Leonardo Sakamoto

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Opinião

Trump 'ajuda' Moraes e constrange Bolsonaro ao elogiar urna brasileira

O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu uma ajuda involuntária ao ministro Alexandre de Moraes, relator da denúncia por tentativa de golpe de Estado no STF, e causou constrangimento a Jair Bolsonaro ao elogiar a urna eletrônica brasileira em um decreto assinado por ele nesta terça. O ex-presidente e aliados se notabilizaram por afirmar que tanto o equipamento quanto o sistema de votação são frágeis e alvos de fraude.

O reconhecimento foi lembrado quando Moraes, na manhã desta quarta, tratava de casos de ataques ao sistema eleitoral e à urna eletrônica em meio ao seu voto. Lembrado do decreto pela ministra Cármen Lúcia, ele leu trecho do texto do governo norte-americano, no qual Brasil e Índia são usados como exemplo de segurança no registro da biometria de eleitores para evitar fraudes.

O decreto tem como objetivo, segundo a Casa Branca, evitar que pessoas sem cidadania possam votar, apesar de ser mínimo o número de casos nesse sentido. A ação vai ao encontro do discurso de Trump, que defende que as eleições de 2020, quando perdeu, foram fraudadas.

"Apesar de ter sido pioneiro em autogoverno, os EUA agora falham em aplicar proteções eleitorais básicas e necessárias empregadas por nações modernas e desenvolvidas, assim como por aquelas ainda em desenvolvimento. Índia e Brasil, por exemplo, estão vinculando a identificação de eleitores a um banco de dados biométrico, enquanto os EUA em grande parte dependem da autodeclaração de cidadania", diz o texto. Por aqui, os dados são colhidos previamente pela Justiça Eleitoral e, depois, as digitais precisam ser usadas pelos eleitores para votar.

A situação é bastante peculiar, para dizer o mínimo, pois a família Bolsonaro confia que Trump vai pressionar o STF e o Estado brasileiro para evitar uma punição ao ex-presidente. Inclusive, o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP) tirou uma licença do mandato para ficar nos Estados Unidos conspirando contra a democracia brasileira ao pedir um help às autoridades de lá para emparedar nossas instituições.

Em uma de suas articulações, o Comitê de Assuntos Judiciários da Câmara dos EUA aprovou um projeto de lei que prevê deportação e veto de entrada a qualquer estrangeiro que, na opinião do governo norte-americano, atue contra a liberdade de expressão. Na prática, a proposta foi criada para impor sanções a Alexandre de Moraes, que suspendeu plataformas digitais instaladas no Brasil que se negaram a cumprir a lei e a obedecer a Justiça em território nacional.

O projeto ainda precisa ser aprovado no plenário da Câmara e do Senado e tem um longo caminho pela frente, mas já vem sendo usado como ferramenta de discurso de bolsonaristas, do bilionário Elon Musk (que detesta Moraes devido à suspensão temporária do X por aqui) e da gestão Donald Trump (que pressiona para que empresas norte-americanas tenham privilégios em outros países).

A citação do Brasil no decreto que muda regras de votação lembra que a prioridade do governo Trump são seus próprios interesses. Se as narrativas entregues pela família Bolsonaro puderem servir a esses interesses, fomentando protecionismo e privilégios de empresas norte-americanas, por exemplo, serão usadas. O que reforça que o Brasil pode perder receitas e empregos devido a um grupo de brasileiros que não aceitou a derrota nas eleições e tentou um golpe de Estado.

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL