Justiça mantem prisão de prefeito de Istambul e eleva tensão na Turquia


Colaboração para o UOL, em Campinas (SP)*
23/03/2025 11h18
A Justiça da Turquia ratificou hoje a prisão do prefeito de Istambul, Ekrem Imamoglu, principal rival do presidente Recep Tayyip Erdogan, sob a alegação de "corrupção". O Imamoglu já estava detido desde a quarta-feira passada por "liderar uma organização criminosa".
A prisão eleva ainda mais a tensão no país, que vive uma onda de protestos desde então. Mais de 340 pessoas já foram presas em atos que tiveram uma escalada de violência após o governo de Erdogan determinar a atuação da polícia.
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O que aconteceu
Ekrem Imamoglu é acusado de liderar uma "organização criminosa". Ele está sendo processado em duas investigações, uma por "corrupção" e outra por "auxiliar um grupo terrorista", o PKK (Partido dos Trabalhadores do Curdistão). Defensor da oposição turca, o popular prefeito de Istambul tem sido até agora a principal ameaça ao presidente Erdogan. Nos últimos anos, os tribunais têm instaurado processos contra ele. O partido, o CHP (Partido Republicano do Povo, social-democrata) é a principal força de oposição do país. Ministro da Justiça, Yılmaz Tunç tentou negar qualquer suspeita de que as acusações contra Imamoglue outros do CHP da oposição eram politizadas.
Desde quarta-feira, quando o prefeito foi detido, manifestantes foram às ruas em Istambul, Ancara e Esmirna, as principais cidades do país, e em mais de dois terços das províncias da Turquia. "Não vou desistir", prometeu Ekrem Imamoglu em uma mensagem publicada hoje na rede social "X", dizendo que "tudo ficará bem".
Muitas manifestações foram pacíficas, até anteontem, quando pelo menos 340 pessoas foram detidas em Istambul após repressão policial. O governo Erdogan mandou que os protestos fossem encerrados e chamou as ações de ilegais. As ações de sexta foram as mais violentas até então, com acusações mútuas de agressão, pedras e gás lacrimogêneo. Em outros protestos, policiais usaram canhões d'água para dispersar os manifestantes, compostos, na maioria, por estudantes.
Após o anúncio da prisão, novos protestos voltaram a ser registrados em Istambul e na capital, Ancara. Ainda não foi disponibilizada nenhuma informação sobre prisões ou feridos.
Entenda o histórico
Imamoglu assumiu a prefeitura de Istambul em 2019, tirando o governo do partido governante AKP (islâmico-conservador). Essa foi considerada uma derrota "humilhante" ao presidente Erdogan, que foi prefeito da capital econômica na década de 1990. Já em 2023, uma sentença de mais de dois anos de prisão por "insultar" membros do Conselho Eleitoral Superior, da qual ele recorreu, o afastou da eleição presidencial vencida por Erdogan, que chegou ao poder em 2003 como primeiro-ministro.
Reeleito por uma maioria esmagadora no ano passado como chefe da maior cidade da Turquia - e, a mais importante e a mais rica, com quase 16 milhões de habitantes - Imamoglu havia surgido até agora como o candidato presidencial natural do CHP. O partido do prefeito, que há meses denuncia o "assédio judicial" contra ele.
* com informações da RFI