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Batalha do século 7 no Oriente Médio é revelada por satélite espião dos EUA

O campo da batalha de al-Qadisiyyah, que aconteceu entre soldados muçulmanos e o Império Sassânida no ano 636 ou 637 d.C Imagem: U.S. Geological Survey/Divulgação/Universidade de Durham

Colaboração para o UOL

02/12/2024 05h30

Arqueólogos das universidades de Durham, no Reino Unido, e Al-Qadisiyah, no Iraque, encontraram o campo da histórica batalha de al-Qadisiyyah (ou Cadésia) em imagens feitas por um satélite espião dos EUA.

Como as imagens foram obtidas

O monitoramento do Oriente Médio foi feito na Guerra Fria. Os registros eram parte de documentos secretos do governo americano dos anos 1970, que foram abertos e tornado públicos recentemente por não representarem mais interesses estratégicos. Segundo a pesquisa, publicada no periódico Antiquity em 12 de novembro, elas foram realizadas pelo sistema KH-9 Hexagon.

Também conhecido como "Big Bird", o KH-9 Hexagon era parte de uma série de satélites de reconhecimento de campo lançada pelos EUA entre 1971 e 1986. Eles serviam para monitorar as capacidades militares dos soviéticos na região, segundo documentos do NRO (National Reconnaissance Office, órgão de espionagem do governo americano). Apenas um dos 20 satélites lançados não foi bem-sucedido em sua missão e explodiu em 1986.

O campo da batalha de al-Qadisiyyah, que aconteceu entre soldados muçulmanos e o Império Sassânida no ano 636 ou 637 d.C. (data é imprecisa) Imagem: Divulgação/U.S. Geological Survey/W.M Deadman

Por que ele espionava o Iraque? Documentos públicos do Departamento de Estado e da CIA (Agência Central de Inteligência, na sigla em inglês) de 1972 revelam que agentes avaliavam que o Iraque mantinha laços de amizade com os soviéticos, era "frio" em relação a seus países vizinhos como o Irã e os Estados árabes, se opunha à paz entre árabes e israelenses e era hostil aos Estados Unidos.

O campo de batalha

Os pesquisadores estudavam originalmente a Darb Zubaydah, uma rota de peregrinação a Meca que parte de Kufa, no Iraque. O estudo era parte do projeto Eamena (Arqueologia Ameaçada no Oriente Médio e Norte da África, na sigla em inglês) conduzido pelas universidades de Oxford, Leicester e Durham, no Reino Unido. A área é candidata ao título de Patrimônio da Humanidade pela Unesco.

Ao analisar pontos com estações de peregrinos na rota, os estudiosos perceberam que elas correspondiam a descrições de textos históricos de locais onde famosas batalhas aconteceram durante a conquista islâmica do Oriente Médio. Uma das mais importantes dela é a batalha de al-Qadisiyyah, que ocorreu entre os anos de 635 e 638 d.C. (datas divergem, segundo historiadores). O conflito terminou com uma vitória crucial para os muçulmanos na conquista de territórios além da Arábia —que pertenciam ao Império Sassânida, o último império persa.

A trincheira do campo da batalha de al-Qadisiyyah Imagem: Creative Commons/J. Jotheri

Imagens foram comparadas. Inicialmente, os pesquisadores compararam os relatos dos textos históricos com imagens do Google Earth e do Bing Maps da última parada na rota de peregrinação. Por meio delas, eles acharam uma muralha dupla, possivelmente um canal, que ligava uma fortaleza a um acampamento. Foi então que decidiram recorrer a imagens mais precisas, as dos satélites espiões hoje nos arquivos do U.S. Geological Survey.

Diversas construções descritas em textos, como um fosso, puderam ser visualizadas nas imagens do "Grande Pássaro". Assim, os pesquisadores de Durham recorreram a um time de arqueólogos da Universidade de al-Qadisiyah, no Iraque, que realizaram o trabalho de campo e confirmaram a teoria —a batalha aconteceu a 30 km ao sul de Kufa, um local que não havia sido precisamente identificado em quase 1.400 anos.

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