Opinião: "Playboy" finge que sua nudez é progressista e cool
A tentativa da "Playboy" de abandonar fotos de mulheres nuas não durou muito. A revista publicou sua primeira edição sem nus em toda sua história de 63 anos em março de 2016 e, somente um ano depois, está voltando atrás. Cooper Hefner, filho do fundador Hugh Hefner e novo diretor criativo da empresa, tuitou na segunda-feira que a nudez estará de volta à "Playboy" em sua edição de março/abril de 2017.
"Eu serei o primeiro a admitir que a forma como a revista retratava a nudez era datada, mas removê-la inteiramente foi um erro", disse o tuíte de Hefner, juntamente com uma foto sua dando um sorrisinho. "A nudez nunca foi um problema, porque a nudez não é um problema. Hoje, estamos recuperando nossa identidade e redescobrindo quem somos".
Hefner assumiu seu lugar na chefia da equipe de criação da revista em outubro, depois de meio ano de edições que ainda mostravam corpos nus de mulheres, mas com seus genitais e mamilos cobertos estrategicamente por partes do corpo mais inócuas e objetos. A nova "Playboy" trará de volta os mamilos mas deixará as vulvas de fora, um distanciamento da política da publicação pré-2016.
Quando a "Playboy" anunciou sua intenção de banir a nudez em outubro de 2015, o CEO da época, Scott Flanders, culpou a internet pela mudança. "Agora você só precisa de um clique para acessar de graça qualquer ato sexual imaginável", ele contou ao "New York Times". "Então ficou ultrapassado, nessa conjuntura". Remover os genitais expostos da revista permitiu que o produto fosse colocado de forma mais proeminente nas bancas de jornais e encontrasse leitores em países e bases militares que não permitem a venda de pornografia. A decisão também poderia ser entendida como uma progressão natural de um veículo que começou em uma época em que seios expostos poderiam ser um ato desafiador de liberação sexual. Agora, em uma era de positividade sexual baseada em consentimento e uma população crescente de jovens de identificação homossexual, a descomplicada objetificação sexual das mulheres tem um público-alvo limitado.
A nova versão da "Playboy" com nus está tentando se vender como uma iniciativa de classe, pseudo-esclarecida, que vê a nudez como uma parte linda e natural da existência humana, e não somente um auxiliar para a masturbação. A modelo da capa deste mês, Elizabeth Elam, é fotografada com uma maquiagem natural, despenteada, em uma pose tímida que não remete imediatamente a um ato sexual. Em uma entrevista em vídeo, Elam responde se fica excitada com uma série de coisas aleatórias, incluindo Jonah Hill, meias soquete e pizza de pepperoni. A ONG de planejamento familiar Planned Parenthood e "homens autoproclamados feministas" ganham sua aprovação.
Esse parece ser um leve desvio em relação à "Playboy" do passado, cujas capas eram invariavelmente habitadas por cabelos longos e brilhantes, seios falsos, luvas arrastão sem dedos e mulheres só de calcinha esfregando-se nos quadris umas das outras. Modelos mordiam coisas que não eram para ser mordidas e montavam em qualquer coisa que suas pernas conseguissem envolver. A edição de agosto de 2010 prometia um tributo à série "Mad Men" no formato de "uma homenagem de oito páginas a martinis gelados e secretárias peladas", que seria meio como celebrar "Réquiem para um Sonho" com uma série de fotos de mulheres cheirando cocaína e fazendo sexo anal.
A Playboy 2.0 versão nua parece estar um pouco mais antenada com a sutileza e a ironia, uma vez que sua estética da sensualidade mudou ligeiramente, passando de um ideal da classe trabalhadora do interior dos Estados Unidos para a beleza "natural" menos alterada preferida pelas, digamos, elites das costas. Em nenhum outro lugar isso fica mais claro do que na foto de Elam usando uma camiseta arregaçada. A iluminação e a cerca de madeira de demolição remetem a um filtro do Instagram, mas os seios parcialmente aparentes lembram a Mansão da Playboy.
Como parte de sua transformação, a "Playboy" tirou seu slogan "entretenimento para homens" para se abrir a uma maior variedade de leitores, e está tentando se alinhar com ideologias de aceitação da nudez como a campanha "libere o mamilo", proclamando na capa de março/abril que "nudez é normal".
O problema é que #nudezénormal já foi reivindicada pelos nudistas. Os movimentos pela aceitação social da nudez basicamente colocaram a aceitação ao próprio corpo em seus centros, afirmando que todos os corpos têm um direito igual de serem expostos e que a nudez não deveria ser automaticamente sexualizada. Esse etos se opõe diretamente à missão da "Playboy", que é expor um espectro estreito de corpos visando a excitação sexual. Corpos nus são normais e não necessariamente sexuais; uma modelo magérrima agarrando seus seios em frente a uma lareira não é.
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