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'Perdi tudo, mas estou viva', diz brasileira vítima de chuva na Espanha

Gisele Rodrigues

Do UOL, em Valência (Espanha)

16/11/2024 05h30

Entre um alerta de chuva e outro, dois brasileiros que moram próximo à cidade de Valência, na Espanha, tentam recuperar as perdas que sofreram na última enchente, há 15 dias. Tempestades provocaram mais de 200 mortes no país e superaram, em apenas oito horas, o volume que caiu ao longo de três dias sobre o Rio Grande do Sul entre abril e maio.

"Perdi tudo. São anos de trabalho e economias jogados fora. Não sei por onde começar, mas uma coisa eu sei: Estou viva", afirma Jakeline Elquia, 47. Ela viu o salão de beleza que havia montado há pouco mais de um ano ser destruído pela lama no último dia 29 de outubro.

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"Trabalhei até as 18h, e a água não parecia ser um problema. De repente, a luz acabou e o caos começou. A água chegou rapidamente e invadiu minha casa e meu salão", conta Jakeline.

Natural de Araporã (MG) e moradora da cidade de Benetússer há quase 15 anos, ela havia investido todos os recursos no negócio. Foram 60 mil euros, entre valores que tinha guardado e a herança deixada pela mãe.

Não é a primeira vez que Jakeline precisa se recompor. Ela decidiu deixar o Brasil em 2001, após a morte de um amigo. Viveu em Londres e Madrid antes de chegar a Valência, em 2005. Em 2017, ao tentar comprar o primeiro salão na Espanha, acabou vítima de um golpe. Na pandemia, fechou um outro negócio, voltou ao Brasil, fez cursos de estética e decidiu voltar. Montou o novo salão em outubro do ano passado, a poucas quadras de casa.

"Foi um golpe muito duro. Estava começando a ver os resultados do meu esforço. O seguro não vai cobrir nem a metade do que perdi", lamenta.

Após a tragédia, passou a atender em salões parceiros. Amigos e conhecidos se juntaram e arrecadaram 400 euros para que ela compre novos equipamentos e recupere o negócio. "Vivi muitas dificuldades na vida, recomecei várias vezes. Não sei como, mas vou começar de novo. Talvez seja o destino me preparando para algo maior", disse.

Fui ao limite para salvar uma vida", diz empresário

Avisado por um aluno, o empresário catarinense Guilherme Toto, 36, foi correndo para a academia de jiu-jitsu que abriu há cerca de três meses na cidade de Paiporta para evitar que a enchente estragasse os equipamentos.

Ao lado do filho e do sócio, até tentou, mas acabou espantado com o intenso aumento do nível de água em poucos segundos. "Olhei para o lado e vi a água vindo como uma correnteza. Foi uma surpresa, não esperávamos que fosse subir tão rápido", afirmou.

Abrigado em uma casa vizinha, ouviu gritos de socorro. "Uma mulher que estava perto da academia se agarrou à porta, mas foi arrastada pela correnteza. Eu e meu sócio usamos lençóis, toalhas, qualquer coisa que pudesse ajudar", afirmou.

Ela estava desesperada, e nós também. Foram quase duas horas tentando tirá-la da água. Cada vez que achávamos que íamos conseguir, ela escorregava e caía de novo. Conseguimos resgatá-la apenas na terceira tentativa, mas foi muito difícil. Enquanto isso, eu ainda não sabia onde estava minha esposa, e o desespero foi grande. Guilherme Toto, 36, empresário e professor de jiu-jitsu

Thais estava ilhada em uma rotatória próxima a Paiporta, mas fora de perigo. "Demorou horas para ela voltar para casa. Eu realmente pensei que a tinha perdido", diz, aliviado.

Toto, a mulher e o filho se mudaram a Paiporta em janeiro deste ano, para escapar do clima frio e cinzento de Dublin, onde ele viveu por seis anos e construiu sua primeira academia. O espaço recém-inaugurado é seu segundo negócio na Europa. Ele agora conta com a ajuda de amigos para reconstruir o local.

A cidade foi considerada o epicentro da tragédia, com 60 mortos, segundo o jornal espanhol El Mundo —seis vitimas estavam em um asilo.

Em Valência foi registrada a chuva mais intensa em quase 30 anos. Foram 445,4 mm em 24 horas, segundo a Aemet (Agência Estatal de Meteorologia). Foi a maior precipitação em um dia na província desde 11 de setembro de 1996, quando caíram 520 mm em Tavernes de la Vall e 86 pessoas morreram. A média anual de precipitação na região é cerca de 500 mm, segundo a Metsul.

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