Expectativa por Trump marca os mil dias da guerra entre Rússia e Ucrânia
Do UOL, em São Paulo*
21/11/2024 05h30
A invasão da Rússia à Ucrânia completou 1.000 dias nesta semana em meio à dúvida sobre qual será o posicionamento dos EUA após a eleição de Donald Trump. Na noite de segunda-feira (18), horário de Brasília, os ucranianos lançaram mísseis de longo alcance fornecidos pelos norte-americanos após autorização do governo Joe Biden.
O que aconteceu
Especialistas militares dizem que a autorização dos EUA não será suficiente por si só para alterar o curso da guerra de 33 meses. Mudanças mais significativas na postura dos EUA são esperadas quando Trump retornar ao poder, tendo ele se comprometido a encerrar a guerra rapidamente, sem dizer como.
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O retorno do republicano, que tem criticado a escala da ajuda dos EUA, coloca em questão a frente ocidental unida contra Vladimir Putin. Porém, as falas do presidente eleito também aumentam a perspectiva de negociações para acabar com o conflito.
A Ucrânia perderá a guerra se os EUA cortarem o financiamento militar, garantiu o presidente ucraniano, Volodimir Zelensky, na terça-feira (19). "Se cortarem, perderemos... acredito que perderemos", disse o ucraniano à Fox News. "Vamos lutar. Temos nossa produção, mas não é suficiente para vencermos", acrescentou.
Em mais um movimento contrário a Trump, o governo Joe Biden afirmou, nesta quarta-feira (20), que irá fornecer minas terrestres a Kiev. A medida provocou reação de Moscou e protestos de ONGs que se opõem à utilização dessas armas, capazes de provocar muitos feridos.
Guerra em exaustão
Após rápidos avanços iniciais dos russos, os ucranianos conseguiram conter os agressores e fazê-los recuar, principalmente na fronteira norte. Também no sul, a Ucrânia conseguiu empurrar o Exército russo para o lado oriental do rio Dnipro, o maior do país.
No verão de 2024, Kiev chegou a lançar ataques bem-sucedidos em território russo, na região de Kursk. Nessas ações, os militares ucranianos foram, em parte, apoiados por grupos paramilitares.
Porém, a maioria do leste da Ucrânia - como Luhansk, Donetsk, Zaporizhia e Kherson - permanece sob controle russo. Além disso, Moscou manteve a anexação da península da Crimeia, ocupada em março de 2014. De modo geral, o front de guerra quase não se modificou nos últimos dois anos, sinalizando que esta está se tornando cada vez mais uma guerra de exaustão.
Volodymyr Zelenskiy disse na semana passada que a Ucrânia deve fazer o possível para encerrar a guerra no próximo ano por meios diplomáticos. No entanto, ele rejeitou enfaticamente qualquer discussão sobre um cessar-fogo antes de garantias de segurança adequadas serem fornecidas à Ucrânia.
Números do conflito
Em setembro, o Wall Street Journal estimou que cerca de 1 milhão de ucranianos e russos foram mortos ou feridos na guerra. A maioria dos mortos seria formada por soldados de ambos os lados, seguidos por civis ucranianos.
O governo da Ucrânia divulgou, em junho, que 12 mil civis morreram no conflito, sendo 551 crianças.
Com mais de 10 milhões de pessoas obrigadas a deixarem seus lares, a guerra desencadeou uma das maiores crises de refugiados do mundo. Até o momento, cerca de 6,7 milhões de refugiados ucranianos encontraram abrigo em países europeus. Cerca de 400 mil chegaram a esses países somente no primeiro semestre deste ano.
Dentro da Ucrânia, outros 4 milhões estão em fuga. Desde agosto, 170 mil deixaram suas casas no leste do país. "Inúmeras crianças estão continuando seus estudos online e perdendo a interação social e as experiências em sala de aula", disse a vice-alta comissária do Acnur (agência da ONU para refugiados), Kelly T. Clements.
A situação humanitária na Ucrânia se deteriorou drasticamente desde o início da guerra. Segundo o ENUCAH (Escritório das Nações Unidas para a Coordenação de Assuntos Humanitários), cerca de 40% da população depende de ajuda humanitária. Para atender às necessidades básicas dessas pessoas, o ENUCAH e a Acnur precisam de ajuda da ordem de US$ 4,2 bilhões.
*com informações da Reuters, DW e AFP