SpaceX e big techs devem ser beneficiadas pela volta de Trump à Casa Branca
Colaboração para o UOL
28/11/2024 05h30
O retorno de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos pode trazer mudanças à Nasa, um ambiente mais favorável para Elon Musk, dono da SpaceX, nas questões regulatórias envolvendo o foguete Starship, e decisões favoráveis ao Google, às criptomoedas e ao TikTok.
Ambiente favorável a Musk
Apoiador mais rico de Trump, Musk deve ter um ambiente regulatório mais favorável que beneficiaria suas seis empresas, incluindo a SpaceX e sua rede de satélites Starlink, segundo o site norte-americano Space.com. Além disso, o empresário pediu ao presidente eleito que contrate funcionários da SpaceX para trabalharem em cargos altos do governo - como o Departamento de Defesa - de acordo com o New York Times.
Frustrado com o ambiente regulatório que a SpaceX e outros provedores de lançamento enfrentam, Musk deve ser beneficiado diretamente nas questões regulatórias envolvendo o foguete reutilizável Starship, desenvolvido pela SpaceX para transportar pessoas e cargas para a Lua e Marte.
Casey Dreier, chefe de política espacial da Sociedade Planetária, disse que Musk pode ser beneficiado no desenvolvimento de seu foguete. "Não é irracional pensar que poderia haver dinheiro ou regime regulatório suspenso para beneficiar o ritmo de desenvolvimento da nave estelar", disse ele.
Gastos com a Nasa
Chefiando o DOGE (Departamento de Eficiência Governamental), Musk prometeu identificar 2 trilhões de dólares em economias do orçamento federal, que, segundo ele, garantirá que o dinheiro do contribuinte "seja gasto de uma boa maneira". Um desses cortes pode ser o SLS (Sistema de Lançamento Espacial) da Nasa, a peça central do programa Artemis que estreou em 2022.
O megafoguete, que não é reutilizável e pode ser lançado apenas uma vez a cada dois anos, custa cerca de 4,1 bilhões de dólares por lançamento - quatro vezes mais que as estimativas iniciais - tornando-o efetivamente inacessível para futuras missões Artemis.
Somado a isso, a cápsula da tripulação Orion do programa enfrentou problemas com seu escudo térmico. Uma auditoria recente determinou que a peça ameaça a segurança da tripulação e, com isso, o cronograma da meta da Nasa de pousar humanos na lua está previsto para ocorrer apenas em setembro de 2026.
O primeiro mandato de Trump, de 2017 a 2021, incluiu o início do programa Artemis para retornar humanos à lua pela primeira vez desde a era Apollo. O próprio Trump liderou o estabelecimento da Força Espacial dos Estados Unidos, o primeiro novo serviço militar criado desde 1947, que ele reivindicou como uma de suas realizações de maior orgulho em seu primeiro mandato.
Com a SpaceX a caminho de reduzir o custo de um único voo da Starship para menos de 10 milhões de dólares, o SLS e a arquitetura mais ampla do programa Artemis devem receber uma análise mais aprofundada, mesmo com o administrador associado da Nasa, Jim Free, pedindo a Trump que mantenha os planos atuais.
John Logsdon, fundador do Instituto de Política Espacial na Universidade George Washington, disse que o espaço era uma "área de estabilidade política" no primeiro mandato de Trump. "Com Elon Musk provavelmente em uma posição de influência, esse não deve ser o caso desta vez".
Corrida à Marte
A China adiantou seu cronograma para trazer amostras de Marte para a Terra, talvez já em 2031, o que seria bem antes do proposto pelo programa conjunto entre a Nasa e a Agência Espacial Europeia na missão Mars Sample Return (Retorno de Amostra de Marte, em tradução livre).
O programa, que tem uma arquitetura de lançamento e pouso totalmente independente para Artemis, está no meio de uma grande reformulação por custos exorbitantes e estouros de cronograma. A SpaceX é uma das sete empresas que enviaram uma proposta à NASA delineando um plano de missão mais simples usando a Starship.
Casey Dreier teme um "futuro muito sombrio" para a missão caso vire um projeto independente gerenciado pela Nasa. Uma alternativa lógica e econômica é Musk incluir de alguma forma a Starship no programa, um movimento que o ajudaria a avançar em seu objetivo de vida de ajudar a humanidade a colonizar Marte.
A agência ainda não se manifestou sobre o que um segundo mandato de Trump pode significar para a Nasa, já que muitas incógnitas permanecem. Uma porta-voz da NASA disse à Reuters no dia 8 de novembro que "não seria apropriado especular sobre quaisquer mudanças com a nova administração".
Com as crescentes influências de Musk sobre o governo federal, no entanto, "a ideia de enviar humanos a Marte pode começar a ser vista como um valor conservador ou de direita", disse Dreier. "Embora não haja nenhuma razão inerente para ser, induziria uma rejeição automática pelo partido oposto porque será visto como um aspecto definidor da direita".
Ceticismo com a divisão do Google
Trump deve reduzir parte das políticas antitruste adotadas durante o governo do presidente norte-americano, Joe Biden, incluindo a tentativa da gestão anterior de desmembrar o Google, da Alphabet, por causa de seu domínio nas buscas online, afirmam especialistas.
Espera-se que Trump dê continuidade aos processos contra grandes empresas de tecnologia, vários dos quais começaram em seu primeiro mandato, mas seu recente ceticismo em relação a uma possível divisão do Google destaca o poder que ele terá sobre como esses processos serão conduzidos.
Atualmente, o Departamento de Justiça (DOJ, na sigla em inglês) dos EUA está conduzindo dois processos anti-monopólio contra o Google: um sobre buscas na plataforma e outro sobre tecnologia de publicidade, bem como um processo contra a Apple.
O DOJ apresentou uma série de possíveis soluções no caso do processo de busca, incluindo fazer com que o Google se desfaça de partes de seus negócios, como o navegador Chrome, e encerre os acordos que o tornam o mecanismo de busca padrão em dispositivos como o iPhone da Apple.
Mas o julgamento sobre essas correções não ocorrerá até abril de 2025, com uma decisão final saindo provavelmente em agosto. Isso dá a Trump e ao DOJ tempo para mudar de rumo, se assim desejarem, disse William Kovacic, professor de direito da Universidade George Washington.
Criptomoedas
É quase certo que Trump vá agir em favor dos criptoativos, depois que magnatas das moedas digitais contribuíram generosamente com a sua campanha. Em seu primeiro mandato, Trump chamou os criptoativos de fraude, mas depois mudou radicalmente de posição, chegando a lançar sua própria criptomoeda.
O republicano deve tentar afastar Gary Gensler, cético em relação às criptomoedas, que preside a comissão responsável pela regulação dos mercados financeiros e é detestado pelas empresas do setor.
TikTok
O destino do TikTok também pode mudar. Segundo uma lei promulgada por Biden, a empresa chinesa Bytedance, dona do aplicativo, tem até janeiro para se desvincular dele nos Estados Unidos.
Mas Trump, que havia tentado proibir a plataforma, agora se opõe a isso, por considerar que apenas favoreceria o Instagram e o Facebook.
Microchips
O presidente eleito também falou em derrubar a lei Chips, sobre esses componentes eletrônicos essenciais, fabricados, principalmente, na Ásia. Trump buscará substituir os subsídios de Biden a essa indústria por tarifas agressivas, a fim de forçar as empresas a fabricá-los nos Estados Unidos.
O analista Jack Gold alertou para esse enfoque, ressaltando que "as tarifas são uma sanção, e não um incentivo, e não serão suficientes para recuperar a produção americana de microchips".
*Com informações de AFP e Reuters