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Igreja já teve 3 papas ao mesmo tempo; entenda o 'Grande Cisma do Ocidente'

Papa Clemente 7º (à esquerda), um dos três papas que assumiram o pontificado durante o Grande Cisma - De Agostini Picture Library/Getty Images Papa Clemente 7º (à esquerda), um dos três papas que assumiram o pontificado durante o Grande Cisma - De Agostini Picture Library/Getty Images
Papa Clemente 7º (à esquerda), um dos três papas que assumiram o pontificado durante o Grande Cisma Imagem: De Agostini Picture Library/Getty Images

Do UOL, em São Paulo

24/04/2025 05h30

O Papa Francisco morreu aos 88 anos. O Vaticano agora entra em conclave para escolher seu sucessor. Uma curiosidade da Igreja Católica é que ela já chegou a ter três pontífices ao mesmo tempo: Clemente 7º, Urbano 6º e João 23, de Pisa.

Igreja Católica fragmentada

O conclave nem sempre foi pacífico ou único. Na história real da Igreja Católica, já houve momentos em que mais de um papa ocupou o cargo simultaneamente. O episódio ficou conhecido como o "Grande Cisma do Ocidente". Com isso, três pontífices chegaram a liderar ao mesmo tempo.

Um conflito entre rei e papa marcou o início da crise. Em 1296, o rei Felipe 4º, da França, tentou aumentar os impostos da Igreja, o que levou a um embate com o papa Bonifácio 8º.

A repressão ao papa Bonifácio teve consequências graves. O rei o acusou de heresia e organizou um ataque contra ele; Bonifácio sobreviveu, mas morreu pouco depois.

Com a influência francesa, o papado se mudou para a França. Após a morte de Bonifácio, o rei francês favoreceu a eleição de Bertrand de Got, que se tornou o papa Clemente 5º. Por segurança, o novo pontífice instalou a sede papal em Avignon em 1309, longe da instabilidade de Roma. Assim, a cidade se tornou o centro do cristianismo. Entre os séculos 14 e 15, sete papas se estabeleceram ali.

Avignon foi transformada com o novo status. A cidade cresceu, ganhou muralhas, mosteiros e o imponente Palácio dos Papas, construído sob o papado de Bento 12. Além disso, o episódio estreitou laços com a monarquia francesa e, durante esse período, a Igreja acumulou riqueza com impostos e se aproximou politicamente da França.

Palácio dos Papas, em Avignon Imagem: UCG/Getty Images

Roma ficou sem papa por décadas. De 1309 a 1377, os pontífices permaneceram em Avignon, enquanto a sede romana ficou desocupada.

Os três papas

Tentativa de retorno à Roma desencadeou mais uma crise. O papa Gregório 11, que assumiu o papado em 1370, decidiu voltar à capital italiana, mas sua morte em 1378 desencadeou uma crise sucessória.

A crise levou à divisão da Igreja. Com a morte de Gregório, Bartolomeu Prignano foi eleito como papa Urbano 6º, mas sua eleição foi contestada.

Uma cisão dentro do próprio clero aconteceu. Cardeais franceses alegaram coação no conclave e elegeram um segundo papa: Clemente 7º, em Avignon.

Dois papas passam a disputar a liderança da Igreja. A cristandade se dividiu entre os apoiadores de Urbano 6º, em Roma, e Clemente 7º, na França.

Os sucessores de Urbano (Bonifácio 9º) e Clemente (Bento 13) continuaram a divisão. Um terceiro papa, em Pisa, disputou o protagonismo: Alexandre 5º, posteriormente substituído por João 23 (nascido Baldassare Cossa, considerado antipapa).

O Grande Cisma do Ocidente se estendeu por 39 anos. Ambos os papas se excomungaram, criando um cenário de rivalidade e confusão religiosa durante quase quatro décadas, com sucessores perpetuando a divisão.

Tentativas de resolver o cisma envolviam reuniões de alto nível. Em 1409, o Concílio de Pisa tentou depor os dois papas e eleger um terceiro, mas acabou gerando ainda mais confusão. Nessa época, foi eleito em Pisa João 23. Chamado de Antipapa", ele foi deposto e aprisionado em 1415.

Concílio de Constança trouxe resoluções definitivas à crise. Entre 1414 e 1418, os três papas foram depostos ou abdicaram, e Martinho 5º foi eleito de forma consensual, encerrando o Grande Cisma. Com isso, a unidade da Igreja foi restaurada, e a importância dos concílios foi reforçada para prevenir futuras crises.

Como funciona o conclave nos dias de hoje?

A eleição acontece dentro da Capela Sistina, no Vaticano. O voto é secreto e depositado em uma urna. O número de votos do escolhido não é divulgado.

Os cardeais são proibidos de qualquer tipo de comunicação com o exterior durante o conclave. Eles não podem enviar mensagens eletrônicas ou alimentar suas contas nas redes sociais, por exemplo.

No início do conclave, os cardeais fazem um juramento de silêncio. Além dos cardeais, todos os funcionários do serviço que têm acesso a eles também deverão jurar que manterão segredo sobre tudo o que tiver relação com as reuniões, sob pena de excomunhão.

Os cardeais passam em cortejo da Capela Paulina até a Sistina. Em seguida, as portas são fechadas, as chaves retiradas, e o isolamento é assegurado pelo cardeal camerlengo no interior e pelo prefeito da Casa Pontifícia no exterior.

Podem votar todos os cardeais com menos de 80 anos. O número máximo de cardeais eleitores no processo é de 120.

Diversas nacionalidades participam do pleito. Não são apenas cardeais do Vaticano ou da Itália que compõem a eleição. Atualmente, há cardeais eleitores do México, da Índia, da França, da Ucrânia e do Brasil.

Para ser eleito, um cardeal precisará de pelo menos dois terços dos votos. Os cardeais não têm direito de se abster nem de votar em si mesmos.

A tradição diz que o primeiro dia tem apenas uma votação. Na sequência, acontecem duas votações matutinas e duas vespertinas na Capela Sistina. Duas vezes ao dia, uma depois de cada rodada, as cédulas são queimadas.

Não há um prazo específico para o conclave. Segundo a BBC, uma das maiores eleições da história foi a do Papa Gregório 10º, em 1268. Na ocasião, a escolha do papa durou quase três anos. Na história moderna, os conclaves já não demandam tanto tempo. A eleição do papa Francisco, por exemplo, durou dois dias.

Um repique de sinos de São Pedro se somará ao anúncio do evento, e assim tudo será mais claro para a imprensa e católicos que seguirão o evento. Se depois do terceiro dia nenhum candidato alcançar o mínimo exigido, a Constituição estabelece uma pausa de 24 horas, que será dedicada "à oração, ao colóquio (...) e a uma breve exortação espiritual".

Se ocorrerem outras sete votações inúteis, será feita outra pausa de um dia. O último ato do conclave é a pergunta que três cardeais fazem ao eleito: "Aceita sua eleição como Sumo Pontífice?". Após a resposta afirmativa, segue outra pergunta: "Quo nomine vis vocari?" ("Como quer ser chamado?").


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