Türk.

"Uma catástrofe de direitos humanos continua a se desenrolar em Gaza diante dos olhos do mundo. Os meios e métodos de guerra de Israel mataram dezenas de milhares de pessoas, causaram grandes deslocamentos e devastaram o território. Isso levantou grandes preocupações sobre o cumprimento da lei internacional", disse Türk.

Türk mencionou a destruição causada pelos ataques militares israelenses na última sexta-feira ao Kamal Adwan Hospital, o último hospital em funcionamento no norte de Gaza.

Segundo ele, as operações militares israelenses dentro e ao redor dos hospitais tiveram um impacto profundo, "justamente em um momento de grandes demandas na área da saúde devido ao conflito em andamento".

"Elas têm sido particularmente devastadoras para alguns civis palestinos. Seis bebês teriam morrido de hipotermia somente nos últimos dias", disse.

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"As mulheres, especialmente as grávidas, sofreram gravemente. Muitas mulheres deram à luz com pouco ou nenhum apoio, aumentando os riscos tanto para a mãe quanto para o bebê. Meu escritório foi informado de que recém-nascidos morreram como resultado direto dessa falta de cuidados", declarou.

Segundo Turk, "dirigir intencionalmente ataques contra hospitais e locais onde os doentes e feridos são tratados, desde que não sejam objetivos militares, é um crime de guerra".

"Se cometidos como parte de um ataque generalizado ou sistemático a uma população civil, esses atos também podem ser considerados crimes contra a humanidade", completou.

Já Rik Peeperkorn, representante da OMS na Palestina, alertou que sete por cento da população foi morta ou ferida desde outubro de 2023. Segundo ele, mais de 25% dos mais de 105 mil civis feridos em Gaza enfrentam "lesões que mudaram suas vidas".

Peeperkorn alertou que as evacuações médicas continuam extremamente lentas, com mais de 12.000 pessoas ainda esperando por tratamento no exterior. "No ritmo atual, levaria de cinco a dez anos para evacuar todos esses pacientes em estado crítico", alertou.

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